Capítulo IV

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Minha visão demorou um certo tempo para recuperar o foco; pude notar que Charles estava ao meu lado, mas os dele não eram os únicos olhos pairando sobre mim.

— Me desculpa Mad — falou Charles quase em cima da minha cabeça — Eu esqueci que a Nany vem ao meu quarto toda manhã para me acordar.

— O que? — respondi ainda meio sonolenta. — Quem é você? — perguntei à dona dos tais olhos que me observavam.

— Eu quem deveria estar fazendo essa pergunta — retrucou a mesma. — Quem é você e por que está nos aposentos do Príncipe Charles?

— Eu... — pensei numa boa resposta. — Já estou indo embora — Foi a melhor que encontrei.

— Isso deverá de ser comunicado a Princesa Isabela — avisou a tal senhora a minha frente.

— Não Nany — disse Charles a aquela mulher muito mal humorada. — Se você contar para minha mãe, ela vai brigar comigo.

— Deveria ter pensado nisso antes de trazer uma desconhecida para o seu quarto, meu querido — falou a mulher indo em direção a porta. — Guardas!

Droga! Agora estou mais encrencada do que nunca.

— O que está havendo aqui? Quem é esta garota? — perguntou um nobre homem ao atravessar a porta do quarto junto a outros dois guardas. O reconheci no mesmo instante.

Rei Alfred.

Agora era definitivo, esse seria o meu fim. Me levantei rapidamente e tentei parecer o mais apresentável possível.

— Já estou cuidando disso, majestade, não tem que se preocupar com nada — falou Nany

— É claro que eu me preocupo, é meu neto! — esbravejou o Rei — Você não deveria estar aqui — falou se dirigindo a mim — Qual é o seu nome?

— E... Eu sou Madgie Gowel, senhor Rei — falei tentando fazer uma reverência.

— Gowel? Neta de Hudge Gowel? — questionou o rei.

— Sim... — respondi hesitante.

Eu sabia que meu avô foi um homem muito influente; e talvez até fosse inocência minha não saber disso mas, eu não fazia ideia de que o rei iria conhecer alguém da minha família.

— Guardas! — chamou o rei.

E pela terceira vez na minha vida, temi ser eternamente presa numa masmorra.

Entretanto, pior do que ser jogada no alto da masmorra, seria ter meus pais aqui, conversando com o rei. E cá estavam ambos.

— Majestade, nos perdoe a conduta de nossa filha, nunca imaginei que ela fosse fazer algo do tipo — disse meu pai tentando amenizar as coisas.

— Foi você quem não confiou que eu sobreviveria fora de casa... — comentei em tom baixo.

— Acho melhor você ficar calada Madgie — falou minha mãe de forma autoritária, mas no mesmo tom.

Estávamos no que aparentava ser um escritório, Charles se encontrava atrás de uma escrivaninha junto ao Rei Alfred, Nany no entanto, já havia se retirado. Meus pais e eu estávamos do outro lado desta mesma mesa.

— Madgie é uma boa garota, majestade, isso lhe asseguro, não é o caso de manda-la para a prisão — continuou meu pai.

— Senhor... — disse o rei

— Michael Gowel — respondeu meu pai.

— Senhor Michael Gowel, quero que entenda que o que aconteceu é inadmissível. Veja só, invadir o Palácio Real de Merachi é uma infração gravíssima!

— Eu entendo o que queira dizer majestade — assegurou minha mãe. — Mas como advogada, lhe proponho um acordo.

A conversa foi interrompida pela entrada de uma mulher alta de longos cabelos castanhos, era a Princesa Isabela.

— Onde está o meu menino? — disse a mesma.

— Se acalme, minha filha — pediu o rei. — Já estamos resolvendo tudo — continuou. — Então Senhora Gowel, diga-nos, qual é a sua proposta?

— Bem, já que nós dois — apontou para meu pai — sabemos os motivos de Madgie ter fugido de casa — não justificáveis é claro —, e de ter vindo parar no castelo. Concordo que ela tenha que pagar por todo transtorno que causou! Porém... com algum tipo de serviço, que poderia ser feito aqui mesmo, no castelo, por exemplo. Assim evitaríamos todo o estresse com a justiça e Mad aprenderia sua lição.

— Oi? — Indaguei.

— Isso é um absurdo. — Interviu Nany, entrando pela porta. — Majestade, só vim avisa-lo que a Rainha está a procura do senhor.

— Só um instante Nany — disse o rei — Essa não me parece uma má ideia... — concluiu enquanto ainda pensava na questão. — De fato, com os preparativos do casamento do meu filho Dominic, realmente precisaremos de mais empregados.

— O Príncipe Dominic irá se casar? — perguntou meu pai. — Quero dizer... Me desculpe pela intromissão, majestade.

— Sim! — respondeu o rei orgulhoso — Finalmente meu segundo filho irá se casar.

— Meus parabéns majestade — disse meu pai estendendo sua mão para um aperto.

— Agradeço os cumprimentos. Mas apenas anunciaremos daqui algumas semanas, então...

— Não se preocupe Rei Alfred — falou minha mãe. — Não iremos divulgar isto a ninguém.

— Ei! O assunto sou eu, esqueceram? — chamei atenção de todos.

— Certo — disse o rei. — Concordo com sua proposta Senhora Gowel, a Senhorita Madgie poderá ficar conosco até a data do casamento, como forma de se redimir.

— Ficar aqui? Quer dizer que vou poder morar aqui? — falei, agora de forma animada.

— Considerando que todo e qualquer trabalho aqui do Palácio necessite da colaboração dos nossos criados por um longo período do dia, creio que sim — disse o rei.

— E antes de nós irmos majestade. — Meu pai se pronunciou. — Como pais, também gostaríamos de saber que tipos de ocupações nossa filha prestará.

— Sim, claro. Bem... — pensou o rei — Ela poderá ajudar a Nany, nos deveres com o Charles, já que foi assim que tudo começou.

— Mas por que eu senhor?! — queixou-se Nany

— Por que eu vô? — disse Charles da mesma forma.

— Porque você também deve pagar pela sua travessura, meu amor — respondeu sua mãe de forma doce.

— Ei! — falei aborrecida.

— Fique quieta minha filha — pediu meu pai.

— Certo — disse o rei — Agora, se me dão licença, vou de encontro a minha esposa. Nany, leve-os até a saída, por favor. — falou se aproximando da porta. — Ah! Madgie, esteja aqui no castelo amanhã logo cedo, Nany lhe explicará todos os afazeres — disse por fim.

Se não fosse pela roupa que já não troco há dois dias, eu não me importaria nada de nem sequer sair daqui.

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Amiss - Quase Da RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora