Sebastian Van der Camp tinha seus motivos.
Essa era a resposta que o garoto de quase dois metros de altura entregava sempre que uma situação se tornava complicada o suficiente para que seu cérebro conseguisse desenvolver um argumento.
Não que não fosse inteligente, já que com sete anos de idade já conseguia causar dor de cabeça em quem competisse uma partida de xadrez com ele.
Não que não soubesse conversar, já que era membro e líder do clube de debates políticos da sua escola há três anos, nunca havia perdido uma única competição de perguntas e respostas nessa equipe.
Não que não tivesse a habilidade de se adaptar facilmente com uma situação não prevista, já que participava de torneios de paintball sempre que uma caravana de um novo parque chegava na cidade.
Os motivos de Sebastian Van der Camp eram usados apenas com uma pessoa. Alguém que, assim como ele, era inteligente, sabia conversar e tinha a habilidade de se adaptar facilmente com inúmeras situações não previstas: seu melhor amigo.
— Você está agindo como uma criança, Bash.
— Não vem com essa de Bash pra cima de mim, Hudson.
— Qualquer um pode ver que claramente eu sou a Elsa.
— E por quê isso?
— Vamos aos fatos: a Elsa é depressiva, amargurada, tem crises de ansiedade causadas por infância e adolescência reprimidas e, eis aqui uma justificativa fútil, é loira. Por outro lado, a Anna é cheia de vida, alegre, um pouco desastrada, acredita em amor à primeira vista, ou pelo menos costumava acreditar, e, olha a justificativa fútil novamente, é ruiva. Eu sou a Elsa, você é a Anna.
— Eu não estou convencido.
— O único motivo de você insistir em ser a Elsa é que ela tem poderes enquanto a Anna, bom, não tem nada. Verdade?
— Não, Hudson, eu tenho meus motivos.
— Ah.
Sempre que acordava num quarto de hospital, desde a sua primeira tentativa mal sucedida de suicídio, a primeira visão que Mike tinha era de um ruivo. Não qualquer ruivo, um ruivo em específico, seu melhor amigo, que era conhecido entre as garotas, além de outros motivos, por essa característica em especial.
Para entender a popularidade de Sebastian Van der Camp entre as garotas de sua cidade era preciso entender, primordialmente, a sua origem.
Duas belas jovens se esbarraram ao romper do ano na entrada de um pequeno bar em Los Angeles, enquanto os fogos de artifícios estouravam no céu. Foi quando seus olhos encontraram-se pela primeira vez, em meios à saudações pelo ano que entrava e barulhos de taças com champanhe brindando. O casamento ocorreria quatro meses depois, é claro.
Do momento em que saiu do ventre, tornou-se conhecido o fato de que Sebastian viveria cercado por mulheres. Suas quatro avós, suas três tias e suas duas mães o educaram em diferentes momentos da sua vida. Era mais do que sábio afirmar que aquele garoto, mais do que qualquer outro, sabia conviver com altas doses de estrogênio.
O fato de ser bom em esportes, ter uma ótima voz teatral, ser um líder nato em competições matemáticas e ter uma opinião crítica construtiva sobre todos os álbuns da Taylor Swift — "'1989' pode ter trazido uma nova experiência de sonoridade harmoniosa para o gênero pop, o que refrescou todo o cenário musical da indústria, mas o 'Speak Now' é uma obra de arte à frente do seu tempo, pessoal" — no entanto não tinham chance alguma quanto a característica mais marcante de sua figura, o que lhe deu uma descrição para todos os moradores dali: Sebastian tinha cabelos de fogo.
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O Projeto Inesperado de Mike Hudson
Teen FictionApós a sua última tentativa de suicídio, Mike Hudson vê a sua vida ser transformada numa sequência inacabada de cuidados, regras, exceções e antidepressivos. Tendo o silêncio como melhor amigo e mergulhado em seus pensamentos, Mike continua existin...