Capítulo 03: Eros

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O dia passou na velocidade da luz. Após finalizar a ocorrência na rua, voltei para delegacia. A criança sequestrada estava bem e todos os sequestradores foram detidos. Havia interrogado todos eles ainda durante a manhã, com exceção do que havia sido alvejado na rua que seria interrogado amanhã, caso estivesse melhor.

A todo momento, a imagem da mulher que foi usada como escudo humano voltava à minha mente; eu estava acostumado a lidar com esse tipo de situação e nunca nenhuma vítima ficou por tanto tempo em meus pensamentos... A oitiva dela aconteceria apenas amanhã, mas agora, finalizando o expediente às 19:00hs, eu não conseguia deixar de pensar nela. Talvez seja por causa da ligação que fiz para a sua irmã; nunca vi ninguém receber a notícia de que um parente havia sido baleado com tanta frieza, precisei de muito controle para não mandá-la à merda.

Organizo minha mesa, pego minhas chaves e sigo em direção ao estacionamento, o que mais quero é chegar em casa e finalmente tentar descansar após quase três dias sem sequer cochilar, porém, ao entrar no veículo, decido mudar meu destino: antes de ir para casa irei até o hospital para ver como ela está. Tive noticias à tarde de que havia feito cirurgia e estaria sendo encaminhada para o quarto, mas eu queria ter certeza de que realmente estaria tudo bem com ela.

Chego ao do Hospital por volta das 19:30hs, me identifico para a recepcionista e, antes que ela me informe qual o apartamento que ela encontra-se internada, peço para falar com o médico responsável, e a atendente, que aparentemente está me dispensando mais sorrisos do que o normal, me acompanha até a sala do plantonista.

— Foi um prazer ajudá-lo, delegado, se precisar de mais alguma coisa é só me procurar, eu estou a sua disposição. — A recepcionista falou, dando a entender que tipo de ajuda estaria disponível a me dispensar. Eu estou acostumado com esse tipo de assédio; além da farda, sei que minha aparência chama atenção das mulheres.

— Obrigado — respondi sem querer render assunto. Ela bateu na porta do médico que autorizou minha entrada.

Estendi a mão para cumprimentá-lo. — Boa noite, Doutor, sou o delegado Eros Moraes Neto e estava na operação em que a paciente Kananda Brito de Albuquerque infelizmente foi baleada. Vim saber notícias e, se possível, queria vê-la. — O médico, um senhor de meia idade me cumprimentou e fez sinal para que eu sentasse.

— Bem delegado, a paciente agora apresenta um quadro clínico estável. Conseguimos retirar o projétil e já o entregamos para a perícia conforme solicitado. Kananda reagiu bem a cirurgia e já está no apartamento, fora de risco. Acredito que esse momento não seja adequado para realizar um interrogatório, considerando que a paciente apresentou alguns sintomas de pânico durante a tarde; nada muito intenso, mas a psicóloga registrou no prontuário, então talvez fosse melhor que aguardasse até amanhã. — O médico explicou

— Na verdade não vim interrogá-la, eu queria saber como ela estava. — Percebi que o médico me olhou como se não estivesse entendendo. — Fiquei preocupado porque a irmã dela foi um tanto fria ao receber a notícia de que ela havia sido baleada, por isso resolvi vir.

— Entendi, delegado. Ela está acompanhada agora, então se ela não se opuser em vê-lo, por mim tudo bem, mas, por favor, não insista em obter informações que a deixarão desconfortável ou agitada nesse primeiro momento. — Concluiu e pegou o interfone, pedindo que alguém me acompanhasse até o apartamento em que ela estava internada.

Mais uma enfermeira sorridente me conduziu até a porta do quarto em que ela estava. Ela pretendia bater para me anunciar, mas pedi que deixasse que eu mesmo fizesse, estava ansioso e isso não era normal para mim. Aquela preocupação só iria passar depois que colocasse meus olhos sobre ela e verificasse que realmente estava tudo bem.

Eros (Disponível Na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora