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🔮

— Você realmente não me conhece, não é, Jungkook? Não sabe nada sobre mim. — Então, revela: — O que eu escondo não são minhas tatuagens. É outra coisa.

Meus olhos continuam presos aos pulsos de Jimin, sempre cobertos pelas mangas longas que, até segundos atrás, eu jurava estarem ali para esconder suas tatuagens.

Agora, eu não sei mais o que pensar sobre o que estou pensando.

— É triste, Jungkook. É triste de verdade que você tenha se agarrado com tanta convicção às suas conclusões. Me faz perguntar se você me odeia tanto pelo que eu realmente sou, ou se é pelo que você pensa saber sobre mim.

É desconfortável não saber o que falar, sequer ter a coragem de me atrever a discordar de sua ponderação. Porque, no fundo, eu sei que ele está certo. A cada vez que me pergunto por que o odeio tanto, as respostas parecem cada vez mais vagas e sem sentido, todas baseadas nas minhas próprias interpretações cruéis.

Mas, afinal, não é essa a natureza humana? Não é natural que criemos nossas percepções sobre as pessoas que nos cercam baseando-nos na forma como interpretamos o que elas fazem, nas intenções que acreditamos que carregam, mais que na intenção que verdadeiramente têm?

Não são as intenções que moldam nossa imagem perante nossos semelhantes; são as interpretações que estes atribuem a elas.

No fim, aos olhos de cada um, não somos mais que reflexos da vivência e crenças daqueles que nos julgam. Então a forma como eu, você, ele ou ela vemos e definimos alguém, diz mais sobre nós mesmos que sobre o caráter julgado em questão.

Então admito que, e o faço conscientemente pela primeira vez, tudo de ruim que penso sobre Jimin é mais consequência dos meus próprios sentimentos maus, que dos dele.

E descobrir que meu julgamento sobre suas tatuagens esteve tão errado até agora me dá total garantia sobre isso, ao mesmo tempo em que continuo irracionalmente ressentido sobre ele, incapaz de mudar meus sentimentos que o desejam longe de mim e o colocam como vilão. E por trás de toda essa confusão de sensações, eu reconheço, surpreendentemente, vergonha.

Diante do meu silêncio, incapaz de perceber meu constrangimento resultante de minhas reflexões fora de hora, Jimin umedece os lábios e aponta para a direção do acervo.

— Eu vou procurar por Hoseok desse lado. Você procura nas salas de estudo. — Ele define, então. — Já perdemos tempo demais. — E diz. Apesar disso, não se move, parecendo estar à espera de algo.

Meu corpo alavanca suavemente para a frente, em sua direção, e me sobe o impulso de dizer algo. No entanto, tal coisa não parece se transcrever em palavras dentro de minha mente, permanecendo como um desejo abstrato que logo me faz recuar.

Quando minha boca volta a se fechar num claro sinal de que nada será dito, Jimin continua em silêncio, as mãos se escondem nos bolsos de sua jaqueta jeans e, dessa mesma maneira, ele gira sobre os próprios pés. De costas para mim, começa a caminhar.

Ainda no mesmo lugar, meu corpo reage sozinho e minhas mãos tomam decisão própria quando se abrigam nos bolsos de minha própria jaqueta de couro. Então eu começo a caminhar na direção apontada. Dois passos depois, o desejo irrefreável de olhar para trás toma conta de mim e, acreditando não correr qualquer risco, eu olho sobre o ombro para Jimin. No entanto, sou rápido em desviar o olhar quando, segundos depois, ele também olha para trás, em minha direção, e nossos olhares se cruzam por uma fração desconfortável de tempo. Ansioso, eu aperto o passo.

Passeando pelo salão onde estão dispostas as mesas coletivas, os cubículos de estudo e as carroças que insistem em chamar de computadores, eu passo meus olhos pelo horizonte limitado, sempre em busca do rosto conhecido de Jung Hoseok. Antes de encontrá-lo, no entanto, escuto gemidos.

CEM CHANCES • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora