Capitulo I : Tarde da Noite

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Seus passos ecoavam no beco, estava correndo o mais rápido que podia, como se estivesse atrasada para alguma reunião importante, ou como se fugisse de alguém. Sua respiração estava ofegante e descompassada, suas vestes estavam completamente encharcadas por causa da chuva, seu óculos era quase que inútil ali, graças a chuva que caia fazendo com que as lentes ficassem extremamente cobertas com as gotas, dificultando e muito a visão da garota.

Em alguns poucos momentos ela virava a cabeça para trás, e apenas via as sombras de monstros, vultos enormes com dentes afiados, que a cada momento se aproximavam mais e mais, famintos, querendo a carne daquela garota. E isso a fazia correr ainda mais desesperada, já aos prantos, gritando por ajuda.

A perseguição durou mais alguns metros, até que ela se deparou com um muro no fim do beco, ficando presa ali com os monstros, que agora estavam quase em cima dela. A única coisa que ela pode fazer foi se virar e encarar aqueles que a perseguiam. Reunindo toda sua coragem, girou nos calcanhares e se pôs de frente com seus perseguidores, porem, apenas conseguiu ver um relapso deles, pois eles já pulavam para cima dela.

De repente a garota acordava e se via em seu quarto, ofegante e completamente suada, desesperada, olhava para todos os lados, como se procurasse algum vulto, sombra, como se ainda fosse difícil acreditar que aquilo fora apenas um pesadelo, mas a única coisa que realmente tinha do sonho dela era a maldita chuva, que fazia as gotas explodirem na janela do pequeno apartamento onde morava, uma chuva tão forte que parecia que iria quebrar os vidros e inundar o quarto.

Se levantava e ia para o banheiro, estava pensando que talvez lavar o rosto a ajudasse a esquecer aquele pesadelo, quem sabe até mesmo tomar uma ducha para relaxar e quem sabe conseguir voltar a dormir.

Quando voltava do banheiro, iria em direção a cozinha, pensava que talvez comendo algo a ajudaria a esquecer aquilo, ainda achava tão real aquele pesadelo, sentia suas pernas realmente cansadas, como se tivesse corrido por quarteirões, estavam pesadas

Chegando na cozinha, abria a geladeira e contemplava aquele semi-vazio, apenas tinha algumas garrafas de suco, cerveja e leite, algumas frutas que estavam já mais ressecadas, algumas bandejas de comida pronta e congelada. Soltava um suspiro e pegava apenas uma das bandejas e jogava no micro-ondas e colocava para esquentar.

Caminhava para em direção à janela da sala, e observava o movimento em meio a chuva, os neons das casa de swings, as garotas se vendendo em baixo da chuva, homens bêbados largados nas sarjetas, aquela rua era conhecida como o inferninho da cidade.

O bibe do micro-ondas fazia com que voltasse ate a cozinha e pegasse a bandeja, e logo a levava para uma pequena mesa na sala, se sentado no sofá, e ligando a e ligando o radio, para tentar inibir os ruídos e gritos que viam daquela maldita rua.

Depois de comer ficava ali olhando a parede por momentos, e virava a cabeça para o relógio, eram em torno de quatro horas da manha. Suspirava e se levantava indo a um pequeno escritório, sabendo que já não iria conseguir mais dormir, se sentou na sua cadeira e puxava se colocava a desenhar no seu pequeno painel holográfico.

Gostava de desenhar como passatempo, mas desde a revolução, isso passou a ser seu trabalho, o que fez sua paixão se tornar uma das coisas que ela mais odeia, ser forçada a desenhar cartazes para o governo, desenhar modelos para robôs agressores, aquilo era tudo o que ela mais odiava. Quando criança, ela era incentivada a ser livre, ter pensamentos livres sobre o mundo, mas agora, se via presa a um governo autoritário e violento.

O projeto dessa semana era um cartaz enaltecendo o presidente da Nova Terra, conhecido como Charles V, era o quinto em sua linhagem e o primeiro homem que conseguiu unificar todos os países em apenas um, tornando assim a Terra em apenas um só país. "Uma nova sociedade, um novo governo, um novo amanhã', era esse o slogan dele, e bem, estava certo, mas não quer dizer que a novidade foi boa

Países pequenos e pobres foram dizimados por operações de teste de armas químicas, e os sobreviventes desses países que sofreram essas "limpezas" foram mandados para colônias em outros países, para provavelmente terem uma vida pior.

O governo foi uma novidade, um autoritarismo que ate mesmo o próprio Stalin ficaria com inveja, um governo feito por um homem louco que apenas quer o poder a todo custo, alguém que vê os outros apenas como marionetes que dependem dele para ganhar vida. Ele tornou o governo em uma piada, retrocedendo a algo parecido com uma monarquia, porem e forma totalmente autoritária.

Antes desse governo, varias regiões do mundo estavam em guerras, fossem com outras nações, ou guerras civis, mas todos estavam em batalha, quando Charles V surgiu, ele veio com uma ideia de um novo amanha onde não se teria guerra, onde poderíamos viver em paz, seriamos enfim livres, políticos e suas belas mentiras.

Enquanto estava na sua mesa, com a caneta na boca, passava flutuando algumas propagandas em naves flutuantes, hologramas mostrando a vida "bela" que você poderia ter ao ir para uma das colônias. Isso a fazia se sentir mal por saber a verdade, saber que aquelas belas propagandas não passavam de imagens que ela mesma havia desenhado, isso fazia com que seu estômago se revirasse, dava ânsia de vomito saber que a arte que uma vez a divertia, agora era uma das ferramentas que mantinham pessoas presas a uma sociedade falida.

Infelizmente sabia que por mais que tivesse esse sentimento, ainda precisava se fazer aquilo, não queria ter o mesmo destino.

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⏰ Última atualização: Aug 20, 2019 ⏰

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