Estava decidido. Eu iria voltar pro Carmem D'olland um dia depois do Natal. Meu pai nem quiz me ouvir. Haviam grandes chances de me mandarem morar com a vovó na fazenda. NUNCA.
Depois que acharam um jeito de se livrarem de mim, não vão dispensar a ideia do colégio interno. Que consideração hein...Você deve estar pensando que aquele lugar é ruim... Não é ruim. Mesmo passando um semestre apenas lá. Fiz amigos, inimigos e até uma reputação. Estava até começando a gostar, mas, existe uma diferença entre tentar sobreviver e querer passar mais dois anos naquele lugar.
...
Ao chegar nos portões, percebi que não era a única que tinha sido despejada pelos pais. Era 26 de dezembro.
Como pais amorosos não querem passar o feriado com suas filhas?
Essa é a mesma frase que Nana disse para mim quando falei que meu pai não queria me ver. Óbvio que foi ironia dela.A minha companhia era pouca. Algumas garotas entravam levando as malas consigo, outras com um empregado para carregar suas malas que com certeza foram mais caras que meu celular.
Passando pelo jardim de frente, - que eu tinha esquecido como era grande - depois entrando no corredor principal, vi Millicent organizando alguns papéis.- Eryn. - Exclamou Millicent sorrindo.
- Vim buscar minha chave nova. - Joguei a mochila no chão e encostei meus cotovelos na mesa.
- Ok. Senhorita Eryenne Vazoni Damàs. - Fala olhando pro computador. - Andar B Número 17. - Virou e pegou a chave correspondente que estava pendurada na parede. - Paciência com a colega nova. Não queremos problemas - Sorriu e me entregou a chave.Eu entendi a mensagem. Millicent, como secretária sabia todos meus problemas e confusões. Nós tivemos tempo para conversar quando eu era expulsa da aula.Vamos dizer que meu temperamento é meio incontrolável.
Mesmo que estejamos em Dezembro, o espírito Natalino esqueceu de me visitar.
Em meio a tantas filhinhas de papai frescas é difícil balancear a educação.Lá estava eu no corredor do andar B novamente. Quando cheguei aqui, meu quarto era no andar C e acabei trocando com uma menina aí. Minha parceira do B20 era insuportável, espero que a nova seja educada ou muda.
- Marian Ribas-Martin. - Dizia a Ficha grudada na porta ao lado do meu nome.
Abri a porta e vi a cama do canto esquerdo cheia de tralha.- Eryenne? - Alguém gritou do banheiro. Uma garota de cabelos curtos sai do banheiro com as mãos para trás.
- Eryn, por favor. - Disse enquanto colocava minha mala encima da cama da direita.
- Ok. - Respondeu meio nervosa.
- O que você tá escondendo aí? - Inclinei a cabeça para o lado rindo.
- Hum... Nada.
- Se for comida, eu quero. Se for seu shampoo, quero emprestado. Se for camisinha, dispenso. - Falei enquanto desfazia as malas.
- Como você sabia? - Ela perguntou se aproximando.
- As minhas outras colegas escondiam, são coisas de "valor". - Fiz as aspas com os dedos. - Qual dos três trouxe? - Perguntei e olhei para ela que já estava sentada na minha cama me vendo bagunçar. Marian abriu a mão... - De morango do oriente? - Gargalhei. - Essa é nova por aqui.
- Pelo visto você já conhece bem o pessoal daqui. - Ela fechou a mão com um pouco de vergonha.
- Estou aqui a pouco tempo, sei de algumas coisas. Sinceramente... Camisinha Morango do oriente. - Eu gargalhava como uma hiena, o que fez Marian rir também.
- Eu sei que temos aulas com os garotos do Demetrius Loff só quis garantir - Ela riu.
Demetrius Loff era um colégio interno para garotos que ficava perto de nós. Como prédios vizinhos. Temos algumas aulas mistas e alguns eventos também.
Eu entendo Marian se preocupar em passar um ano, literalmente morando num colégio cheio de garotas. Parece que as Barbies plástificadas têm um fogo a mais. Espero que não se acenda muito. Plástico derrete.- Olha, a gente tem sim aulas com eles, mas, eles não dormem no mesmo prédio que nós e eu acho que você sabe disso. - Ironizei.
- Sim, mas nunca se sabe. - Ela falou devagar, dando a entender as suas intenções.
Arrumei as roupas e decidi comer. Fui sozinha, pois a Marian estava visitando uma amiga no andar C.
As alunas sempre chegam em Janeiro, porém, algumas preferem antecipar os estudos, outras não tinham para onde ir, como eu ou o exemplo de Nana.Nana poderia estar na Espanha, mas como eu reclamei que passaria o Ano Novo aqui, ela decidiu me fazer companhia.
Eu chegava perto da Cantina do andar B e escutava algumas vozes .- A aquela vaca da Saya deve ter aprendido a não se meter com pessoas da classe alta. - Dizia Carmen e a sua esquerda estava Nana.
- Já estão fofocando? - Perguntei me sentando ao lado de Nana.
- Não exatamente.
- Eu estava dizendo que fui no shopping e encontrei a Saryn passando um vexame. - Riu Carmen.
- Nunca entendi seu ódio por essa garota, Carmen. - Disse Pam, se aproximando de nós com uma bandeja na mão. - Oi, Eryn! - A mesma senta ao meu lado.
- Oi, Pam. Exatamente. - Voltei ao assunto. - Você fala tanto da Saya que vai acabar se apaixonando. - Ri.
- Eca! Não curto isso, quem curte é você. - Carmen passou a bomba para mim. Sinto a falsidade no ar, talvez seja o perfume dela.
- Na real. A Saya não faz muito meu tipo. - Neguei enquanto via Nana rir com a boca cheia de algo parecido com um sanduíche.
- Seu tipo? Eryn, Não sabia que você tinha um tipo. Não adianta negar. Você curte.- Dizia Nana de boca cheia.
- Você precisa de Óculos, Nana. Eu curto, mas, não curto a Saya. - Nana e Carmen arqueavam a sobrancelha para mim em tom duvidoso.
- Enfim, é melhor mudarmos que assunto, senão, a Eryn terá que negar pelo resto do dia. - Comentou Carmen.
- O que eu perdi? - Perguntou Pam.
- Eu estava falando sobre ter visto a Saya ouvindo gritos de uma senhora no shopping. Ela tinha derramado sorvete "sem querer'' na roupa da mulher. E serei franca, aquele vestido com certeza era mais caro que a minha mala da Gucci. A Saya ficou se desculpando enquanto a mulher gritava.
- O que aconteceu? - Perguntou Nana curiosa.
- Não sei. Fui embora. Que pena, queria ter aproveitado mais. Isso é para ela aprender a ser menos distraída. - Carmen e seu potêncial para vilã da Disney chegam a ser bem irritantes.
- Quem sabe a Eryn não dá um jeito nisso. - Soltou Pam.
Todas olhavam para mim, que decidi comer algo. Nesse caso, um dos sanduíches da bandeja de Pam.
Antes que você ache que a Saya é uma crush ou algo do tipo... Não! Ela só me ajudou uma vez. Talvez por ela ter apartado minha primeira discussão neste colégio eu me sinta apenas agradecida.
Isso é o máximo que precisa saber sobre ela. Saya não é importante.Era isso que eu pensava.
Olhei alguns corredores vazios e subi pro terraço. Passei os últimos dias do ano sem notícias dos meu pais e nem queria tentar conversar.
Não tinha muita coisa interativa. Até porque só abririam o ginásio de esportes em Janeiro.No Dia 29, estava com quase trinta meninas no terraço do prédio principal, vendo os fogos de artifício que vinham do Prédio do Demetrius Loff. Parece que alguns garotos queriam se exibir.
Espere o ano letivo começar. Os hormônios vão saltar pra fora das calças daqueles garotos.As outras garotas haviam cozinhado na Cantina A como ajudantes da única cozinheira que apareceu. Enquanto isso eu estava no meu quarto, com o fone bem alto e lendo. Bem antisocial. Eu sei.
- Espero que este novo ano que para por minhas ideias no eixo, ou me por no eixo. - Era a única coisa que eu pensava.
Mal sabia eu que não era o ano que me mudaria e sim a necessidade. Necessidade de ter ela.
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SAYA
RomanceEu nunca fui a garota exemplar, a garota que tira as melhores notas, ou a mais educada. Meu pai disse que eu precisava de rédias, que um colégio interno era a melhor opção. Já discuti com meia dúzia de professores, então, nada mais me surpreende. F...