all or nothing way of loving » gerard piqué

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ALL OR NOTHING WAY OF LOVING

             QUANDO SE NASCE no país onde Vera Safina nasceu, muito cedo uma pessoa compreende que ter as esperanças muito altas é uma coisa perigosa, e que até simplesmente sonhar em conseguir alcançar essas coisas é um acto praticamente impossível

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QUANDO SE NASCE no país onde Vera Safina nasceu, muito cedo uma pessoa compreende que ter as esperanças muito altas é uma coisa perigosa, e que até simplesmente sonhar em conseguir alcançar essas coisas é um acto praticamente impossível. Não interessa o quanto o seu pai sempre lhe disse para «sonhar mais alto», «não ligar ao que "as pessoas" em Moscovo e mesmo em Vorkuta diziam», que «os tempos eram outros, melhores - pelo menos, em comparação aos dele». Que Vera poderia alcançar tudo aquilo em que acreditava, bastava ter um bocadinho de fé em si própria - todos sabiam que essas palavras não passavam disso mesmo, meras palavras.

Não obstante, para a pequena Vera de cinco anos, todas essas simples coisas faziam do seu pai a melhor pessoa em Vorkuta, mas não só pelo que lhe dizia e incutia - era também por ele ser apenas ele, o melhor ser humano que ela conhecera. Vera também adorava a sua mãe, não a interpretem mal, mas a verdade é que Ravshana nunca fora para ela aquilo que Khamet era, e, quanto muito, anos e anos de vivência sob um regime tão rigoroso e o ostracismo que proviera daqueles que se achavam superiores a ela por algo que à partida deveria ser tão insignificante como a etnia, haviam-na quebrado ao ponto da mulher ser incapaz de voltar a pensar positivo em relação ao que quer que fosse.

Ora, com Ravshana a contrabalançar todas as coisas positivas que o marido dizia à filha - ou seja, com ela a aconselhar Vera a não sonhar tão alto - a pequena nunca conseguiu que a chama de uma possível liberdade e de fazer aquilo que quisesse a consumisse por inteiro, e a única coisa que restou nela durante anos foram brasas e cinzas. E, eventualmente, com tudo o que acontecera nos anos seguintes, Vera deixara mesmo, aos poucos, de acreditar que iria ser a pessoa a rebelar-se contra a norma imposta sobre todos os seus antecessores e contemporâneos. Havia apenas uma remota esperança, quase esquecida.

A miúda-tornada-adolescentes-tornada-jovem nunca esperou realmente ser bem sucedida, conforme os anos passaram. Pelo contrário, estava convencida de que se iria tornar na piada da terra, a gaja que iria ser perseguida pelos restantes moradores com cartazes com frases mesquinhas pintadas de: 'Vera Safina: a filha do mineiro Tártaro morto e da viúva mestiça* que achou que era mais esperta que o próprio Medvedev'.

Essa sempre lhe parecera a hipótese mais plausível. Por essa razão, tem de admitir que ficou em completo estado de choque quando acabou por conseguir escapar da cidade que a viu nascer e tornar-se mulher incólume; e tem de revelar que não soube o que fazer quando conseguiu vingar naquilo que sempre amara, já tantos anos após ter deixado para trás a sua vida, que a cada dia que era passado nos países da solarenga e amena Europa do Sul, se foi tornando mais distante e enevoada, como se não tivesse passado de um sonho mau. Quem acreditaria que Vera Khametovich Safina - a dita miúda Vorkutiana*, filha de um mineiro Tártaro morto e da sua viúva mestiça, que raramente infringia as regras (só o fazia por uma boa razão e quando as probabilidades de sair incólume da situação eram superiores a 59%) teria um dia a sua própria exposição de arte em Barcelona? Com casa cheia e amigos famosos nos seus respectivos círculos? Era uma tolice.

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⏰ Last updated: Sep 04, 2019 ⏰

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TSUNDOKU. ( one-shots )Where stories live. Discover now