O Primeiro Choque

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A noite havia caído quando eu percebi o foco luminoso de uma fogueira crepitando no bosque e decidi investigar. Alguns dias atrás percebemos um Noctowl circulando por essas bandas durante a noite, por isso eu tentei fazer meu caminho por sob folhas e galhos para evitar ser visto pra não terminar virando ração de coruja. Eu esperava encontrar um acampamento na clareira, mas em vez disso, encontrei uma batalha.

No centro da clareira havia um Torchic visivelmente ferido. Do outro lado, repousado sobre um galho, fechado em suas asas e lançando um imponente olhar para aquele indefeso torchic, o imenso Noctowl que eu torcia para não encontrar. Ele nada fazia, apenas encarava o oponente com um olhar ameaçador, como se esperasse por algo. A julgar pelo estado do torchic, tão esgotado e em frangalhos, passei a acreditar que não era mais um combate, mas uma chacina. De repente ficou claro para mim que em questão de instantes aqueles torchic já era e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar, a não ser olhar.

Eu recuei, tentando manter o máximo de silêncio possível para não ser percebido, mas ao primeiro esvoaçar de suas asas se abrindo eu me assustei. Como consequência disso, disparei um choque de trovão sem querer. Não sei se ele iria embora, ou se daria um golpe de misericórdia naquele pequeno pokemon de fogo, mas eu acabei chamando sua atenção.

Antes que eu pudesse perceber, eu corria a todo fôlego com um noctowl gigante à minha cola. O espaço entre as copas das árvores não era tão vasto para manobras, mas aquele grande bastardo era teimoso.

Com meu vigor ruim, a melhor coisa que eu podia fazer era evitar algum ataques aéreos fugindo em zigue-zague e contar com os acidentes do terreno pra me proteger, correndo por entre as pedras, tocos e galhos derrubados. Eu fiz isso pra despistar e quase pude sentir as garras dele me tocarem antes de me enfiar em algum vão entre pedras e troncos durante a fuga. Fugir para a toca assim teria sido uma ideia muito boa se eu não tivesse me enfiado em um beco se saída sob uma raiz de árvore.

— OOOOWL!", depois de me encurralar, ele tentava esticar as patas para me alcançar.

Ai torou dentro. Preso dentro de um tronco, com um bicho gigante tentando enfiar as garras e o bico pra me pegar. Se eu soubesse que na realidade seria assim, eu nunca nem teria feito grind nos jogos pra bater em pokemons selvagens só pra upar o nível do meu time. Mas estava tarde para se arrepender. Aquele Noctowl lazarento provavelmente esqueceu do Torchic, mas focou em mim e não parecia querer desistir.

Eu não pude deixar de me sentir nervoso diante da situação. Pressionado por ele, meu pelo e cauda arrepiaram, meus dentes apertaram e eu senti minhas bochechas carregarem novamente. No entanto, diferente de antes, não era uma emoção súbita que despertava minhas glândulas elétricas.

De repente Eu... Eu senti que podia controlar!

Ele me encarou com seus olhos abertos, eu encarei de volta. E aí, meu amigo:

— Piiiii... CHUUUU!!!! - Lancei meu primeiro Choque de Trovão, ao menos o primeiro que eu pude controlar plenamente. Não foi lá algo que se possa dizer "Nossa, mas que maravilha esse choque de trovão", mas deu pro gasto. Tirou aquela coruja lazarenta do meu caminho por tempo suficiente pra eu poder sair daquela toca e continuar a fuga.

Esperando ter atordoado o meu adversário, eu fugi com toda a força das minhas patinhas, mas não percorri uma distância grande até perceber que ele alçou voo novamente. Eu corri com todo meu fôlego, mas estava perto da toca. Antes que eu pudesse pensar em olhar para trás e ver se ele estava perto, um Choque do Trovão o alcançou, deixando-o atordoado por mais tempo do que eu fui capaz. Três Pikachus do meu bando surgiram para cobrir minha fuga e eu só pude escutar os ataques sendo trocados antes de voltar à toca. Pelo que eu pude notar, Piipi havia alertado os outros sobre o fogo e disse que eu fui ver o que era. Não sei o que ela falou a todos, mas com certeza me livrou de tomar umas broncas.


***


Alguns dias se passaram desde aquele evento, sem nenhum sinal do Noctowl ou mesmo do Torchic que ele atacou. Desde então eu passei a notar um comportamento de patrulha entre os Pikachus mais fortes. Nunca ouvi falar de Pikachus terem algum tipo de divisão de funções em bando, mas felizmente isso ajudou a manter o perigo afastado. A vida normal do grupo seguiu, até que chegou o dia em que nossa babá e outros Pikachus nos levaram para a clareira, para além da grama alta...

Pokemon Isekai - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora