36 - confrontos

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Meu corpo dói e sofre o efeito do ataque. Levo alguns segundos para me recuperar. Atordoado, balanço a cabeça, expulso a vertigem e olho para frente, esbugalhando os olhos mediante a cena, agradecendo por ainda estar distante no momento.

O casebre não existe mais. Ele é apenas madeira pegando fogo, ardendo em chamas vívidas. O calor me alcança como uma presença desconhecida e esquisita; meu corpo meio que o rejeita a princípio. Ainda acho tudo estranho, mas fico alerta.

- O engraçado de tudo isso... - alguém diz perto de mim e não conclui. Tenho uma sensação estranha e me viro a tempo do machado não acertar minha cabeça e se cravar no carvalho. Vejo então a mim mesmo, encharcado, trêmulo e sobretudo enfurecido. - ...é que eu ainda sou sua parte mais estratégica, mais imprevisível... Admita, Erich. Você está melhor comigo no comando.

Ele arqueja com dificuldade. Parece muito mais surtado do que na última vez. Algo teve o efeito desejado.

- Confesso que você me pegou. Água? Depois este lugar? Traz lembranças boas, né? - ele continua. Depois, arranca o machado do tronco da árvore com voracidade. - De um tempo que não vai voltar!

- Tenho que acabar com isso. - digo.

Meu alter ego, por sua vez, arranca para cima de mim com uma ferocidade insana, quase como um animal. Esquivo-me do golpe com o machado e lhe dou um chute em sua barriga. Ele recua e perde o fôlego momentaneamente, mas depois volta para revidar. Me esquivo outra vez, mas desesperado, ele me pega pela manga da camisa e me lança a esmo. Tombo um pouco, mas logo recupero o equilíbrio antes de bater na árvore. Por conseguinte, como um touro, ele avança sobre mim e me joga contra ela. O impacto me atinge nas costas e me faz vacilar. Foi um forte golpe; fico aturdido. Imediatamente ele me pega pelo colarinho da camisa e me soca no rosto com força. Me recupero a tempo, me desvencilho do segundo soco e o empurro. Rapidamente avanço e o acerto com a barra de ferro nas pernas. Ele berra de dor e se ajoelha. Eu então lhe golpeio na cabeça com a base da barra sem pensar duas vezes.

Ele cai no chão, grunhindo, porém sem desmaiar. Fico a uma distância segura dele só para garantir. Já estou preparado caso ele se levante, só que isso não acontece. Ele permanece no chão.

- Acho que dessa vez eu venci. - afirmo, sério. - Você não irá mais me atormentar.

Ele começa a gargalhar novamente enquanto está no chão. Não sei se ele está ruim da cabeça mesmo pelo golpe ou outra coisa. Não perco tempo, nem o subestimo, sequer abandono o receio. Recolho seu machado e o lanço para longe, certo de que não tem como ele continuar o combate a partir de agora. Mesmo que ainda seja uma ideia meio vaga na minha mente, isso parece estar de fato resolvido.

Observo quando ele parece se acalmar, com os olhos fixados no céu, quase que absorvido, com uma expressão doentia.

- Você ainda não entendeu, idiota?! - ele pragueja, mudando de humor drasticamente. - Você não pode me matar; eu ainda estarei aqui, e sempre tentarei tomar o controle de você! Graças à máscara que você tanto odeia. Você não pode se esquecer de mim, pois eu alimento o seu poder, o poder que a porra da máscara lhe concedeu.

Ele olha de lado para mim, com o rosto enfurecido, quase como se estivesse simplesmente irritado com um resultado.

- Não é verdade. - digo. - Não! Você irá ficar quieto no seu canto. Não posso te matar, mas posso te dominar, eu tenho o controle da minha mente.

- Será, Erich? Você está certo disso? E por quanto tempo?

- Cala a boca! - grito. A fúria subindo em mim me faz abandonar de repente toda a calma que outrora eu tinha. É uma daquelas coisas que se faz completamente suspenso pela emoção, se faz sem saber definir, sabendo ser ruim, porém sem conter algo que deve ocorrer. Tudo isso me faz chutá-lo nas costelas. Várias vezes. - Eu te odeio!

Máscara Negra - ImpactoOnde histórias criam vida. Descubra agora