Entre as lajotas da pequena cozinha quadriculada, a garota de vestido vermelho vibrante, esfregava os pratos.
...
Todo lugar possui uma sinfonia única. independentemente de tudo,sempre possui.
Mas naquele lugar... era diferente.
Amy sabia muito bem disso.
Não somente esse fato a apavorava, mas a tremenda desolação e angustia a deprimia.
Na casa, a cozinha era pequeníssima e suja castigada pelo tempo. Casa onde as paredes gemiam freneticamente quando o vento as balançava, onde costumeiras, as janelas sempre sussurravam. O piso era casto, e também gemia.
Longe de toda a civilização, onde as árvores se espalhavam e formavam um imensidão verde que não parecia ter fim, que chegavam cobrir certas partes da casa, juntamente com o musgo verde que se erguia por entre a madeira. Lugar onde tão animadamente os pássaros também cantavam. Ela sentia como se todas as coisas naquele lugar, possuísse sua própria voz. Sua própria vida.
Então não, Amy não estava sozinha.
Queria não acreditar nisso.
Mas era inevitável, apesar de tudo que lhe disseram...
Lhe disseram ser irreal, coisa de sua mente, a acusaram de coisas terríveis... Mas ela sabia, ela que estava vivendo tudo aquilo, ela acreditava em seus olhos.
Amy estava pendendo ao meio de uma corda bamba, entre o real e o inacreditável.
Desperta novamente com um som vindo da sala, a desviando de seus pensamentos. Novamente o ser escuro e vazio se acomodava em seu sofá. Corcunda e de porte alto, mãos enermes, sua sobra...
Participaria novamente do café da tarde?
Ele teria de esperar.
******Entre sombras e desvaneios, Amy escutou um ruído. Sua dimensão parou por um instante. Mas logo sentiu os pelos macios e quentes de seu gato que ronronava e acariciava seu tornozelo.
Rapidamente ela sacou a faca da gaveta. Deliciou-se com seu contraste com a luz, que emitia brilhantes feixes arco-íris.Coisas a pertubava...
O som agudo do mio do gato a endireitou na realidade; sacou o pacote de ração e o cortou o topo, abrindo uma linha. Serviu ao felino enquanto afagava seus pelos cinzentos.
Quando tornou a se levantar, seus olhos negros encontraram encolhidos as luzes que pipocavam da tv na pequena sala, emitindo sombras assombrosas que automaticamente produziam efeitos em seu corpo.
Repentinamente uma onda a percorreu fazendo com que a sensação de uma nova ameaça viajasse por entre o ambiente, sentia se frágil, porém sentia algo novo, algo estava além de si, algo em se movia em si juntando forças para o inevitável confronto. Unindo pontos para seu lado.Algo se movia naquela saleta.
Mas, não mais importava, pensou sobre se tratar apenas de um fruto imaginário, que estava criando raízes, se sustentando sobre seu medo. Mesmo assim, as imagens do recente caso se projetavam em sua mente, como uma obsessão. Custaria a ela esquecer.
*****
Amy tornou a se mover, iria enfim para seu quarto.
Secou as mãos com a toalha um tanto úmida e se despediu de se gato, deixando leves beijos em sua cabeça. Começou a se mover em direção ao quarto passando pelo corredor estreito que por fim, terminava na pequena sala mal iluminada. Ela adentrou naquele caminho, os pés descalços rangendo na madeira já gasta pelo tempo.Algo pouco notório acompanhava seu movimento.
"Onde acabava a noite?
Onde ela enfim se inicia?Se inicia em escolhas
E termina em medoQuando a sombra passa a nascer, ela não lhe dará alternativas. Algo em si passará a evoluir gradativamente.
Com o tempo, as forças evoluíram. Cada ponto passando a vibrar, assim, o inevitável se acomodando aos poucos pelas paredes, trazendo consigo imagens do insano ao letal.
E a pequena, continuava a caminhar.
Haveria luta...
Nada se movia, tudo estava silencioso, apenas sentia sua sombra de veludo acariciar as paredes. Era uma sombra ainda pequena e frágil, uma estrutura felina e nada ameaçadora. Os dentinhos ainda finos e pequenos. Tudo isso, representado sua pureza. Sua forma simples e humanamente comum. Com uma excessão;
Sua alma. Isso fazia as coisas existirem. Fazia sua sombra se movimentar.
Pois digo:
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Amy
Mystery / ThrillerPrecisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Michel Foucault