Um Milagre Parte 17

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Os meses correram. Voaram trazendo novidades... Como a primeira vez que o bebê mexeu enquanto Rogério tocava a barriga de Ana Paula. E quando Marquinhos falava perto da barriga da mãe ela sentia Paulinho mexer alvoraçado. Quantos momentos ternos rechearam a vida do casal Monteiro.

Liam os dois juntos livros e mais livros sobre maternidade, porém Rogério sabia que Ana Paula seria uma excelente mãe. Ele que tinha medo de ser um bruto, grosseiro que não soubesse como nem mesmo segurar o filho. Focou no capítulo explicando como acalentar o bebê nos braços como um aluno aplicado.

Altos e baixos da roda gigante da vida permeou os moradores da Fazenda do Forte. A própria propriedade engatinhando e com a ajuda dos trabalhadores, passou a ressurgir aos poucos. Como o verde do pasto nos primeiros raios da manhã. Rogério articulava novos negócios em meio a instabilidade afetiva com a irmã Cintia.

A cidade também experimentou verdadeiros pipocos! O tal do Rodrigo foi preso e depois misteriosamente assassinado na cadeira. Alguns acharam que foi bem feito, castigo divino, outros como Rogério e Gustavo lamentaram, em partes, o sucedido por não poder questioná-lo sobre quem foi o verdadeiro mandante da surra no engenheiro.

Vanessa se levantou contra à irmã até tentou ser amiga dela, mas as coisas pareciam nunca dar certo entre as duas. Ainda mais agora que Rogério estava cismado com ela e Bruno por causa do trato de Singapura. Mas talvez o que sacudiu os Monteiro bem mais do que qualquer um dos fatos mencionados anteriormente.

Foi Cíntia rolar escada abaixo provocando que o bebê em seu ventre nascesse perigosamente antes do tempo. O coração de Rogério, Gustavo, Maria e Ana não se cabiam de medo e apreensão. Foram horas terríveis para todos. Ana Paula tinha um mês a menos que Cintia de tempo de gestação e por mais que quisesse permanecer por hora a fio no hospital. A pedido de Ernesto e Rogério teve que participar apenas de alguns procedimentos e acompanhar de longe o parto da cunhada.

Viu chegar ao mundo a filha de Gustavo e rezou ao céu, que Cintia e a menina ficassem bem. Porém, a criancinha inocente ficou doente e só agora depois de muito dias é que está se recuperando.

O contrato oficial de Ana Paula e Rogério foi rasgado dias atrás, num jantar lindo e emocionante. Não havia mais sentido alguma naquele papel, ela nem sequer recordava dele, mas Rogério fez questão de dar uma bela finalizada naquilo. O bom desses dias, além de Mari estar melhor, Paulinho se encaminhando bem no ventre da mãe. Era não ouvir mais falar de Martín, se viu livre das investidas dele. O que era particularmente ótimo para seu humor.

Humor que oscilava mais ainda com o pesar da barriga. Ana Paula decidiu nas semanas finais da gestação, se ocupar com o crochê e com a vida na fazenda. Porque simplesmente ficou impraticável fazer suas atividades na clínica. O bebê estava grande e se movia com se andasse a cavalo. Isso a cansava mais do que normalmente. A única coisa que acalmava o menino era ouví-la cantar. Coisa que também estava dificil porque a barriga já pressionava o diafragma. 

Ela cantava devagar:

"Brilla estrellita:
Estrellita donde estas
Quiero verte sin tilar
En el cielo sobre el mar
Un diamante de verdad.
Estrellita donde estas
Quiero verte sin tilar."

Rogério entrou no quarto na hora exata que ela estava terminando de cantar. Era 16h e aproveitou uma pausa no serviço para visitar-la. María afirmou que ela estava bem, só ainda muito cansada. Sonolenta... Mas pelo que estava vendo, ela estava radiante. Os cabelos longos caídos sobre o ombro e os olhos sorrindo com o carinho dos dedos sobre a barriga em forma de bola.

— Mi amor, como estas? - Ele segurou na mão dela

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— Mi amor, como estas? - Ele segurou na mão dela.
— Estou bem. Cansada, mas me sinto feliz. O bebê está mais tranquilo.
— Ele se acalma quando escuta a sua voz linda. - Ela sorriu.
— Como estão os negócios? - Rogério soltou a mão da Paula e tirou o chapéu. Ela achou esquisito.
— Bem.... Bem. Tudo bem. - Ele sorriu.
— Sério?
— Mas é claro... Olha, eu não quero que se preocupe com nada. Pensa só no nosso filhinho, vai dar tudo certo. - Ela não quis insistir, mas tinha algo errado.
—Marquinhos esteve aqui agora a pouco. Me contou sobre a escola e me mostrou o boletim.
— Ele me mostrou também.
— Quantas notas boas! Eu fiquei tão feliz, amor. Nosso, filho é muito inteligente.
—Ele aprende rápido.
— Disse que ia trazer aqui um quebra cabeças para jogar comigo. - Ana Paula sorriu.
— O do cavalo? - Rogério perguntou achando graça. Aquele era das antigas e gigantesco. Era um verdadeiro quebra cabeças mesmo.
— Sim. - Ela fez biquinho de chateada.
— Boa sorte, então. Você vai sair do resguardo, mi amor, e ainda vai ter peça para montar.

Marquinhos entrou correndo no quarto. Já tinha tomado banho e a caixa grande do quebra cabeças estava debaixo do braço.

—Mamãe, agora vamos brincar. - Rogério sorriu e saiu do quarto. Deixando a esposa e o menino juntos em cima da cama.

Rogério partiu para a cozinha por uma xícara de café. Maria encheu uma porcelana com o líquido preto e fumegante. O fazendeiro só queria esquecer a notícia que o atormentou ainda a pouco. Ainda bem que Ana Paula não perguntou nada a respeito. Não queria preocupá-la.

Elias era o verdadeiro pai de Mari. O que deixava a situação infinitamente mais complicada. Gustavo não tomou  isso bem, Rogério sentia que não podia julgá-la. Se o capataz, no entanto, desse com a língua nos dentes tudo poderia piorar. A fazenda não podia ser envolvida em mais escândalo. Só agora depois de tantos meses que começavam a ter certa relevância novamente no mercado.

- Rogério, o que faremos agora? Será que ainda teremos o batizado? - Maria perguntou nervosa.

- Sim, claro. Só não com o idiota do Elias. - Rogério resmungou. 

- Não é uma boa ideia, melhor deixarmos para depois. Elias nunca aceitaria estar longe da filha num momento desse. E Gustavo já me disse que vai querer registrar a menina. 

- Como a vida dá voltas. Uns meses atrás Gustavo e eu disputávamos a responsabilidade pelo filho da Paula. Agora ele luta por isso em relação ao Elias. 

- Já vi muita coisa na vida, Rogério. Mas isso tudo que está nessa casa, está me deixando com medo. Não sei o que pode acontecer amanhã. Cíntia parece estranha, mais nervosa.  Olha para a filha com um jeito muito diferente...quase como se não gostasse dela. 

- Do que está falando, Maria? - Rogério se preocupou. 

- Nada, Rogério. Apenas cuida da Ana Paula, a afaste de qualquer preocupação. Ela está numa fase muito especial da gravidez, em poucas semanas o menino Paulinho vem ao mundo. Vamos fazer com que ela se sinta o mais tranquila possível. 

Rogério engoliu em seco. Como evitar que Paula, a esposa curiosa, ficasse alheia a todos os rebuliços da fazenda? A sala do escritório ficou pequena para as preocupações dele. Foi até a varanda apreciar o pôr do sol. Ernesto chegou com uns papéis, eram documentações da clinica. 

- Rogério,aqui estão os relatórios que pediste. - O fazendeiro pegou a pasta suspirando entristecido.  - Eu vim aqui também para dar uma olhada na Ana. 

- Ela está no quarto e está bem. Um pouco cansada.

- É por causa da barriga. - Ernesto sorriu. - O seu menino é muito agitado.

- Só desejo que ele continue agitado, mas ela traquila. 

- Sei do que está falando. Soube da situação...

- Doutor, eu tenho medo que isso a afete de alguma maneira...bom, o senhor sabe, por conta da outra gravidez.

- Entendo. Por que não a leva da fazenda por um tempo. Sei que tens outras propriedades, dê a desculpa que irá revisar algo nelas. Assim Ana Paula não terá como desconfiar que estás evitando que ela passe por algum estresse.

- Essa é uma boa ideia. Acho que irei fazer isso sim. Fico muito feliz por ter te escolhido como padrinho do meu filho. 

Miguel estava atrás de uma pilastra e ouviu a conversa se sentindo muito triste.


Um Milagre - A Que Não Podia AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora