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Finalmente limpo e vestido, saí do quarto e encontrei Guilherme, que me esperava do lado de fora. Ele desencostou da parede assim que me viu. Ainda era um choque olhar para ele e perceber o quanto éramos parecidos. Não me admirava que o garoto tivesse tanta certeza de que eu era o seu pai. A semelhança entre nós era assustadora, apesar de ele parecer estar bem mais conservado do que eu quando tinha a idade dele.

— Vamos, conheço um lugar que será mais agradável de conversar do que aqui — disse, descendo os degraus e fazendo com que me seguisse.

— É muito longe? — ele inquiriu animado, querendo puxar assunto. Sentia em seu timbre um quê de hesitação devido ao momento constrangedor que havíamos passado.

Ao que parecia, Guilherme estava disposto a tornar nossa conversa mais fácil, mas eu duvidava que isso viesse a acontecer.

— Não muito, se você não se importar em andar alguns quilômetros — respondi, evitando olhá-lo. — Eu costumo ir a pé da minha casa até a orla da Praia do Meio para espairecer. Podemos ir conversando durante o caminho, se preferir.

— Se não se importar, posso chamar um Uber. Eu não sou muito bom em caminhadas — ele sugeriu, sacando o celular sem preocupação alguma.

Não me agradei com a ideia, mas concordei em fazer como ele queria. Eu também precisava me esforçar e fazer a minha parte para tornar nossa conversa agradável.

— Tudo bem — eu disse, provocando-lhe um meio sorriso.

Um pouco atordoado, tirei do bolso o meu isqueiro e o cigarro que preparei antes de sair, acendi e fumei sem dar maiores explicações. Eu precisava de algum suporte para manter meus nervos em ordem e, no momento, só conhecia meu vício inseparável e fiel. De esguelha, pude ver o rapaz encarar a mim e o meu cigarro com o cenho levemente franzido, com aquele ar inexpressivo, antes de digitar algo no celular. Era o mesmo tipo de olhar acusador que havia me estudado alguns instantes atrás. Intimamente constatei que essa era a expressão que usava quando não gostava do que via em alguém que acabou de conhecer, mas a educação não lhe permitia dizer algo a respeito.

Tragando meu cigarro mais uma vez, não consegui disfarçar a fisgada de satisfação por perceber que omitir minhas primeiras impressões também era um hábito meu. Sorri, achando interessante a ideia de procurar nele mais alguma semelhança minha e me sentir feliz por isso.

Chegamos ao térreo e nos deparamos com uma senhora de lenço nos cabelos, conversando com um homem alto e careca, atrás de um balcão. O homem imediatamente interrompeu o que estava dizendo quando me viu e se esguiou, passando a bradar como um cão raivoso.

— Ei, Calebe! esperando! Você prometeu até terça!

— No domingo vou receber a gorjeta que acumulei toda semana e te pago, Daniel. Falo sério.

Em teus passos  | CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora