Capítulo V

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Assim como o rei havia ordenado, logo cedo eu estava no portão do Palácio Real, aguardando para entrar. O fato de poder ter acesso livre a todos os cômodos do castelo me animava, e saber que por alguns meses eu ainda moraria aqui, era inacreditável. Eu já podia até me ver andando pelos mesmos corredores que a rainha ou me imaginar tomando um relaxante banho de banheira no meu futuro quarto Real.

— Está atrasada Senhorita Gowel — Nany disse.

— O que? É claro que não! — protestei.

— O rei ordenou que viesse cedo. Já está quase no horário do almoço — falou enquanto avaliava minha aparência.

— 11 horas é cedo.

— E que sapatos são esses? — disse encarando os novos Louboutins que eu usava.

— Uma ocasião especial requer sapatos especiais.

— E como a senhorita explica todas essas malas e bolsas? — Nany perguntou se referindo as duas malas de rodinhas que eu trazia comigo, junto a bolsa que carregava no antebraço. — A senhorita passará apenas 6 meses aqui, não a vida inteira.

— Uma garota deve estar sempre preparada, não é o que dizem? — respondi ainda animada pelos incríveis 6 meses no castelo.

Nany apenas me olhou e começou a andar. O som pesado dos seus passos naquele piso de madeira escova por todo o corredor, talvez fosse algum aviso do tipo "Salve-se quem puder".

— Venha comigo — falou. — Aqui no castelo, como em todo lugar, há regras, e que deverão ser seguidas à risca.

— Okay...

— Primeira regra: Nada de ficar vagando pelos corredores do castelo.

Urgh!

— Segunda regra: Nunca se dirija a alguém da realeza sem que antes eles tenham se dirigido a você. Terceira regra: sempre os trate com o devido respeito: vossa alteza; majestade; rei; rainha... Está me entendendo? — perguntou quando percebeu meu olhar distraído.

Tínhamos chegado numa sala diferente de todas as que eu já havia visto antes. As paredes eram também como madeiras; os sofás tinham detalhes em ouro a sua volta; mas, o que mais me surpreendeu ali foi o fato de não haver televisão.

— Sim, sim — respondi voltando a prestar atenção no que Nany dizia.

— Como a senhorita cuidará do Príncipe Charles, é essencial que saiba que a quarta regra seja: Nunca dê doces ao menino.

Meu estômago congelou naquele instante, o que será que Nany diria se soubesse que a única condição que me fez passar a noite no castelo fosse exatamente quebrar a quarta regra...?

— Aqui está — falou me entregando um grande livro, tirado da gaveta de uma das mobílias. No começo pensei que fosse ser algo de Stephen King. — Todas as restantes regras do Palácio estão aqui, é crucial que leia-o até amanhã.

O QUE?!!! — pensei.

— Okay... — respondi.

— Esta é a sala dos empregados, então aqui a senhorita poderá vir nos momentos de descanso. Agora irei leva-la até seu quarto.

Caminhamos pelo castelo por longos 5 minutos até chegarmos ao meu quarto. Eu poderia jurar que naquela volta toda, estávamos andando em círculos, já que parecia ser tudo tão igual. Quando chegamos ao tão esperado cômodo — pelo menos por mim —, notei que, apesar de não ser como o de Charles, continuava sendo enorme. Entrei e logo comecei a observar cada detalhe.

— Cadê a banheira? — perguntei saindo do banheiro que havia no mesmo.

— Como assim banheira? — questionou Nany desentendida.

— Quando eu estava no quarto do Charles...

— Príncipe Charles — me corrigiu. — Regra de número três: sempre tratar a família Real com o devido respeito! — Nany falou alterando sua voz quase como um rugido.

— Príncipe Charles — continuei — quando eu estava em seu quarto, havia uma banheira...

Nany riu.

— A senhorita não está se comparando a nobreza, está? — falou voltando ao seu mau humor constante. — Arrume suas coisas e desça às 16 horas para buscar Charles na escola, o motorista estará a esperando na garagem.

— Príncipe Charles — a corrigi.

Nany apenas me fuzilou com os olhos.

— E mais tarde lhe darei o restante das instruções — continuou.

— Mais regras?! — respondi incrédula antes de vê-la passar pela porta e seguir pelo corredor, me deixando sozinha no quarto.

Como o mandado, comecei a organizar as minhas roupas e sapatos, arrumei tudo por ordem de cor e tom. Mesmo com todas as coisas que eu havia trazido, o guarda-roupa — que mais se parecia um closet, ainda permanecia com um vácuo, detalhe esse que eu pretendia preencher em breve.

Quando terminei, me joguei na cama e apreciei a macies daquele colchão, quase tão fofinho quanto o travesseiro que Charles me emprestou na noite anterior. Me recuperei dos meus devaneios pensando que um banho seria a melhor forma de relaxar antes de ouvir a Nany ditar mais e mais regras. Segui até o banheiro e notei que não tinha toalhas.

Saí do quarto furiosa a procura de Nany, ela talvez ainda estaria por perto. Abri as portas de todos os cômodos possíveis daquele castelo até que encontrei o quarto de Charles, parecia um pouco diferente da noite anterior — provavelmente ele havia tirado os bonequinhos —, mas ainda era o mesmo.

Bem... Charles só vai voltar quando eu for busca-lo...

Pensei ao caminhar até o banheiro.

E aqui tem uma banheira... — uma grande banheira...

E também toalhas...

Tenho certeza que ninguém vai perceber que eu estive aqui...

Liguei as torneiras da banheira e a mesma começou a encher rapidamente. Tirei minhas roupas e coloquei no gancho que havia do lado de fora do banheiro. O vapor da água quente já subia e a banheira já estava quase cheia. Reparei nos sais de banho sobre uma prateleira ao lado e então aproveitei para colocar todos possíveis, afinal, eu nunca tinha visto tantas variedades assim de sais antes.

Me deitei naquela água quentinha e branca de espuma, puxei a cortina que separava a banheira do restante do banheiro e fechei meus olhos, comecei a refletir sobre tudo o que estava acontecendo nesses últimos dias.

Eu ainda não fazia ideia do que faria quando esses 6 meses se passassem, o casamento do tal príncipe acontecesse e eu tivesse que voltar para casa. Comandar a empresa da minha família ainda não fazia parte dos meus planos — não que eu tivesse algum. Eu gostava de todos os luxos que o dinheiro das Indústrias Gowel me proporcionava desde o dia em que nasci e isso era inegável; meu avô havia construído um império, mas talvez eu fosse capaz de deixar tudo isso para trás se descobrisse o que realmente quero fazer com minha vida.

— Ei! — grito ao de repente sentir a água gelada do chuveiro cair sobre minha cabeça.

A cortina é aberta por um cara vestido apenas de roupão.

— Quem é você?! — pergunto assustada ainda deitada na banheira, coberta pela espuma.

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Amiss - Quase Da RealezaOnde histórias criam vida. Descubra agora