Mil e Uma Palavras

o reconfortante colo da morte

Raphael, não tenha medo de morrer, a ideia de não acordar parece reconfortante.

Sofremos tanto todos os dias que pelo menos um dos milhares pensamentos diários que temos é "quero morrer". Claro que não levamos ao pé da letra, ninguém com saúde mental pensaria nisso realmente achando a ideia de viver o resto da eternidade em baixo da terra é melhor que solucionar aquele problema, mas mesmo assim queremos morrer. Estamos programados para isso, não concordo quando dizem que _nossa única certeza é a morte_, nascemos chorando pela sensação violenta do ar entrando em nosso pulmão, nascemos sofrendo e essa também é uma das maiores certeza que teremos na vida.

Você não vai acordar um dia, algum desconhecido vai ser pago para te dar banho, seus órgãos serão retirados e enfiaram produtos químicos no seu cadáver, alguém próximo de você te vestirá com as melhores roupas e seu rosto será maquiado. Uma coberta de flores será estendida por seu corpo embalsamado no caixote de madeira e, depois de muitas lágrimas e mais flores, jogaram rosas em seu túmulo e teu corpo ficará eternamente preso na terra que vieste.

E aí será o fim.

Isso sim me assusta, as pessoas irão sentir sua falta por alguns dias e talvez semanas. E será isso, não passará da trágica história que hora ou outra será lembrada com certo carinho. Os mortos viram pessoas boas assim que deixam de respirar, e é só isso. Não vejo a hora de deitar no reconfortante colo da morte e chorar rios de lágrimas até enfim ela me levar. Mas tenho medo.

Não deixaremos nada para trás, tudo que fomos nesses longos anos, todas as sensações, todos os toques, todos os amores e sabores, tudo irá conosco pra sabe de lá onde, todos os livros que eu li ou deixei de ler não farão mais diferença. Quero que meu legado aqui seja carregado de boas memórias, de frases impactantes e que as pessoas lembrem de mim pela minha personalidade incomum.

Eu não tenho medo da morte, Raphael, eu tenho medo do esquecimento. Esperava morrer antes de ti, meus pêsames, Luna.