Capítulo I - Início.

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Ouço o despertador e afundo o rosto no travesseiro na tentativa de sucumbir ao sono eterno. Mais um dia, apenas mais um dia. Um dia de vários que estão por vir.

Cho ainda dorme, esse é o lado positivo de ser um gato, você apenas torce para que sua dona sobreviva. Isso soa dramático, parece que vivo uma realidade alternativa onde você precisa lutar contra zumbis para sobreviver. Aqui não temos zumbis, ainda. Mas talvez não falte muito para que a huminidade perca o que sobrou de humano em seu ser.

Levanto e encaro o reflexo no espelho, nada chamativo e fora do normal. Exceto meus olhos, são puxados, meu pai era Japonês até que a vida decidiu ceifar sua energia. Herdei seus cabelos negros, sua cor dos olhos e pele.

Meus devaneios são interrompidos com a entrada abrupta da minha mãe.

- Bom dia querida! - um par de olhos cor de mel me encaram sorridentes - Pronta para mais um dia?

- Bom dia mãe - sorrio a contragosto - Estou pronta, acho.

- Você herdou meu mau humor matinal, seu pai era hiperativo, sempre animado - ela sorri e seus olhos se perdem, como se pudessem reviver os momentos - Bom, desça para o café - e sai. Ela sempre sai quando o assunto é o meu pai, ela sempre foi tão forte. Forte por mim, por todos. Sempre tão apaixonada, e ainda é, posso sentir.

Cho se espreguiça e abre seus dois olhos azuis, quando ele apareceu em nossa porta era só uma bolinha branca.

- Bom dia Cho - faço um cafuné atrás de sua orelha - Hoje vamos vestir algo ousado.

Abro meu guarda-roupa excepcionalmente comum, escolho uma calça jeans escura, camiseta branca e cardigan vermelho. O cardigan vermelho é ousado, a cor vermelha é ousada. Pego um par de all star escuro e corro para o banheiro.

- Harumi - ouço minha mãe gritar - Seu café vai esfriar!

Saio do banheiro e desço para a cozinha, minha mãe está encostada na pia com um avental e os cabelos loiros presos em um coque.

- Você nunca prende o cabelo? - mamãe indaga com um sorriso -.

- Meu cabelo é muito liso, os laços escorregam. - aliso minha franja na testa - E também, eu uso o mesmo corte desde pequena. Franja e cabelo reto e longo.

Mamãe sorri, ela sempre diz que meus cabelos combinam com os meus olhos.

Pego um copo de leite e alguns biscoitos, bebo tudo e puxo a alça da bolsa para o ombro. Mamãe observa tudo com os olhos semicerrados.

- Comi de madrugada - digo antes que ela comece o discurso do café e sua fonte de energia - Joguei até mais tarde, então fiz um lanchinho.

Ela assente, contrariada. Dou um beijo nela e disparo para a porta.

- Vou ficar na loja, até mais tarde mamãe.

Ela sorri e acena, eu abro a porta e saio.

O caminho até a escola não é longo e vazio, muitos estudantes de Omaha frequentam a mesma escola. Todos andam em grupos, sejam pequenos ou grandes. Conforme o perímetro da escola fica próximo, o fluxo de estudantes dobra.

O dia transcorre normalmente, meu último período é inglês. Caminho para a sala no outro andar, o fluxo no corredor é intenso. Encontro a sala, um grupo de meninas está na porta, praticamente bloqueando. Confesso que odeio, é uma versão de Garotas Malvadas bem pior.

- Com licença... - Começo a dizer quando sinto uma mão em meu ombro, viro quando uma descarga elétrica invade meus nervos e encontro um par de olhos azuis me encarando. Ah, o garanhão. O dia está cada vez melhor.

Dê-me Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora