Desligo o telefone e olho para o André.
- Não te disse? O Jorge vai-me matar se não lhe apresentar tudo nos próximos dias. E é normal. Ele tem de escrever e tudo o mais...
Coloco as minhas mãos na cintura e olho para o André, que está na sala a mirar-me.
- O que se passa? - pergunto. Não sei o porquê de ele estar assim.
- Não gostas de ter a cozinha desarrumada e gostas de cumprir prazos...
- Ouviste alguma coisa que te disse? - sorrio.
Ele acena.
- já sei. Temos de acelerar.
Tiro a t- shirt dele e visto a minha blusa que está no sofá.
- podes vir cá depois de amanhã.
- não é estranho? Vir aqui tantos dias seguidos?
- Luísa, que interessa isso? És minha convidada e precisas do tempo.
Suspiro.
- além disso, sempre podes trazer algo para a noite?
Ajeitei-me e calço os meus ténis.
- Isso não é no dia do jogo?
- sim. O jogo é ao final da tarde na Luz. Devo estar aqui perto da hora de jantar.
- Não sei...
Acabo de me arranjar e olho para ele.
- se vier à noite não sei se vou estar concentrada no trabalho.
- eu venho cansado. Tenho a certeza de que não te vou distrair?
Rio.
- claro... e a tua família?
- o que tem?
- eles vão saber que venho ter contigo à noite...
André chega mais perto de mim.
- não te preocupes com isso. Vem e pronto.
Ele tem aquela cara de quem consegue tudo: e de mim vai conseguir. Depois de estarmos juntos tenho de estar com ele novamente. Pelo menos enquanto der.
Atrevo-me a circundar a sua cintura com os meus braços e volto a apoiar a minha cabeça no seu peito.
Aí, deixo um beijo.
- vemo-nos depois de amanhã.
Deixo o seu corpo, mas ele não me deixa ir sem antes me beijar.
- depois de amanhã.
- para trabalhar - digo a sorrir.
- para trabalhar e para dormir.
- sim.
Beijo-lhe a face, pego nas minhas coisas e vou embora.—
Não sei como vou encontrar o André hoje. O jogo não correu bem: o Benfica perdeu com uma equipa do meio da tabela, embora da parte do André ele tenha sido um dos melhores.São já dez da noite quando toco à campainha. O portão abre quase de seguida e entro. André tem já a porta aberta.
- olá.
Digo a sorrir. André está cansado. Consigo ver pelo seu rosto como ele está exausto.
- entra.
Aceno e entro em sua casa.
- como é que estás?
Pergunto-lhe. Ele encolhe os ombros.
- isto chateia-me porque estávamos a dormir. Literalmente, estávamos a dormir.
- Mas jogaste bem...
- o que interessa isso senão ganhámos?
- fizeste o que podias. Isso é importante.
Ele olha-me seriamente como que a registar o que lhe estava a dizer.
- mesmo assim. É frustrante. Nós somos melhores. Tínhamos obrigação de ganhar.
Coloco as minhas coisas do trabalho e uma outra mala em cima do sofá.
- as coisas são mesmo assim. Sabes isso melhor do que eu.
André olha para mim como se me fosse responder. Mas depois foca o seu olhar na minha mochila.
- Ficas cá?
Percebo exactamente o que ele me está a perguntar. Vejo agora que o seu semblante está mais leve.
- Na realidade estava a planear trabalhar desde cedo.
Aproximo-me dele.
- Hum... tanto trabalho... não posso ajudar?
- No teu caso só se fosse desajudar...
Sorrio e ele beija-me.
- Já jantaste? - ele pergunta.
- Sim... Mas estava a pensar que podia adiantar umas coisas por aqui? Acabar de ver as tais camisolas?
Ele acena e deixa-me um beijo na face.
- Claro. Foi o que combinámos. Eu vou comer alguma coisa. Estás à vontade.
Aceno e vou trabalhar.—
- Não era suposto contares-me a história daquela camisola? - aponto para a camisola de Renato Sanches na estante ao mesmo tempo que André me beija o pescoço. Sentados no chão da sala onde ele guarda algumas das suas coisas da carreira, ele empenha-se em me distrair.
- hum... hum... mas não é nada de interessante... cheiras bem...
Sorrio. É impressionante como ele se acha capaz de tudo. Até de me seduzir. E nisso não há grande dúvida.
- André... - Digo num suspiro - Vá lá...
- Tão doce... - Ele diz ao mesmo tempo que me morde o pescoço ao de leve.
- Assim não consigo... - pouso a caneta e fecho os olhos - e o Jorge?
André para as suas carícias.
- Como é possível estares a pensar no Jorge, quando estamos assim... os dois?
Solto uma gargalhada.
- Tu sabes que eu tenho razão.
- Não. Na realidade não acho que tens razão. Até porque já é tarde e também precisas de parar de pensar no Jorge.
Sei que André está a brincar comigo. Mas, mesmo assim, o seu tom é meio sério.
Viro-me e fico a milímetros do seu rosto.
- E eu pensava que hoje ias estar cansado...
- e estou. E está na hora de dormir. Contigo.
- hum... e quem acaba de fazer isto?
- Tu. Amanhã de manhã.
Ele diz de forma simples e eu não resisto a beijá-lo.
- assim de forma tão simples?
- sim... qual a dúvida?
Ele sorri.
- dúvida? Algumas... queres que eu acredite que tu apenas vais querer dormir esta noite?
- verás que é verdade... mas não disse nada em relação à manhã...
- disseste que eu ia acabar de fazer isto - digo apontando para o meu caderno.
Ele faz a cara de quem foi apanhado.
- a manhã é longa? - ele tenta ficar por cima. Acabo a rir no seu ombro - Agora tramaste-me. Tenho de ter cuidado contigo - ele completa e eu apenas fico apoiada no seu ombro a sentir-nos.
- Vamos? - diz ele ao fim de algum tempo. Eu aceno e sigo-o para o quarto.
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Estou a olhar para ele quando adormeço. E, na realidade, nada aconteceu entre nós. Apenas a presença um do outro, na certeza de que não estamos sós bastou. Para trás ficou a frustração de ambos. Ali apenas importou a presença de cada um na certeza de fazemos bem um ao outro.
—
Acordo cedo e aproveito para ficar a admirar a calma que André tem no seu rosto a dormir. Nunca percebi porque é que as pessoas gostavam de ver outras a dormir. Pensava até que isso era um mito, uma ideia feita. Mas André mostra-me que não.
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A Vida em Livro
FanfictionO que pode acontecer quando uma jovem jornalista, que está a trabalhar numa biografia, e acaba por se apaixonar pela "personagem principal", o capitão André Almeida. Se terá futuro ou não isso apenas a história o dirá!