Um Milagre Parte 13

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1,2,3,4,5.
1,2,3,4,5.
Ana Paula acordou ouvindo aquela voz familiar repetindo os números de forma ritmada.

Abriu os olhos e tateou com a mão o lado da cama onde deveria estar o marido. A cama estava ainda quentinha, mas sem o corpo do esposo para ela tocar.

Ergueu a cabeça e percebeu que estava coberta pelo edredom. Demorou para se situar em como havia parado ali na cama e naquele estado.

Sorriu ao apertar os olhos e ver que Rogério. De livre e espontânea vontade estava se exercitando com os pesos do outro lado do quarto. Havia sugerido isso a ele certa vez, comprado até os pesos... Ele não quis. Ainda bem que mudou de ideia.

Estava sem a camisa preta habitual e era possível ver o movimento dos bíceps, dos músculos e das veias surgindo e sumindo a cada vez que ele erguia e descia o peso.

Ela sorriu e Rogério olhou para a esposa. Percebendo o que aqueles lábios delicados, formando um espetacular e alegre sorriso queriam dizer. Sentiu-se levemente orgulhoso.

— Por que me olhas assim?
— Você é um homem muito bonito. - Rogério sorriu alto e continuou se exercitando.
— En serio?
— Você sabe que é verdade. - Ela se ergueu cobrindo o corpo com o lençol. O fino tecido da camisola nao evitava que ela sentisse um pouco de frio. - que horas você acordou?
— Seis da manhã. - Ela se levantou devagar tirando o lençol de cima do corpo. Rogério continuou se exercitando e olhando-a nesse detalhe. A camisola azul celeste combinava com o tom de pele dela. Engoliu em seco pensando que Paula também era uma mulher muito bonita.

A enfermeira se levantou da cama e enfiou os pés na pantufa. Caminhou até ele e não resistiu. Teve de acariciar os braços dele, como se não tivesse feito isso a noite. Beijou a nuca do marido e Rogério não teve remédio a não ser largar os pesos no chão, virar a cadeira de rodas na direção dela e buscar o rosto da amada para um beijo.

Assim era difícil se manter em forma...

Ana Paula quis levar Marquinhos na escola e aproveitar a ida a cidade para se voluntariar na clínica. Ernesto disse que não havia problema algum dela trabalhar nesses primeiros meses. Só tinha que ter bastante cuidado, somente isso.

Rogerio concordou com a ideia que ela sugeriu, enquanto os dois estavam entre os lençóis. Esperta! Não tinha como negar algo a ela assim. Também não faria isso jamais. Ela tinha uma profissão maravilhosa e iria contribuir muito para toda a comunidade.

A única preocupação maior de Rogério eram os negócios. O resto ia muito bem... O filho na escola, o bebezinho crescendo saudável, a esposa e ele numa bolha de amor. Tudo ia muito bem, menos a fazenda. Esperava um sinal do povo de Singapura sobre os negócios que iriam firmar. Disso dependiam muitas coisas.

Terminava de revisar um relatório financeiro, quando Maria entrou correndo pela porta da frente do escritório. Ela disse que não teve como impedir o homem de entrar.

Quem conseguiria? Martin passou na frente de Maria e ergueu o queixo para Rogério, aquele mesmo ar altivo e tranquilo. Odiava isso nele. O atrevido visitante, anunciou.

—Preciso conversar contigo, senhor Monteiro.

— Maria pode nos deixar. - Disse ele sem tirar os olhos do intruso.

—Mas Rogério...

—Maria! - A idosa entendeu o recado e saiu da sala, agora pela porta que dá acesso a casa. - O que queres aqui?

—Tratar de negócios! - Martin se sentou na cadeira de frente para Rogério e o fazendeiro lamentou não ter mais o chicote. Ana Paula desapareceu com ele.
— Não tenho negócios a tratar contigo.
—Tem sim. Tem algo que te pertence que me interessa muitíssimo. - Martin mirou firme os olhos do fazendeiro. Teria Ana Paula contado a ele sobre o encontro dos dois?
—Ah é, o que? - Martin sorriu pensando se dizia ou não. Qual seria a reação de Rogério? Sabia que a proposta feita a Ana Paula não podia ser a mesma para Rogério. O fazendeiro ia preferir matá-lo ali naquela sala a trocar a esposa por dinheiro. Porém, não era só isso que Martín tinha em mente, havia muito mais.

Um Milagre - A Que Não Podia AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora