I. Hola, Madrid.

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MADRID, 2016

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MADRID, 2016.

O dia estava ensolarado naquela manhã de sábado quando o avião finalmente pousou no aeroporto de Barajas, em Madrid, após exaustivas dez horas de vôo. Chiara estava com os olhos vidrados na pequena janela arredondada a sua frente, observando o lado de fora do aeroporto com um pequeno sorriso nos lábios. Ela sentiu um frio no pé da barriga, a clara empolgação a fazendo sentir vontade de levantar e ser a primeira a sair da aeronave. Era como se tivesse cinco anos de novo, sentada na sala de casa enquanto desembrulhava o seu presente de natal, o brilho nos olhos entregando o quanto tinha esperado por aquilo.

Era a primeira vez que viajava para fora do Brasil, levou semanas para convencer sua mãe, Débora, de que não teria problema nenhum viajar sozinha, afinal já tinha vinte anos e era muito responsável. No fim das contas, após muita persuasão por parte de Chiara, sua mãe finalmente cedeu e permitiu que a filha viajasse, mas a fez prometer que a manteria informada o tempo todo.

As pessoas começaram a se organizar em fila para sair do avião. Chiara se apressou em guardar o livro que estava lendo dentro da bolsa, junto com os fones de ouvido e o pacote de biscoito que estava quase intocado. Ela nunca conseguia comer direito se ficava ansiosa.

Depois de conseguir se orientar no movimentado aeroporto, a brasileira tirou sua mala da esteira e caminhou até a fila da imigração em seguida. Para o alívio de Chiara, o processo todo não levou mais do que vinte minutos e logo estava, oficialmente, pisando em terras espanholas. Ela não pôde evitar sorrir com o pensamento. Não acreditava que finalmente estaria reunida com os irmãos, os quais não via desde pequena, e mal podia esperar para explorar a cidade pela qual já estava apaixonada.

— Chiara? É você?

O som da voz masculina atrás de si tirou a brasileira dos próprios pensamentos, fazendo-a virar o rosto de uma vez com uma expressão atordoada.

Um sorriso cresceu nos lábios de Chiara ao ver que o dono da voz era seu irmão, Gressy.

— Não acredito que é mesmo você — o homem disse, ainda com o mesmo tom de surpresa e andou até ela — Quando foi que você cresceu tanto?

— Quando foi que você ficou tão velho? — ela perguntou em um tom brincalhão.

Gressy revirou os olhos e puxou a irmã para um abraço, tirando a do chão enquanto girava junto com ela.

— Como foi a viagem, pirralha? — seu irmão questionou depois que desfizeram o abraço.

— Tranquila, mas eu mataria por um banho e uma cama confortável agora... — respondeu, entregando as malas para ele.

— Então vamos logo, não quero correr o risco de ter que pagar sua fiança. — Gressy disse em um tom brincalhão, fazendo a irmã revirar os olhos e rir baixo.

Poucos minutos depois de sair do aeroporto, Chiara colocou o chip recém adquirido em seu celular, podendo então finalmente ligar para sua mãe. Ela sabia que não passava das seis da manhã no Brasil, porém também sabia que sua mãe não ficaria relaxada se ela não ligasse assim que o avião pousasse em Madrid, como havia prometido antes de ir. Além do mais, Débora foi clara quando disse que a filha deveria ligar a qualquer momento que quisesse ou precisasse, sem precisar se importar com o fuso horário. Aquela foi a única condição da mais velha para que permitisse que a filha viajasse sozinha.

As duas conversaram durante todo o trajeto até a casa de Karim, irmão mais velho da garota, e sua mãe só encerrou a ligação depois que Chiara prometeu mandar mensagens todos os dias, como uma forma de saber que ela estava realmente bem.

[...]

Assim que entrou na casa do seu outro irmão, Chiara foi recebida com um sorriso largo e um abraço apertado do próprio. Um simples abraço não era suficiente para compensar o tempo que ficou longe da irmã, mas de qualquer forma Karim estava feliz que eles estavam finalmente todos reunidos.

— Olha só você, a última vez que eu te vi você ainda brincava de boneca — ele falou em um tom brincalhão e bagunçou o cabelo da irmã, fazendo com que ela resmungasse — Como foi o vôo?

— Tudo bem, apesar de que eu não consegui pregar o olho ou comer alguma coisa que não fosse uma barra de cereal e alguns biscoitos, tudo por causa da minha animação exagerada. Agora eu estou cansada e morrendo de fome... — ela respondeu segundos antes de bocejar.

— Certo, então é melhor você jogar uma água no rosto para despertar e depois a gente pode almoçar, todo mundo junto — o francês sugeriu — Vem, vou mostrar o seu quarto — ele pegou as duas malas da irmã e então os dois subiram em direção ao quarto de hóspedes onde ela ficaria.

Chiara não se importou tanto em desfazer as malas de imediato, ela preferiu deixar essa parte para o outro dia já que estava cansada. Após um banho rápido e uma troca de roupa, a brasileira desceu e seguiu em direção a cozinha, onde encontrou os irmãos entretidos em uma conversa.

— Você já sabe o que vai fazer amanhã? Ou prefere ficar em casa? — Gressy perguntou, virando o rosto para encarar a irmã.

— De jeito nenhum, eu quero aproveitar ao máximo meu tempo aqui. Pensei em dar uma volta por aí, conhecer alguns lugares.

Chiara então viu o irmão mais velho direcionar um olhar confuso em sua direção e não demorou muito para que ele fizesse perguntas.

— Como assim? Você nem conhece a cidade.

— Eu pesquisei muitas coisas antes de viajar, não vai ter problema nenhum — deu de ombros.

— Mas não é a mesma coisa e você sabe disso — o jogador rebateu, ainda não concordando com a ideia.

— Karim, vai dar tudo certo, eu sei me virar muito bem. Prometo não demorar mais do que uma hora.

O homem bufou em sinal de desistência, sabendo que a irmã estava certa em parte. Ela merecia um voto de confiança.

— Certo, mas toma cuidado, por favor.

— Pode deixar! — ela sorriu vitoriosa e sentou na mesa junto dos irmãos.

A brasileira mal podia esperar para começar sua aventura em terras espanholas.

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