YO QUISIERA

Capítulo 5 (Nada é como antes)

"Narra Thiago"

Estava dormindo quando senti alguém balançando meu ombro, abri os olhos e encontrei com os da Ana.

- oi, o que foi? aconteceu alguma coisa? - eu disse me sentando o mais rápido que pude.

- não, desculpe te acordar....mas, é que....eu não consigo dormir, e preciso muito....

- conversar.. - completei o que ela queria dizer e ela sorriu tímida.

- eu sei que não é uma hora adequada, e também não queria te incomodar, mas eu preciso conversar sobre isso com alguém... e quem melhor do que meu melhor amigo pra isso? - ela disse sorrindo e eu senti novamente aquele soco no estômago. "Amigo".

Sorri de volta da forma mais convincente que pude, ela pegou na minha mão e a acariciou. Olhei nos olhos dela, senti sua respiração bem perto de mim, meus olhos foram instantaneamente para a sua boca e uma vontade enorme de beijá-la consumiu o meu corpo. Mas eu não podia, não era o que ela queria, não era por mim que ela estava apaixonada. Eu apenas podia ser aquele em que ela confiava, se apoiava, seu amigo. Por mais que isso doesse em mim, eu jamais poderia deixa-la sozinha.

- estou ouvindo, pode falar - eu disse dando um tapinha no canto da cama ao meu lado.

Ela se sentou, e olhou pensativa para o chão por alguns segundos.

-  faz um tempo que eu e o Víctor estamos brigando muito - meu coração doeu só de ouvir ela falar dele, mas continuei ouvindo - por motivos sem nexo, o tempo todo, até por volume da TV, sabe? - eu fiz que sim com a cabeça - eu não entendo o que está acontecendo, nós nunca brigávamos, na verdade acho que não havia sequer um assunto que a gente tivesse opiniões diferentes.

Ela se sentia indignada e desacreditada diante daquela situação.

- eu achei que podia contornar a situação, que podia melhorar as coisas, mas depois do que aconteceu hoje, eu sinto que não tem jeito de concertar.

- mas o que pode ser tão grave que não dê para concertar? - perguntei curioso, com um sorriso de lado.

Ela me olhou intensamente, depois pra baixo, pensou por alguns segundos, respirou forte e voltou a me olhar.

- fui jantar com ele, com a Bia e o Manuel hoje. Eu tinha acabado de chegar e ele começou a fazer um escândalo por causa da minha roupa, e chegou a dizer que eu estava parecendo uma prostituta.

Quando ela disse aquilo não pude conter minha cara de raiva. Eu geralmente sou uma pessoa calma e pacífica, não procuro brigas e prefiro resolver tudo com uma boa conversa. Mas eu tinha certeza que se Víctor estivesse ali naquele momento eu teria partido a cara dele. Fechei meus punhos com forças com o intuito de controlar minha fúria.

- eu sei, inacreditável...- ela disse ao ver como eu estava irritado - eu senti como se um caminhão tivesse me atropelado, aquele não era o meu Víctor, não o que eu conheci, parecia outra pessoa....

Ela fitou o nada e começou a pensar sobre o assunto, como ela sempre fazia, viajando no mundo só dela. Eu só conseguia pensar como alguém teria coragem de descrevê-la de tal maneira como ele o fez. Ela não merecia ouvir aquilo, nem dele, nem de ninguém. Aquele vestido era lindo, e tinha ficado incrível nela, ele a tinha para ele, perfeita do jeito que ela é, e havia estragado tudo com um comentário tão baixo, não soube valorizá-la.

Depois de um largo silêncio percebi que ela ainda estava pensando, aqueles pensamentos que eu gostaria de poder ouvir.

- Ana? - a chamei uma vez sabendo que ela não responderia de primeira, soltei uma risada e fiz ela voltar a realidade.