Numa manhã de primavera, em uma floresta densa e fechada. Onde os raios do sol, penetravam entre as folhas das árvores. Haviam ali inúmeras aves de canto, que desde o alvorecer da manhã cantavam desordenadamente, fazendo assim uma grande algazarra.
Além das aves cantantes, também podia se ouvir o som de um riacho, onde havia uma minúscula cachoeira, fazendo um som muito atraente aos animais, onde podiam beber água, se banhar e até pescar.
Perto dali, numa pequena clareira, haviam muitos bichos diferentes reunidos, também muitas aves de canto, que estavam em uma grande discussão e disputa, para eleger qual das aves era a melhor cantora. Assim também muitas outras aves que estavam ali para ajudar a avaliar quem era a melhor.
Outras aves e bichos dos mais variados, se juntavam nos galhos das árvores, que estavam ali por curiosidade em ver, pois tamanha era a aglomeração e discussão, que os galhos das árvores se curvavam até o chão com o peso das aves e bichos empoleirados.
Ouviu-se então alguém, que lá do meio bradava com uma voz, bela, aveludada e muito respeitada na floresta. Essa voz era da Dama da Noite, uma grande e sábia coruja, que todos a conheciam, pois era muito famosa por possuir umas penugens acima dos ouvidos, parecendo duas orelhas e por isso era apelidada de coruja orelhuda.
- Silêncio! Silêncio todos vocês! - exclamava a grande coruja, que foi eleita juíza do evento; neste momento, todos se calaram, assim ouvia-se apenas a coruja falar abertamente, empoleirada em um toco de uma árvore, que havia caído há muitos anos em uma tempestade. Assim levantou-se a voz da coruja:
- Vamos começar as apresentações individuais, em que cada uma das aves concorrentes entoarão seu canto a capela, quanto os demais, permaneçam em silêncio, principalmente você papagaio.
- Eu vou ficar calado, currupaco! - dizia o papagaio tagarela.
- Vamos começar então a nossa sessão de canto, após isso, irão votar em qual das aves cantantes é a melhor. - afirmou a coruja.
Assim haviam apenas três aves cantoras, que foram eleitas as melhores, que estavam cada uma em um canto diferente, aguardando o momento de se apresentarem, esperando a ordem da coruja, onde cada uma iria cantar isoladamente o seu canto característico.
Então neste momento de grande expectativa, em que as aves esperavam ansiosamente as apresentações, ouviu-se algo estrondoso na floresta. Um pouco distante, havia uma araponga que resolveu cantar inocentemente, sem saber do evento. Neste momento, todos colocaram a cabeça entre os ombros, em sinal de incômodo pela ave estridente.
- Ah! Justo agora, a araponga resolveu cantar! - disse a coruja com um ar irritado. Por favor, alguém vá até lá e diga para a desinformada parar e se juntar a nós. - ordenou a coruja meio irritada.
Então o papagaio, que já era um amigo da araponga foi até lá pra dar o aviso, passado alguns instantes, chegaram os dois, o papagaio e a araponga, para se juntarem a eles no evento.
- Muito bem! - continuou a coruja. Podemos retomar onde paramos. Que o candidato número um se apresente aos demais! - disse a coruja em voz alta.
Assim, manifestou-se um trinca ferro em meio a uma pitangueira, passou a se apresentar:
- Saudações a todos os presentes, todos sabem que sou muito famoso pelo meu canto muito audível, estridente e inconfundível na floresta. - disse com grande voz o trinca ferro, assim passou a cantar o seu canto característico.
Após isso ouviu-se muitos batimentos de asas, de bicos e muitos assobios, entre os torcedores, também o galo cantava em meio o alvoroço, até que veio o silêncio novamente.
- O primeiro candidato apresentou-se muito bem, agora ouviremos o segundo candidato, apresente-se por favor! - disse a coruja com uma expressão alegre.
assim, o canário veio a se empoleirar mais a frente e passou a falar:
- Assim como o trinca ferro, também sou muito famoso, possuo um canto inconfundivelmente característico e admirado por muitos.
Então o canário passou a cantar o seu belo canto, ao terminar também se ouviu uma grande algazarra, onde a araponga cantava com seu estridente canto e gritava dizendo:
- É o maior, é o maior, é o canário, taum taum taum!
Após alguns instantes, reinou o silêncio novamente, assim a coruja passou a falar:
- Muito bem, muito bem! Agora vamos ouvir o último candidato, por favor se apresente.
Então, em meio a todos, o sabiá se empoleirou vindo a bradar.
-Todos sabem que eu sou o maioral, costumo cantar, antes mesmo dos primeiros raios do sol da alvorada, para que todos me ouçam cantar, enquanto estão despertando e ninguém me atrapalhe, por isso sou o maior e mais famoso de todos.
Assim, o majestoso sabiá, estufou seu peito e começou a cantar seu belíssimo canto.
Ao terminar, ouviu-se sua grande torcida, que por sinal era a maior de todas, destacando-se o papagaio, que gritava muito em meio a todos dizendo:
- Sabiá é o maior! Sabiá é o maior, currupaco!
Depois do grande alvoroço, houve o silêncio novamente, então a coruja passou a falar:
- Agora que todos os candidatos já se apresentaram, vamos começar as votações, para podermos eleger quem é o melhor pássaro cantor...
Neste momento, um pouco distante dali, ouviu-se um som muito estranho, um outro pássaro estava cantando ali próximo do riacho.
Todos pararam e começaram a perguntar uns aos outros.
- O que é isso?
- Que som maravilhoso!
- Será uma flauta?
- Será um clarinete?
- Quem será que está cantando?
Então, neste instante, chega o bem-te-vi e muito eufórico para avisar a todos dizendo:
-Eu vi, eu vi! É ele, é ele que está cantando!
Então todos perguntaram, quase ao mesmo tempo:
- Quem, quem você viu?
- É o uirapuru, é o uirapuru, é ele que está cantando! Bem que eu vi, bem que eu vi!
Então todos foram lá ver, a ave que cantava o seu belíssimo canto.
Chegando lá, viram o uirapuru cantando próximo do riacho, assim toda a bicharada da floresta, os pássaros, os macacos até mesmo as cigarras, ficaram todas em silencio, ouvindo o lendário pássaro. Que após cantar, bateu as asas e sumiu na escuridão da floresta, deixando todos maravilhados.

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A Grande Discussão
Short StoryNo meio da floresta, aves cantantes disputam o lugar de melhor cantora, a coruja foi eleita como juíza do evento. Após a apresentação de todas as aves candidatas, surge um canto inesperado em meio a mata.