Minha cabeça começa a doer, as luzes da sala só pioram o desconforto, fecho os olhos e de repente escuto uma advertência:
- Sophia Sain’t Louise!
Abro os olhos. O professor está na minha frente me fulminando com os olhos. Não presto atenção no que ele diz, ou tento me justificar. Ouço os murmúrios no fundo da classe, tento ignorar até que alguém diz claramente:
- Sophia louca!
O professor se vira e continua escrevendo no quadro negro, fingindo não ter escutado o comentário. Tudo que eu queria era desaparecer. Eu tento ignorar o fato de ser a criatura esquisita da classe, mas às vezes os comentários me afetam para valer.
Sem pensar e com a cabeça explodindo de dor, eu me levanto e abro a porta da sala. O professor para o que está fazendo, começa o sermão:
- Seu comportamento é inadmissível.
Eu dou de ombros e deixo-o falando sozinho, ele esbraveja sobre a diretoria, mas já é tarde demais. Estou fugindo dali. Ao cruzar o pátio eu vejo um segurança na porta. Ele se distrai com a explosão de uma lâmpada no momento exato em que eu estou saindo. Eu corro. Sinto o vento bater no meu rosto, por hoje estou livro.
Ao chegar a casa, vejo minha mãe me aguardando de braços cruzados com uma expressão séria.
- Você está querendo ser expulsa de mais uma escola?
Dou de ombros e digo:
- Não dou à mínima.
- Sophia! Faltam seis meses só, por favor, tente se comportar.
Eu dou de ombros novamente e me fecho no meu quarto. Olho para o teto estrelado e sem aguentar mais começa a chorar. Meu coração parece chumbo.
Mais uma vez eu falhei. Sempre tente me misturar com os alunos, parecer uma adolescente normal, me comportar nas aulas, ou mostrar algum interesse nelas, porém é muito difícil quando se é tão diferente quanto eu. Tem alguma coisa muita diferente em mim. Não na aparência meu cabelo preto contrasta com a minha pele pálida, meus olhos são castanhos. Sou comum, mas internamente tem alguma coisa muito estranha.
As coisas mais improváveis acontecem comigo. O tipo de coisa que me domina, como uma força obscura tentando me levar para o lado negro. Ai então eu perco o controle.
O despertador tocou às seis horas, me levantei da cama. Tomei um café depressa e fui correndo para escola cheguei em cima da hora.
Fui para o fundo da sala, vi os olhos de todos sobre mim. A professora de biologia cumprimentou a classe e olhou diretamente para mim.
-Hoje precisamos de uma voluntária, Sophia?
- Não, eu não...
- Eu insisto, venha até aqui.
Levantei-me, escutei as risadas, a professora pediu silêncio, fui até ela.
- É só uma gota de sangue, faremos um teste para descobrirmos da nossa colega.
Estendi a mão, enquanto ela colocava luvas, eu já sabia de cor o sistema ABO, por isso nem estava me importando com aquele procedimento.
- Ai!
Ela furou o meu dedo, e em seguida colocou o sangue em dois recipientes, em alguns minutos ela disse:
- Vou explicar novamente como funciona o experimento. Vejam só a Sophia é do tipo sanguíneo AB!
- AB. Eu repeti. – Mas, eu não posso ser AB!
- É sim Sophia.
- Licença, eu acho que não estou passando bem.
Fui para enfermaria, em seguida ligaram para minha mãe, que veio me buscar. Ao chegar a casa eu a encarei. Ela retribuiu o meu olhar. De repente a luz se apagou. O vaso da minha frente tremeu e em seguida caiu se espatifando.
Minha mãe ergueu a mão:
- Já chega!
Cruzei os braços e gritei:
- Quanto tempo mais ia esperar para contar que você não é minha mãe!
A porta bateu com força, as cortinas começaram a balançar furiosamente.
- Se você acha que destruindo a nossa casa, vai adiantar alguma coisa.
- Você sabe? Digo chocada.
- É claro que sim. Acho que chegou a hora de termos uma conversa séria.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a campainha toca.
Eu vou até a porta e a abro.