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De volta ao cortiço, subi os degraus até o meu quarto com o desânimo fazendo meus passos pesarem. Minha cabeça estava em chamas com tudo que eu sabia sobre minha vida virando poeira diante de mim.

Eu havia ganhado um filho, Sara havia morrido e, por covardia, abri mão da maior oportunidade que eu tinha de mudar a minha vida.

O que teria acontecido comigo se eu não os tivesse abandonado? Eu não sabia que ela havia engravidado, pois ela nunca me contou, mas, ainda assim, eu deveria ter enfrentado meus traumas por Sara, por nós. Ela me amava. Guilherme disse que ela nunca me culpou pelo que fiz. Acreditei que minha presença em sua vida seria uma lembrança viva da tragédia que aconteceu a ela, mas me enganei. O trauma que vivenciei afetou apenas a mim e sempre fui um covarde ao deixar que meus medos me vencessem.

Quando cheguei ao quarto, tranquei a porta e me sentei no chão. As lágrimas vieram, junto com todo arrependimento. O nó em meu peito apertou e eu chorei até sentir todo o meu corpo tremer.

Eu não podia mais fingir que sabia como domar os meus demônios. Jamais conseguiria me livrar desse mal se continuasse a insistir que podia lidar com ele sozinho. Ergui-me do chão e caminhei trôpego até minha cama. Sentei e procurei na gaveta do criado-mudo pelo meu saquinho e uma folha de papel seda. Com minhas mãos trêmulas, preparei o meu cigarro. Eu precisava fugir, me acalmar e encontrar meu eixo. Precisava deixar minha mente tranquila ao menos mais uma vez.

Prendi o cigarro nos lábios e busquei dentro do bolso da minha calça jeans pelo isqueiro. Puxei de dentro tudo que havia, joguei o conteúdo em cima da cama e vasculhei meus treze reais, um papel de bala, meu isqueiro e o papel em que Guilherme havia anotado o contato dele, para o caso de eu querer marcar um novo encontro.

Meus olhos focalizaram aquele pequeno papel com o nome dele gravado, como se fosse uma joia rara.

Guilherme me informou que iria embora na próxima semana. Pude ver em seus olhos a esperança de me ver novamente e me conhecer um pouco mais. As poucas horas que passamos juntos, colocando todos os assuntos em pratos limpos, não foram suficiente.

As lágrimas vieram com mais abundância ao sentir que a história estava se repetindo: eu estava novamente me afastando de um afeto que poderia me restaurar por me achar indigno de um recomeço.

Ansioso, peguei meu isqueiro; meus dedos trêmulos pela primeira vez não conseguiam atiçar o fogo e me dar o meu momento de paz. Nervoso e possesso por não conseguir ao menos isso, joguei o objeto longe, fazendo-o estilhaçar em pedaços devido ao atrito brutal com a parede.

Deixei meu cigarro cair no chão e agarrei meus cabelos, balançando meu corpo para frente e para trás. A confusão banhava cada parte do meu corpo e eu senti vergonha por todas as escolhas erradas que já tomei.

Até que a ficha caiu...

O maior erro da minha vida foi ter me afastado de Sara, então por que estava fazendo isso de novo por ter medo de me aproximar de Guilherme? Inesperado ou não, ele era sangue do meu sangue.

Olhei para o lado, encarando mais uma vez o pequeno papel amassado onde ele deixara a minha escolha, a oportunidade de procurá-lo. Havia uma grande chance de ele nunca mais vir até mim. Estava à minha escolha procurá-lo. Eu não podia escolher errado mais uma vez. Estaria fazendo com ele o mesmo que minha mãe covarde fez comigo. Seria injusto, cruel e egoísta.

Levantando-me, enxuguei meu rosto, peguei o papelzinho e procurei na cômoda por meu celular. Saí do quarto com o pensamento de ir até a conveniência colocar crédito no chip e fazer o que eu deveria ter feito quando me despedi de Guilherme.

Pela primeira vez na vida, eu não iria me acovardar. Pela primeira vez, eu não seria refém do meu passado. Iria fazer algo além de recordar um amor que perdi; eu amaria o filho que Sara me deu e, primeiramente, amaria a mim.


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Em teus passos  | CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora