Uno

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No lixão do barranco perto do matagal na Rua da tulipa, morava uma família de ratos de descendência russa. Renato - ou Renatowisk como era conhecido pela vizinhança do lixão - , era o caçula da família. Não tinha sotaque como os país, mas mesmo assim era zoado por ser russo.

"Cara, tem certeza que tu não quer um gole dessa vodka?" Perguntou Bartolomeu, o barata burguês.

"Não mano, to suave." Respondeu Renato, o rato russo.

Renato e Bartolomeu frenquentavam toda noite o bar do Gildo, o grilo. O único estabelecimento do lixão em que era permetida a entrada de baratas. Bartolomeu sempre tinha dinheiro, mas como não era bem vindo em outros lugares acabava gastando tudo com bebida.

"Um russo que não aprecia vodka. Tu é um camarada estranho Renatowisk." Bartolomeu deu mais uma golada forte. "Essa é da boa!"

Renatovisk acendeu um cigarro, tragou e soltou anéis de fumaça no ar. Um deles foi parar na cara de Bartolomeu, que tossiu.

"Qual foi doidão! Não é porque minha espécie sobrevive a bomba atômica que tu tem que ficar jogando esse mata rato na minha cara!" Bartolomeu voou pra outra mesa fugindo da fumaça.

O rato nem ligou. Preferia o cigarro do que a companhia do barata. "Cara chato. Só sabe contar vantagem do dinheiro que tem guardado." Pensava Renato assistindo o cigarro queimar.

Um rato grande e gordo entrou no bar. Seu nome é Boris, um dos irmãos mais velhos de Renato. Avistou o irmão com o cigarro e sentou-se junto a ele.

"De novo fumando maninho?" Perguntou meio que nem ligando. "Seguinte, o pai ta precisando de você pra um serviço."

"Boa noite pra você também, Boris."

"Ah, ta. Boa noite." Boris não entendia a educação. "Vai ou não vai?"

"Vou, vou..." Suspirou fumaça. "To precisando de uma grana."

"Boa maninho. Sua morte lenta não é de graça." Disse referindo-se ao cigarro do irmão.

"Pois é. Avisa o pai que já to indo."

Boris deixou o bar do Gildo sem gastar um tostão. Gildo, o grilo ficou indignado. Odiava quando faziam isso. 

"Tão pensando que meu bar é um clube!? Ou vem pra gastar dinheiro ou nem vem!"

 Gildo estava longe de ser o cara mais simpático do lixão, porém todos eram obrigados a lidar com ele. Gildo é protegido pela máfia dos vira-latas que controlava todo o lixão, além da rua.

"Só queria viver da minha arte..." Lamentou Renato amassando o cigarro no cinzeiro.

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