Capítulo I: Meridianos

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Dois passos pra frente, dois passos atrás, três para a direita e uma investida que derrubou a porta.

- Temos mesmo que fazer isso?

- É nosso treinamento, lembra?

- Sim, mas nada tem acontecido por séculos.

' - Não somos humanos, para nós, isso são menos que semanas... Você está começando a soar como eles... Tem certeza que continua sendo um Meridiano?

- Sempre serei... É que a lógica e seus sistemas me intrigam.

- Você quis dizer, suas fisionomias, certo? Eu os invejo por serem mortais e poderem cometer erros. Confesso que suas vidas baseadas em "aminoácidos" e os tais carbonos tem seus pesos, mas imagine ser livre para escolher como viver e como morrer.

- Quem está começando a soar como eles agora, hein? Na verdade, está igualzinho ao que eles chamam de filosofia.

- Ei, encontrei algo aqui! – Flaerick transmutou de sua forma original para um humano de 25 anos, moreno e cabelos brancos como a neve. - É um daqueles vírus. Um dos mortais. Passe-me sua mão.

Enquanto Groul se transmutou para uma humana ruiva de 20 anos, encostou sua mão no vírus e sentiu seu corpo formigar e o vírus multiplicar-se rapidamente. Seus olhos ficaram vermelhos e sua boca rapidamente secou. Suas pupilas saltaram para fora e em segundos estava no chão se debatendo. Seus cabelos estavam agora brancos. Groul se levantava cambaleando e com a boca de sangue cravou no corpo de onde o vírus tinha sido encontrado. Abriu-lhe em um golpe e engoliu de uma vez todo o sangue.

- O que achou? Esse parece forte!

- MAIS! PRECISO DE MAIS!

- Calma, seu faminto! Esse é o único humano que encontramos há dias. Sinta melhor cada batida, seu corpo deve começar a falecer rapidamente. Aproveite! Sinta a vida esvaindo e o desespero de suas unhas sendo devoradas de dentro pra fora e seu cérebro tentando entender a passagem... Qual teoria ele está inventando agora? Precisamos saber para escrever os relatórios. Rápido!

- Eu acho que... Nada. Estou cético quanto às teorias... O desespero é comum, realmente. Mas estou entediado. E fui! – Groul transmutou da forma humana para sua forma original. - Esse era um mortal mesmo. Quero algo mais forte!

- Essa é a última casa que encontramos. Daqui pra frente, os humanos ficarão cada vez mais distantes, isolados e será difícil os sentir. Espero que tenha aproveitado seu "barato", porque o próximo vai demorar.

- Ok, pode ficar tranquilo, eu guardei um pouco daqueles vírus pra um lanchinho mais tarde.

- Você acha que enlouqueceram? Você, sabe... Depois da nossa última aparição.

- Eu era muito novo quando tudo aconteceu, lembro da vovó falar sobre. Nós ainda ficávamos nos ratos e nos alimentávamos deles até descobrimos os humanos, por volta de 1600, eu acho. Você sabe como sou com datas humanas, mas lembro da primeira vez que experimentei um humano. As sensações são diferentes...

- Eu também lembro o meu primeiro! AHAHA A cabeça começa a complicar, a percepção da realidade, o desespero é diferente. Sempre sou transportado pra uma dimensão diferente. Claro que cada um tem um sabor único.

- Nem me fala! Uma vez durante a Segunda Peregrinação, eu sentia meus pulmões saltarem pra fora de tanta dor, cada expelição eu sentia espalhar cada vez mais com sangue cada vez mais forte até um pedaço cair na minha mão e depois outro e outro e outro cada vez maior e quando percebi e não conseguia mais respirar e quebrei meu próprio pescoço tentando encontrar ar. Mas quando vi, já tinha acabado. Foi uma das viagens mais loucas!

- Caraaaaaalho! Pirei! Eu tento sempre compreender cada pensamento antes, eu tento uma técnica que eles chamam de meditação, ou algo assim, faz com que a passagem seja mais pacífica e mais produtiva em termos de estudos.

- AHAHAH Você e suas questões científicas! Você tem que aproveitar! Cada segundo pode ser o último e tem que sentir até esgotar! Que se dano compreender as coisas! Eles são humanos e nós nos alimentamos de suas agonias, doenças e se tivermos sorte, suas mortes! Somos eternos, você quer gastar toda uma eternidade tentando entender seres mortais? Isso que não tem sentido, cara! Você que tem que ser estudado.

- Não é bem assim, você sabe! O que acontece é que nós... OLHA, ACHEI MAIS UM!

- Esse não parece um humano... MEU HYMERICH! Éum meridian! Rápido!

-Impossível! Nenhum meridian foi... Eu vou transmutar, se algo acontecer, fique longe.

-Não, você não pode! É proibido e isso seria muito errado!

- Eu preciso salvá-lo. Ele está... morrendo!

Flaerick desapareceu ao encostar no meridian. O ser estava inconstante em sua forma, uma hora humana, uma hora animal, meridiana e ás vezes desaparecia do plano tridimensional.

- Meridianos nunca morrem. Isso é inédito. Eu não estou sentindo nada, o que é isso... – pensou Flaerick  

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⏰ Last updated: Aug 25, 2019 ⏰

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TESTE 1 - A Terceira PeregrinaçãoWhere stories live. Discover now