Novamente, era noite.
O céu escureceu, o que significava que o deus sol, Tupã, tinha ido embora. Apesar disso, Naia não achara ruim, ao contrário, ela amava a noite. Mas, como não amá-la quando é nela que sua tão adorada Jaci se faz presente? Era impossível!
Jaci, a deusa da Lua, sempre levara as índias mais belas de suas tribos para viver consigo, afinal, estrelas devem sempre ficar ao lado da Lua.
Mas, por que Naia não era escolhida?Ser a mais bela não é o suficiente?
Também saiba que era a mais devota a grande deusa lua, então, por que ainda assim não era escolhida? Ela pensava, enquanto algum membros da tribo comentavam sobre sua formosura.
Precisava pensar. Sendo assim, Naia avisara a seu pai e saíra para espairecer sua mente defronte a lagoa, como sempre fizera.
Embrenhou-se na mata apertando o passo, nem mesmo ligando para a barulho que produzira ao pisar nos galhos, assustando os pequenos pássaros que iam de encontro aos seus ninhos.
A índia finalmente chegara onde queria. O lugar que era constantemente visitado pela mesma — ela costumava ir lá todas às vezes que sentia angústia, sempre que pensara no porquê de não ter sido escolhida ainda.Sentou-se na beira daquela pequena e profunda lagoa. Ela suspirava, pensando sobre o amor e sobre a admiração que sentia por Jaci.
A luz do luar refletia-se sobre a pele acobreada da inocente menina; seus cabelos negros colavam em sua testa úmida de suor. A garota arfava, cansada da corrida; levantou sua cabeça para olhar diretamente Jaci, em sua forma mais bela: era lua nova. Naia sempre amou a forma com que a deusa se regenerava dos ataques da Onça Celeste.De repente, algo chamou a sua atenção para a água, e não era o boto, não, não. Era ela. Jaci havia vindo à buscar, então finalmente chegara a hora de sua partida.
Não percebendo ser apenas um reflexo da Lua nas águas da lagoa, a dona dos olhos da cor da terra pois se de pé, e numa boba tentativa de tocar sua deusa, estendeu seus braços para poder à alcançar, contudo foi em vão. Não querendo ser deixada para trás, num ato de desespero, gritou: "Pegai-me, Jaci, leva-me contigo, permita-me ficar ao teu lado!" E se jogas-te na lagoa. Por não saber nadar, não pode fazer nada a não ser debater-se de forma inútil enquanto afundava no lago. A deusa — que tu assistia — ficou comovida com a jovem e decidiu ajudá-la .
Naia começo a se sentir estranha e de repente, reparou em sua pele, viu que a mesma mudava de coloração, agora ficando esbranquiçada. A jovem brilhou enquanto sua pele descascava, dando origem a pétalas brancas no lugar da mesma. Estou delirando, pensou; aquilo não era real, não podia ser! Agora, ela tinha a sensação de que encolhera, ficando cada vez mais e mais menor. Devo estar dormindo, sim! É isso, afinal, não tem como eu ter ficado do tamanha de uma flor, se esforçava para acreditar, mas parecia tudo tão real.
— Naia... — Uma voz vinda dos céus falou com a garota. Seria aquele mesmo o dia em que Jaci a buscaria?
— Naia... desculpe-me — A deusa fez a índia emergir da água. — Eu não pude salvar-lhe a tempo, então, permita-me recompensar-te.
Antes que pudesse entender, e morena era posta em uma grande folha de uma planta aquática que ela nem fazia questão de lembrar qual era. Chegou a achar que a planta era grande demais, já que não se lembrava de uma planta com folhas tão grandes por aquela parte da lagoa. Aí, e só aí, ela começou a ligar os fatos. Ela realmente havia encolhido e virado uma flor.— Leve-me então! Por favor grande Jaci, amo-te mais do que a mim mesma, e o que mais quero é ficar junto de ti! Por isso te peço, leve-me! — Crente que a deusa atenderia seu desejo, Naia pediu de todo o coração.
— Não posso mais levar-te, perdão. Como compensação por tê-la deixado morrer, farei com que tu possas se juntar a mim todas as noites, em seu desabrochar, daqui para frente será conhecida pelo homens como Vitória Régia, a única estrela d'água.

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Vitória Régia
Short Story"De repente, algo chamou a sua atenção para a água, e não era o boto, não, não. Era ela. Jaci havia vindo à buscar, então finalmente chegara a hora de sua partida." Primeiro livro da saga "Lendas Folclóricas".