O discurso de Mary

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"Boa noite, senhoras e senhores. Meu nome é Mary Morstan e sou madrinha de casamento de Sherlock e John. Faz um tempo que nos conhecemos e posso dizer que tive a imensa honra de saber que são pessoas maravilhosas. Mesmo que seja complicado reconhecer.

'Vocês dois são o casal mais estranho e perfeito que já vi. Um sociopata altamente funcional que sente prazer absurdo em quebrar regras é a alma gêmea de um médico forjado no exército. Quem imaginaria uma coisa dessas? Mas aconteceu.

'Certo dia, John me mandou uma carta, dizendo que voltara a Londres e precisava de um lugar para ficar. Dividimos meu apartamento por algumas noites, até Mike Stanford aparecer.

'Demorou para que eu e Sherlock fossemos apresentados, acho que John queria tê-lo só para si. De todo modo, jantei em Baker Street, 221B algumas semanas depois da mudança. Sherlock me assustou com as deduções, porém, eu estava decidida a fazer como John: ver por trás do que assusta. Não foi à toa que passamos os últimos três meses vendo furiosas ex namoradas de Watson gritando que ele era um parceiro melhor para nós do que para elas. Todas acertaram, afinal, estamos aqui hoje, não?

'Os casos são divertidos, intrigantes, etc. O meu favorito é aquele em que Sherlock se ajoelha para arrancar a bomba amarrada às roupas de John. 'As pessoas vão falar', ele disse. Alguém presente neste salão deixaria seu melhor amigo morrer por causa de fofocas? Foi inimaginável a minha cara quando ouvi a história.

'Continuando, tornei-me assídua leitora do blog de Watson, que por sinal, é muito bom. Deveriam dar uma olhada, pessoal. As narrativas são impressionantes, e as entrelinhas, envolventes. A resposta estava lá, desde o começo, para todos que querem solucionar o 'enigma Johnlock'.

'Desejo-lhes toda felicidade do mundo, rapazes. Merecem isso e muito mais. Aos noivos!'"

Os convidados ergueram as taças e brindaram, os olhos marejados por causa das palavras de Mary. Ela sorria orgulhosa. Depois de servido o bolo, a multidão migrou para o salão, onde Mary tomou a frente de novo, dessa vez para tocar ao piano uma valsa composta justamente para aquela ocasião.

Sherlock e John dançaram, sorrisos estampando as faces. Uns poucos sabiam que Sherlock fizera ballet durante o Ensino Médio, e naquela noite, ele exibia sua habilidade.

"Eu amo você", John confidenciou, o rosto enterrado no peito do marido.

"M-meu nível de ocitocina sobre quando você está por perto."

"O jeito químico de dizer 'eu também te amo'. Gostei."

As notas cessaram e os aplausos irromperam. O fotógrafo apareceu para mais cliques e os convidados se foram, com beijos e abraços. Mary dava as últimas instruções ao auxiliar, para que levasse os presentes para Baker Street e deixasse sob os cuidados de Martha Hudson.

"Tudo pronto, hora de ir. O Caribe os aguarda", eles responderam com polegares para cima e entraram no carro. Mycroft levá-los-ia ao aeroporto no caminho de volta para casa.

Mary rodopiou no salão vazio, o coração batendo forte e a respiração suave. O casamento foi um sucesso, graças ao carisma dos noivos – mais de John do que Sherlock –, é claro. Mas a cerimônia só aconteceu porque ela estava lá para planejar.

Com tantos casos a resolver, eles mal paravam em casa. As noites com a sra. Hudson eram legais, em meio a papéis e sitcoms ruins. A decoração ficou linda, e o cardápio, ótimo. Mas acima de tudo, ela se orgulhava do discurso. Cada palavra era verdadeira, vinda de seu coração.

A sra. Hudson deu-lhe um abraço apertado, agradecendo pela linda festa.

"Só fiz meu trabalho", ela sorriu ao fechar a porta do carro. "Boa noite."

Quando chegou em casa, estava esgotada, e não para menos. Muitos dias e noites foram dedicados ao casamento e ela quase não fechou os olhos na última semana por mais de três horas seguidas. As bebedeiras com eles foram legais, porém tinham um preço, que ela pagou com prazer, dormindo por quase onze horas.

Ao acordar, sentia-se completamente revigorada, e teve que se segurar para não ligar para Sherlock ou John. É a lua de mel. Estarão de volta em uma semana, nem vai dar tempo de sentir falta.

Mary era famosa pelos pensamentos precipitados, pois seu telefone não parou de receber chamadas de Lestrade e Mycroft – provavelmente de ressaca – perguntando quando eles voltariam, as vozes desesperadas e embriagadas.

"Pela última vez, Lestrade. Deixe-os em paz. Terá muito deles por perto na semana que vem, marque minhas palavras."

Não podia culpá-los por quererem os dois de volta logo. Londres parecia muito parada sem eles. Acalmados os ânimos e curadas as ressacas, Mary retomou o ritmo do trabalho. Digitava com toda concentração ao ouvir a campainha.

"Já vou, já vou."

Abriu e deu de cara com Sherlock e John Holmes-Watson.

"The game is on."

O discurso de Mary MorstanOnde histórias criam vida. Descubra agora