O caminho foi longo e penoso. Quer dizer, para mim foi fácil, porque fui carregada por todo o percurso. Já para Jake...
Sua expressão estava transbordando em exaustão. Suor escorria de seu rosto, seus lábios estavam secos e ressecados, além do ferimento que parecia incomodá-lo, pois seus olhos piscavam frequentemente, afastando as lágrimas que escapavam e escorriam por suas bochechas. E agora, ao fim do percurso, Jake não mais caminhava, mas sim se arrastava.
Enquanto o observava, completamente perdida em suas feições, não notei o momento em que meu companheiro se desequilibrou, tombando na direção de uma árvore. Quase caímos, mas, para que não fôssemos de encontro ao chão, tivemos que nos escorar de mau jeito num tronco. Infelizmente, o que mais nos deu apoio para não despencarmos foi meu pé esquerdo, justamente aquele do qual fui carregada para não forçar.
Abafei um grito.
_ Minha nossa! – exclamou Jake, colocando-me no chão. – Me desculpe, Clara! Me desculpe...
Naquele instante, ele explodiu. Começou a chorar feito um bebê bem na minha frente, deixando-me completamente atônita.
Meus olhos estavam marejados por conta da dor, mas a mesma tornou-se quase imperceptível quando me dei conta do desespero que assombrava o rapaz a minha frente.
Segurei seu braço e puxei-o, forçando-o a aproximar-se de mim. Embalei-o num abraço e acariciei seus cabelos, esperando em silêncio até que ele se acalmasse.
_ Não quero ficar longe de você. – sussurrou ele.
Aquelas palavras soaram como lâminas extremamente afiadas, que cortaram bruscamente o silêncio da madrugada, ferindo fortemente meu coração.
_ Por que você não fica na sede da Luz comigo? – perguntei.
Aquela ideia soara tão boa que minha alma ficou mais leve, como se a solução tivesse sido descoberta. Jake, entretanto, balançou a cabeça em sinal negativo e suspirou.
_ Eu converso com minha mãe, Jake! Você será aceito, tenho certeza. Além disso, eu...
_ Não! – exclamou ele, interrompendo-me. – Clara, não.
_ Por que não? – reclamei.
_ A Luz nem sempre é piedosa... Ela também julga, e é por isso que não tento voltar para ela. – murmurou ele.
As palavras pairavam no ar de forma confusa. Minha cabeça latejava enquanto tentava compreender aquela fala.
_ Voltar para ela... – repeti, absorvendo a informação.
Estava atônita demais para reagir.
Ele se afastou com os olhos arregalados, como se tivesse dito coisas demais.
_ Eu... Eu... – gaguejou, claramente assustado. – Temos que ir.
De repente, ficou de pé e tomou-me no colo, de forma extremamente desesperada. Em seguida, começou a caminhar.
Eu não conseguia processar direito meus pensamentos. As palavras "voltar para ela" ficavam ressoando em minha mente.
As árvores a nosso redor começaram a ficar mais afastadas umas das outras. Parecia que, a qualquer momento, sairíamos em uma clareira.
Isso tampouco me importava, afinal minha cabeça parecia querer explodir. Parei de prestar atenção no caminho e afundei em meus próprios pensamentos. Simplesmente não conseguia fixar-me à Terra.
De repente, Jake parou. Neste instante voltei a realidade e notei que estávamos parados às bordas da floresta. Em meio a escuridão, o palácio dos Luminescentes reinava, imponente e majestoso.
Meu companheiro caminhou sorrateiramente até deixar a floresta alguns centímetros para trás. Em seguida, colocou-me sentada no chão, virou as costas e voltou a esconder-se em meio as árvores.
Achei que tivesse partido, mas o ouvi sussurrar:
_ Até logo, minha princesa. Agora, durma um pouco...
E, assim, apaguei.
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasíaClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...