Capítulo 11°

511 44 53
                                    

POV Yasmim

📍15 de maio, Rocinha - Rio de janeiro , 07h01 AM

Um mês se passou desde que consegui me libertar do Guilherme, e, apesar de ele ter me deixado em pedaços, sinto que agora posso começar a me reconstruir. Decidi sair da casa da minha tia, em busca de um recomeço que se mostrou tão desafiador quanto libertador. Agora moro com Gabriela e Felipe, dois amigos que se tornaram minha família. Eles abriram as portas da sua casa e da sua vida sem hesitar, e nossa amizade cresceu de formas que eu não esperava.

Rodrigo, virou um amigo próximo, me ofereceu um lugar para morar — uma casa no morro ou um apartamento no Neblon. Embora generoso, preferi recusar. Queria manter minha independência, mesmo que isso significasse encarar mais dificuldades. Ele entendeu e respeitou minha escolha, o que apenas fortaleceu nossa amizade.

As coisas, no entanto, não têm sido fáceis. Fui demitida da loja onde trabalhava, e a notícia me abalou profundamente. As crises de ansiedade, que já estavam presentes, se intensificaram. Cada dia sem emprego era um desafio, e me vi afundando em pensamentos que apenas aumentavam meu desespero.

Acordei cedo, sentindo o vento fresco da manhã. Vesti minha calça jeans preta favorita, uma blusa vermelha que me fazia sentir mais confiante, e meus tênis brancos. Prendi o cabelo, lavei o rosto e abri a janela para deixar o sol entrar. A luz e o ar fresco me davam um alívio momentâneo, mesmo que fosse breve. Eu queria um dia tranquilo, mas, no fundo, sabia que a paz não duraria.

Ao sair do quarto, encontrei Felipe e Rodrigo na sala, sentados e com expressões sérias, trocando um silêncio pesado. Murmurei um "bom dia" quase automático e fui direto para a cozinha beber um copo d'água. O silêncio deles me incomodava, mas preferi ignorar. Rodrigo e eu estávamos flertando há algum tempo, e hoje ele parecia mais focado em mim do que o normal. Mas eu tinha outras preocupações. Talvez fosse hora de procurar emprego no morro. As oportunidades estavam lá, mas a coragem ainda faltava.

Rodrigo entrou na cozinha, sorrindo de um jeito provocador.

— Bora pra Angra hoje? — disse ele, casual, como sempre.

Eu ri, tentando parecer indiferente, mas sabia que ele enxergava além disso.

— Não sei, Rodrigo... te aviso à noite.

— Tô cansado de correr atrás de você — ele murmurou, olhando-me com uma mistura de frustração e desejo.

Cheguei mais perto, mantendo meu olhar fixo no dele.

— Já te falei que, pra me ter, vai ter que correr muito mais.

Ele riu, com um brilho no olhar que deixava claro: ele não ia desistir. Antes que eu pudesse reagir, ele me beijou. Foi intenso, como se quisesse provar que aquilo entre nós era real. Senti um frio na barriga, algo que há muito não sentia. Sabia da fama de Rodrigo, sabia dos riscos, mas, naquele momento, nada disso importava. Quando o beijo terminou, ele sorriu, desafiador.

— À noite, quero a minha resposta — ele disse, antes de sair da cozinha.

Gabriela entrou logo em seguida, sorrindo ao ver a cena.

— Já tão na pegação essa hora? — ela brincou, sem perder o tom leve.

Ri, tentando disfarçar o que tinha acabado de acontecer.

— Na moral, se essa criança vier chata assim, papo reto, vou pegar e criar — respondeu Rodrigo, provocando Gabriela.

Ela estava grávida, e eu e Rodrigo éramos os poucos que sabíamos disso. Ver a felicidade dela me dava esperança. Depois que eles saíram, resolvi entregar alguns currículos pelo morro. Queria recuperar minha independência. As horas passaram rápido, e perto do meio-dia, fui abordada por duas mulheres que me encaravam com arrogância.

TranscendênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora