08. Uma boa companhia até à escola

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O sono chegou tão rápido que acabei por deixar o meu melhor amigo a falar sozinho por mensagens a noite toda. Não jantei ontem, pois não queria encarar a minha mãe, depois daquele pequeno mas muito embaraçoso momento. Encontrava-me agora estendida na cama, de barriga para baixo, uma mão debaixo da almofada, e a outra completamente descontraída paralela ao meu corpo. *Escola .. porque existes ?* - pensei enquanto soltava um longo e demorado suspiro, enterrando a cara na almofada de seguida. A cada mudança de escola, cidade e tudo mais, cada vez, tudo se tornava menos apelativo á minha cabeça. Era como se cada ano de escola, fosse passado num ambiente diferente, como se eu fosse uma experiencia para preencher papéis com dados estatísticos, que na verdade, seja qual for o ambiente que um adolescente frequenta, a reacção, opinião e tudo mais o que "eles" anotam, fosse igual: "Não quero sair da cama".

Surpreendentemente, hoje não ouvi gritos da minha mãe a chamar-me para o pequeno-almoço, apenas despertei um pouco mais, devido às lambidelas do meu cão, Sam. Originalmente, quando o vi pela primeira vez, pensei ser uma fêmea, mas com o passar do tempo, fui crescendo e dei-me conta que ... Afinal a "Samantha", era na verdade um "Samuel". 
Desci as escadas ainda em pijama, e dirigi-me á cozinha com o cabelo apanhado numa "cebola". Assim que entrei, fitei a minha mãe durante longos segundos, ela parecia diferente esta manhã, ainda estava de robe, chinelos, e notava-se que ainda não tinha lavado a cara. Fui até ao frigorífico para beber um iogurte, visto que já estava um pouco atrasada. Bebi-o enquanto andava pela cozinha, e mandava mensagens. 

- Ele foi-se embora sabes ? - Inquiriu-me fitando-me com olhos chorosos. 

- Porquê mãe ? - Perguntei, enquanto atirava o iogurte para o lixo, batendo de seguida uma palma como se estivesse num jogo de basquete. 

Levantou-se e apertou mais um pouco o cinto do robe. - Porque não gosta de mulheres com filhas. 

O meu coração quase parou ao ouvir as suas palavras. *Estaria ela a culpar-me por lhe ter "tirado" um de um milhão de homens com que tentou ter uma relação após o pai ?* 
Ela apertou o cabelo com um elástico velho, formando um rabo-de-cavalo caído. - Vou-me deitar, boa escola.


Fiquei paralisada, enquanto a observava desaparecer em direcção ao quarto. Engoli em seco e abanei a cabeça. *A culpa não é tua* - Repeti várias vezes na minha cabeça até me interar que a culpa não era realmente minha. Corri até ao quarto e vesti-me num ápice, hoje havia decidido não meter maquilhagem, também ninguém iria reparar em mim. Depois soltei o cabelo, dando-lhe um ar rebelde. Peguei na mochila, e num pequeno palmier para comer a caminho da escola. Peguei nas chaves de casa que se encontravam numa pequena mesinha ao pé da porta, e abri a mesma. Não tranquei a porta, pois a minha mãe poderia querer sair a meio da tarde, mas duvido muito que o faça.

Ao descer o pequeno trilho que dava acesso ao passeio da minha rua, estranhei dois pés que se encontravam juntinhos virados para a minha casa, fui vagueando o meu olhar até chegar á cara. E que linda cara era. 

- Estás atrasada, são 7:40, a que horas disse-te para estares aqui ? - Tentou fazer cara de mau, mas fracassou, pois uma leve gargalhada escapou-lhe pelos lábios. 

- Não pensei que viesses, Hemmings. - Ajeitei a mala, de seguida o cabelo e sorri-lhe ternamente.

- Estou aqui não estou ? E daqui a 15 minutos temos que estar na escola, por isso mexe-te Sra. Palmier. 

Ri-me e dei-lhe um pequeno empurrão, forte o suficiente para o desequilibrar, mas não para o fazer cair, nem sei se o conseguia fazer, provavelmente não. 

- Eu vim não vim ? - Fechei os olhos e sorri largamente numa forma de implicação amistosa. Ele fez o mesmo, mas manteu os olhos abertos, fitados nos meus.

A meio do caminho ele parou, e dirigiu-se a um café. Segui-o e não consegui conter o riso, ao vê-lo com igualmente um palmier na mão. 

- O que foi ? Não és a única que gosta, além disso não comi nada de manhã porque tive que ir buscar alguém a casa não é ? ... - Lançou-me um sorriso provocatório, e "empurrou-me" lentamente até sairmos do café. 

Meet You At 102 [PT. FanFic]Onde histórias criam vida. Descubra agora