Capítulo 14 - Mentira

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Dois dias depois da informação não tão valiosa de Callie, aqui estou eu mais uma vez na sua casa. Durante esse período, nada mudou, continuei sendo importunado no colégio pelo mesmo idiota e não consegui concluir nada com a minha investigação mais idiota ainda. Não perguntei, mas Callie também não deve ter visto mais nada suspeito, ela me contaria.

Não fui obrigado a participar de outro treino, o treinador deve ter me detestado no meu último e eu nunca estive tão feliz por ser horrível em futebol. É claro que as minhas quedas ainda são assunto, eventualmente vejo um ou outro babaca rindo quando eu passo, mas nada que eu não possa suportar.

-Você parece gostar muito dessa janela.-Callie repara, pelo menos dessa vez vim para estudar.

-É bom poder respirar algo que não seja morfo ou maconha.

Mesmo dando uma desculpa, me afasto. Não o vi do outro lado, na verdade mal o vi hoje no colégio. Só me lembro de ele ter aparecido na minha frente no corredor uma vez enquanto eu corria para a sala, atrasado. Queria mais um motivo para me insultar, e teve. Não tínhamos aulas juntos hoje, para a minha alegria.

-Ah, cala a boca. Eu sei exatamente o que está acontecendo.-Levanta-se da sua cama onde estava deitada e fecha o livro de biologia. Seu tom cômico me faz ter medo das suas suposições.-Tá seguindo os passos do Henri West porque vai contratar um assassino para matá-lo.

Sorrio, parcialmente aliviado. Não seria uma má idéia. Entretanto prefiro não me envolver com a vida dele, da forma que seja. Fecho as cortinas da maldita janela enquanto prometo para mim mesmo nem sequer pensar no quão estranho foi aquele momento no vestiário.

-Talvez eu faça isso, mas tenho que ir. Vou encontrar o Seth daqui a pouco.-Caminho até a porta desviando da bagunça no chão.

-Ok. Cuidado para não se empolgar de mais e gritar o nome do Henri enquanto estiver gemendo.

-Eca.-Respondo já no corredor e lutando para não rir. Não vou dar essa vitória pra Callie.-Eu te odeio.

*

Eu e Seth nunca falamos sobre sexo. E se falássemos, seria um avanço em tanto, afinal, eu sou a primeira pessoa aqui a dizer que uma relação não deve priorizar o sexo para se manter.
Nós nos pegamos as vezes mas não passa de pegação e mãos perdidas. Eu nem parei para pensar como seria ainda, acho que a minha ansiedade me mataria minutos antes da penetração.

-No que você está pensando?

-Nas provas da semana que vem.-Minto novamente, e estou ficando bom nisso.-E você?

Viro-me para vê-lo, afinal, não é todo dia que tenho esse privilégio.
Estamos no estacionamento do cinema e encostados no capô do carro como sempre, dessa vez o filme não foi tão ruim, mas eu quase dormi.

-Em você... eu acho.-Seth coça o queixo. Eu preferia que ele mentisse também.-Não tenho te dado atenção...

Evito dizer que não preciso de atenção. A consulta com o psicólogo de ontem compensou parte dos últimos oito anos de rejeição dos meus pais. Eu até gosto de não saber muito da vida perfeita de Seth.

-Não acredito.-Sorrio.-E andou pensando em mim durante todos os últimos dias? Não deve ter muito o que fazer, então...

-Sim. Acho que isso se chama paixão.-Desvio o meu olhar quando ele dá de ombros e deixa de encarar o letreiro do cinema, volta o seu olhar para mim. Não era o que eu esperava ouvir.-E você?

Penso.

-Bem... você foi quem não saiu da minha cabeça.-Volto a mentir, afinal, é o que faço de melhor.

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