A Princesa Encarcerada

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Nossa formação em 'V' seguia rumo à grande árvore no centro da floresta quando explodiu o pio estridente do bastardo, alto e estridente como a águia da Portela, mas tão aterrador que fomos tomados por um breve ataque de pânico. A formação se desfez e, montado no líder dos pidgeys, eu ascendi enquanto Pii e Pippi foram para lados opostos.

Duvido que os hoothoots tenham tido tempo suficiente para avisá-lo, e ainda que tivessem, duvido que ele estivesse nos aguardando. A explicação mais provável é que estávamos invadindo seu território e, para manter seu poderio e domínio, ele respondera imediatamente a nosso desafio.

O trovão ressoou. A batalha havia começado. A sorte estava lançada.

Meu companheiro alado piou algo que não sei dizer se era "Segure-se" ou "Lá vem ele!", mas na atual circunstância não fazia diferença. Agarrei-me firmemente pra resistir à força G da subida e, após descrever um parafuso ascendente, o pidgey mergulhou, descrevendo uma espiral em uma manobra para evitar as garras do enorme Noctowl que nos havia mirado. Mergulhamos até perto da copa das árvores com o bastardo na nossa cola, berrando o que naquele instante parecia o grito da própria morte.

Os outros pidgeys vieram sozinhos no encalço do bastardo, flanqueando-o para um ataque esporádico, mas frequentemente pouco efetivo. Minha única preocupação eram aquelas garras afiadas como aço. Eu queria poder ajudar no combate, mas tive medo de ferir nossos aliados ao usar um choque de trovão. Ainda assim a tensão havia me deixado carregado e eu precisava liberar isso rápido.

Mergulhamos mais uma vez, agora voltando para baixo das copas, e desviamos entre folhas e galhos, que eram abruptamente rasgados e estilhaçados pelas garras e bico do Noctowl. Mesmo pressionado pelos outros dois pidgeys, o bastardo era insistente.

"Solte!", berrou meu companheiro pidgey

Imaginei que estava limitando seus movimentos com a força da minha pegada, por isso acatei e larguei as penas do dorso do pidgey. Nesse instante ele subiu novamente descrevendo um loop, o Noctowl passou direto sob nós e os outros dois pidgeys se puseram à nossa frente.

"Vá!", eles disseram, "Vamos distraí-lo!"

Com um giro no ar eu fui ejetado do pidgey, mas me segurei facilmente em um galho, de onde ainda podia ter a visão panorâmica. Eu havia sido levado ao mais próximo possível da Grande Árvore, sob cuja copa estávamos. E enquanto o dogfight prosseguia nos céus da floresta, eu pude notar a posição de Pii e Pippi, sinalizando com pequenos choques. Meu corpo era leve e ágil suficiente para prosseguir de galho em galho pelas copas até onde meus irmãos estavam. A adrenalina ajudou a manter o fôlego.

"Vamos Pip!", Pii chamava, "Deve estar lá!"

"Preparem-se, pode ter mais!", antes de partir, Pippi ficava em alerta, pronto para atacar

Se de longe aquela árvore não fazia sentido, de perto menos ainda. Era tão distinta como se alguém tivesse tido a ideia de plantar um baobá gigante no meio da floresta amazônica – olha que lá até existem grandes árvores, mas nessa proporção era a primeira vez que via. Ela despontava sozinha numa colina no meio da floresta, cercada apenas por vegetação rasteira rala e pedras com musgo. Uma abertura no tronco descia até a raiz criando uma abertura natural, que logo invadimos esperando alguma resistência ou a nossa amiga Polywag.

Havia um verdadeiro salão, forjado naturalmente pelas formas da raiz, amplo o suficiente pra um ser humano adulto ficar de pé, ainda que encurvado. Uma espécie de ninho dava acesso direto tanto à abertura frontal quanto a um vão que se abria para a copa da árvore, mas fazia muito calor ali dentro. Focos de calor emanavam de fendas no chão da toca próximas às raízes, como se um grande fogo estivesse aceso sob a própria árvore, provendo o aquecimento.

Mal tínhamos superado o choque de calor no interior daquela raiz quando escutamos um chamado 'poly, poly!', e foi quando Pii avistou nossa amiga. Corremos pela estrutura interna da raiz alcançando o ninho, ao lado do qual ela estava encarcerada. Parecia tão abatida pelo calor quanto nós, e haviam restos de pequenas frutas em sua jaula. Para minha surpresa, a jaula era uma pequena gaiola de ferro, semicircular como as que eu via na feira, num lugar onde se vendia canários, sabiás e periquitos.

Ignorando a ironia de uma ave ter aprisionado outra criatura em uma gaiola, eu estava mais preocupado em tira-la de lá, mas ver um artefato tão complexo e claramente fabricado me deixou animado quanto à possibilidade de estarmos perto de alguma cidade.

"Pip! Pii!", ela chamava, "Socorro!"

"Calma, vamos tirar você daí!", Pii respondia. Curiosamente após a recente experiência com Pippi, eu conseguia entender melhor a comunicação a partir do contexto. Tenho certeza que essa habilidade será muito útil pra mim no futuro.

Pippi tentava encontrar algum ponto fraco na gaiola, mordendo aqui e ali, até que perdeu a paciência e quase disparou um choque. Pii lhe deu um empurrão antes:

"Está doido? Você vai ferí-la!", gritou

Eu tornei minha atenção à gaiola, procurando a portinhola. Na verdade era uma simples gaiola sem tranca, presa apenas por uma haste férrea, cujo movimento de abertura era por demais elaborado para ser feito por alguém sem braços como a polywag. Tudo que precisei fazer foi puxar, girar e puxar novamente a haste, a portinhola destravou com um click e a felicidade nos olhos da Polywag voltou:

"Boa, Pip!", diziam os meus irmãos.

Poly – decidi chama-la assim – estava livre e já podíamos voltar para casa, mas ainda teríamos que despistar o grande bastardo. Desejando que nossos amigos pidgeys ainda estivessem tentando manter o Noctowl ocupado, corremos para a saída.

Mas o Noctowl selvagem apareceu...

Aterrissando sua figura imponente e aterrorizante, ele nos encarou com olhos reluzentes enquanto meus irmãos e eu estávamos encurralados na saída da toca.

"Você...", ele encarou a mim de forma bastante particular, "Não vou deixar que escape agora..."

"Pra trás, Poly!", eu gritei, e ela recuou para trás de uma raiz

O bastardo estava ferido, haviam marcas por todo seu corpo, mas ele claramente havia levado a melhor. Por isso eu não pude evitar pensar que aqueles pidgeys podiam ter encontrado um final trágico por nossa culpa. Mas eu não me sentia culpado por isso. Eu fervia de ódio.

Pii e Pippi se alinharam comigo e carregamos nossas glândulas elétricas. O bastardo continuou nos encarando, abrindo suas asas e exibindo suas garras como aço negro.

"Vocês ousam me enfrentar?", berrou, "Vão se arrepender!"

Pii, Pippi e eu avançamos. O bastardo também. Havia começado o confronto final da nossa aventura...

Pokemon Isekai - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora