Capítulo III

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— Tudo bem — falou Charles revirando os olhos. — Eu te levo até a saída.

Nesse instante, o sorriso mais sincero de toda minha vida manifestou-se em meu rosto.

— Até porque... — continuou o garoto, agora apontando-me uma direção. — Já estou convencido de que você é inofensiva.

— Mesmo? — perguntei ainda sorrindo abobadamente por não ter sido denunciada. — O que te faz ter tanta certeza?

Com certeza o motivo seria uma mistura do meu rosto de boa garota junto ao meu sorriso encantador.

— Seus saltos.

— Oi?

— Me diz, que tipo de super mente do crime carregaria parte do sapato nas mãos? — disse apontando para o salto que eu ainda segurava.

— Tem razão... — concordei com suas palavras.

De tudo o que aconteceu hoje, não imaginei que logo a pior coisa, fosse ser o que no fim, salvaria minha vida das masmorras.

Continuamos andando até a saída. Charles me ajudava a desviar dos guardas que apareciam no caminho, já que, se nos vissem, teríamos que responder perguntas da qual nenhum de nós dois estávamos dispostos.

— Pronto. Já pode ir embora — falou Charles orgulhoso de seu bem feito.

A porta que estava a minha frente não era a mesma pela qual eu havia entrado — já que essa parecia ficar aos fundos —, mas igualmente me levaria para fora do castelo. Estava decidida voltar para casa e aceitar o fato de que meu pai estava certo — como sempre —, considerando que já era noite e eu ainda não tinha para onde ir. Mas daí eu tive aquilo que, modéstia parte, poderia chamar de a melhor ideia de todas.

— Charles... Agora que somos amigos...

— Somos, é? — Me encarou confuso.

— É claro que somos — falei. — Continuando... Você bem que poderia me deixar passar essa noite aqui, não é? — Fiz a minha melhor cara de inocente.

— O que!? — exclamou Charles — Você quer que eu te deixe ficar aqui no castelo, escondida, até amanhã?

— Por favor, vai! Esse lugar é enorme, ninguém vai nem me ver — falei tentando convence-lo. — Eu... Um... Faço o que você quiser...

Falhei miseravelmente na minha tentativa de suborna-lo, talvez tenha sido uma ideia tola pensar que eu conseguiria comprar aquele garoto, ele era um príncipe.

Abri a grande porta e caminhei até o lado de fora.

— Espera! — Gritou Charles. — Tem algo que você possa fazer por mim... — falou ao se aproximar.

Voltamos até o castelo e fomos para o que parecia ser seu quarto. O meu podia não ser nada pequeno, mas aquele era sem dúvidas enorme.

— Uau! — comentei.

— Só não toque em nada, por favor — suplicou Charles me tirando de perto dos seus bonecos de super-herói.

— Para um garoto de 10 anos, você ainda parece ser muito apegado aos seus brinquedinhos — falei rindo.

— Não são brinquedinhos! São itens de colecionador — esbravejou. — E eu só tenho 8 anos.

— Okay! não está mais aqui quem falou — respondi com as mãos para cima.

— Olha — me apontou um espaço vazio perto da janela. — Você pode ficar bem aqui — falou enquanto pegava alguns cobertores de seu — enorme — armário.

— Obrigada — agradeci.

— Eu vou ir jantar e você ficará bem aqui, não saia de forma alguma. Irei deixar a porta fechada para nenhum dos empregados te encontrarem, okay? — falou certificando-se de que ninguém me descobriria ali.

— Sim, senhor capitão.

Me lembrei de que eu não havia comido desde a hora que acordei. Talvez não fosse mal nenhum pedir para Charles me trazer alguma coisa do jantar.

— Será que seria pedir muito para você me trazer algo de comer quando voltasse? — falei tentando não parecer tão esfomeada quanto estava.

— Seria — respondeu sério. — Está bem, eu te trago alguma coisa. — Revirou os olhos.

Quando Charles voltou, fez a gentileza de me trazer um gigantesco pedaço de torta de frango.

— Você ainda não me contou o que eu poderia fazer por você, já que me deixou ficar aqui — Lembrei enquanto dava uma mordida no pedaço daquela torta.

— Prometa que não irá rir de mim — ordenou Charles.

— Está bem, eu prometo — falei fazendo um gesto de juramento.

— A minha condição é que... você me faça um bolo de chocolate com muito recheio por cima — falou de forma animada, provavelmente por pensar no chocolate.

— O que? Como assim? Você tem mil empregados a sua disposição, por que tem que ser eu? Eu nem mesmo sei cozinhar — indaguei pasma.

— Aqui no castelo todos sabem que minha mãe não me deixa comer esse tipo de açúcar — falou aborrecido. — Então, já que te deixarei dormir no chão do meu quarto sem nem saber seu nome, esse é o mínimo que você poderia fazer por mim — continuou — Além do mais, você mesma disse que faria o que eu quisesse se eu te deixasse ficar. Eu deixei, agora cumpra sua parte.

— Está bem! — Revirei os olhos. — Eu dou um jeito de te trazer um bolo de chocolate.

— Com muita cobertura — acrescentou ele.

— Certo, com muita cobertura — confirmei rindo de sua animação — E a propósito...

— O que?

— Eu me chamo Mad — Sorri e me deitei naquele canto, perto da janela.

Mesmo que as cobertas que Charles havia me entregado fossem os tecidos mais macios que meus dedos já tocaram, e que aquele fosse o travesseiro mais fofo que minha cabeça já se deitou, eu ainda podia sentir o quão desconfortável estava aquele chão. Ao menos, ainda conseguia planejar tudo para a manhã seguinte: fazer as pazes com Noah e me esconder em sua casa até meus pais estarem convencidos de que posso sobreviver muito bem sozinha, quem sabe assim até não me dariam um apartamento novo para eu morar sozinha... — okay, talvez eu estivesse sonhando demais.

Não me lembro o momento exato em que adormeci, mas ao acordar, notei uma quantia extra de olhares me observando...

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Amiss - Quase Da RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora