Capítulo II - Maníaco.

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Se eu disser que dormi, estarei mentindo. E se eu disser que pensei em dormir estarei mentindo mais ainda.

Contei para mamãe ela ficou eufórica.

- Um amigo! - disse ela sorrindo - Finalmente meu bebê fez um amigo real!

- Meus amigos são reais mamãe, apenas conversamos pela internet. - digo carrancuda - Aliás, o Theodore não é meu amigo.

- Não? - disse mamãe levando a mão ao peito - Theodore é seu namorado? Seu pai ficaria satisfeito se soubesse.

Engasgo com o leite. Mamãe enloqueceu.

- Não! - exclamo em pânico - Theodore é apenas um colega de inglês que, infelizmente, foi designado pelo destino. Ou pelo karma.

Mamãe sorri e eu pego minha bolsa.

- Tenha um bom dia querida - ela coloca a mão no meu ombro - Preciso ir ao banco, chegarei na loja um pouco depois de vocês.

Ótimo, mais tempo com o Theodore.

O dia transcorreu na monotonia de sempre, quando o professor de inglês perguntou quem iria começar o trabalho hoje, só eu e o Theodore levantamos a mão. Mais murmúrios. Maravilha.

Quando o sinal toca, resolvo guardar meu material devagar. Quem sabe ele mude de ideia repentinamente, ou saia sem perceber. Ou melhor, esqueça.

- Cof cof - ouço uma tosse forçada e um par de olhos azuis sorrindo - Está pronta?

Merda, ele lembrou.

- Só um minuto - digo fechando a bolsa, olho para os meus pés encabulada - Você pode me esperar na esquina se quiser...

- Por que faria isso? - ele me interrompe -.

- Não sei, talvez não seja legal que vejam você comigo. E eu não quero seu comitê me apedrejando também.. - digo na tentativa de forçar um sorriso, ele leva a mão ao queixo pensando -.

- Não. Não vou fazer isso. Acho que você não é uma estupradora ou alguém que maltrata animais. E nem rouba. Se tivesse características assim, não gostaria de ser visto com você. - ele diz caminhando e me deixando estupefata no lugar -, Vamos Harumi-chan?

Sorrio. Chan. Harumi-chan. Começo a caminhar ao lado dele no corredor. Sinto olhares e abaixo a cabeça.

- Harumi? - Theodore me chama -.

- Sim? - Levanto a cabeça para encara-lo.

- Nada. - Ele sorri e olha para frente.

Faço o mesmo, nossa caminhada é silenciosa. Estamos chegando perto da loja, não é muito longe da minha casa. As portas são de vidro, eu abro e ele entra enquanto resolvo abrir a loja inteira.

- Legal, sempre sonhei com isso - Theodore diz caminhando pela loja -, Sabe? Ter uma loja de doces inteira só pra você.

Sorrio. Lembro de quando meus pais resolveram adquirir o imóvel e transforma-lo nisso. Lembro de quando meu pai dizia que isso era parte do coração dele. É como estar com ele. Meu coração aperta.

- O que foi? - Theodore aparece ao meu lado.

- Nada... - digo cutucando o botão do cardigan - Na verdade.... Eu lembrei do meu pai.

Ele me olha atônito, provavelmente sabe. Os jornais noticiaram o acidente, um motorista de caminhão alcoolizado bateu no carro do papai.

- Sinto muito, Harumi - ele diz solene e sincero.

- Tudo bem - sorrio com franqueza - Não dói sabe. Não mais, eu sinto saudade. É como perder um membro, você vai olhar e lembrar que ele estava alí.

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⏰ Última atualização: Oct 24, 2014 ⏰

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