Era um dó que ela fez soar com os dedos nas cordas. O som reverberou pelas paredes do quarto rompendo o silêncio até sumir como se nunca tivesse existido.
Aquele sentimento, a sensação de perder algo que se fez tão presente incomodou, mas não o suficiente para deixar escapar uma lágrima.
Em vez disso, reposicionou os dedos em escala no braço do seu violão e executou mais um dó perfeito com a força de quem espanca um tronco com machado.
A corda arrebenta, acerta seu braço esquerdo e provoca uma ardência intensa que obriga a atirar o pobre violão para longe.
Ela retorce os olhos em dor e chora. Vomita toda a mágoa apertada no fundo da garganta e grita. Desaba o corpo na cama. Pausa.
Ela riu.
Sim, bem no meio daquele berreiro ela gargalhou alto como se a mesma dor que a sufocava lhe fizesse cócegas. E deixou escapar entre um soluço e um riso:
— Finalmente... Finalmente a porra da corda quebrou.- sentiu-se vitoriosa.
A tarde inteira tentando, na 16ª funcionou seu plano de não deixar suas lágrimas caírem em vão. Com orgulho dilatado, tocaria aquele dó quantas vezes precisasse para não sentir dó de si.
Que o mundo a perdoe, mas ela era assim. Preferia chorar com a chibatada do aço em seu braço a sofrer por um rapaz imaturo que mal interpretou tanta coisa e decidiu partir.
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Cotidiálogos
General Fiction📝 Estou em processo de busca pela escrita ideal. Decidi criar esse espaço para abrigar minhas experimentações, que geralmente são contos aleatórios, poemas indefinidos, textos pessoais e/ou diálogos cotidianos. 🔁 Vou atualizar cada vez que eu escr...