14- "A hora da explosão"

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Louis POV:

Quando eu desperto, já é manhã clara, e Harry está na porta do quarto, se apropriando de uma bandeja lotada com o café da manhã. Dou uma olhada no relógio e vejo que já são dez e meia, o que me faz sentar em um pulo de pânico, até que me lembro que, prudentemente, dei um jeito para não precisar trabalhar hoje.

Os olhos de Harry se abrem apreciativamente por trás dos seus óculos quando ele traz a bandeja para a cama, sua atenção se concentrando no meu corpo. Ele tem a aparência refrescada e descansada em seu roupão atoalhado azul-escuro, e o seu cabelo anelado está úmido por causa de um banho recente. Eu me sinto ligeiramente irritado por ele ter se levantado sem me acordar, mas eu suponho que ele tenha feito isso somente por consideração por causa do meu evidente estado de total exaustão. Porque eu me sinto como se tivesse corrido umas doze maratonas, e percebo umas pontadas ligeiras me incomodando nos lugares mais improváveis. Nada de se espantar, se for pensar nas nossas aventuras sexuais. Estranhamente, contudo, a minha bunda, que foi espancada, parece estar bem.

— Café? – sugere Harry, erguendo o bule, o seu olhar ainda pairando em meus mamilos ou ali por perto. Ah, os homens, eles são tão transparentes, tão concentrados na carne.

Tudo bem, eu também estou concentrado na carne. Na carne do Professor Styles. Não consigo ver muito do corpo dele assim como ele pode ver do meu agora de manhã, mas consigo me lembrar de cada centímetro do que vi a noite passada. Dá para eu me lembrar de como ele parecia e como ele era para o tato. E como eu me senti ao tocá-lo. O que é muito parecido com o jeito como eu me sinto agora, embora eu esteja cansado demais e subitamente tímido demais para tomar alguma atitude relacionada a essa sensação.

Eu me lembro da verdade incômoda: que, como um idiota, eu me apaixonei por ele. Tão típico da minha parte, me apaixonar tão completamente e tão rapidamente por um homem que é, de tantos modos, bastante inacessível. Não tenho nenhuma ilusão de que eu seja para ele algo além de uma diversão enquanto ele faz a sua pesquisa na biblioteca.

Entretanto, de algum modo, algo em sua expressão se alterou mesmo enquanto eu estava acordando. Aqueles olhos, cuja visão às vezes o decepciona, estão repletos de sombras que não parecem se relacionar nem um pouco com sua vista cada vez mais instável. Eu percebo dúvidas e incertezas neles, que espelham as minhas próprias. Estará ele lamentando a intimidade reveladora da noite passada, assim como eu estou? E, se for esse o caso, será por uma razão diferente daquela que está começando a me perseguir e a me atormentar?

Eu me doei demais. Eu mergulhei fundo demais. Eu entreguei o meu coração de forma completa demais para que possa recebê-lo de volta sem deixar partes dele para trás. Será que ele se sente da mesma maneira, ou estará somente lamentando por ter ficado um pouco mais envolvido do que planejava?

— Louis? – ele me incita, a sua boca bem modelada se retorcendo ligeiramente. Ele está certamente perturbado.

— Sim, por favor, me sirva um pouco. – Eu pego um segundo roupão, que ele conscienciosamente colocou ao meu alcance, deslizo para fora das cobertas e me enfio nele. – Volto em um minuto. Eu só preciso, hum, usar o banheiro.

— Tudo bem. Açúcar e leite?

— Somente leite – eu peço, e vou rapidamente para o abrigo do banheiro, como se tivesse sido escaldado. Talvez eu tenha sido, de certa maneira. Meus dedos estão metafórica, mas definitivamente queimados e chamuscados. Eu me pus ao alcance de uma chama, uma linda chama, e estas são as consequências.

Faço o que tenho de fazer no banheiro, relutando estranhamente em deixar o meu santuário temporário. Eu me sinto tímido, por mais ridículo que isso possa parecer depois de tudo que eu e ele fizemos juntos. Mas, por amar aquele homem, e sem saber exatamente o que ele sente por mim, isso somente faz com que a situação pareça cada vez mais precária.

Bem Profundo (Adaptação Larry)Onde histórias criam vida. Descubra agora