Único: Permanecer em família

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Meu corpo tremia, minha respiração era rarefeita e mesmo me esforçando, eu não conseguia distinguir a razão. Minhas bochechas estavam úmidas, e faltava pouco para meus óculos caírem. Mesmo assim, eu me sentia paralisada.

Paralisada por um sentimento que eu não conseguia nomear, mas que fazia meus batimentos acelerarem. Eu não estava acostumada a chorar, mesmo que meus companheiros de equipe constantemente externassem seus sentimentos e frustrações dessa forma.

Estranhamente, eu não me sentia triste ou frustrada para que meu corpo liberasse lágrimas, mas eu já havia ouvido falar de "lágrimas de felicidade", mas nunca as presenciei para que pudesse tirar minhas próprias conclusões sobre. Só não esperava passar por alguma situação que me fizesse senti-las molhando meu rosto.

As lágrimas que derramei quando estivemos em Calnat não tinham essa motivação, mas, parando para analisar agora, Calnat parecia ser a chave para que eu chorasse.

O objeto brilhante bem esculpido fazia minhas sobrancelhas se arquearem. Sieghart me observava com um sorriso o rosto enquanto me estendia o que um dia já foi um dos objetos favoritos de meu tio, o último Rei de Calnat. Minhas mãos tremiam quando me esforcei para pegá-lo.

- On... Onde você conseguiu isso? – Minha voz saiu fraca, mas eu sabia que Sieghart não me julgaria por isso.

Depois que atualizamos para todos que encontramos no Mundo dos Demônios o que havia acontecido até então, Sieghart se mostrou muito solícito e compreensivo, inclusive foi um dos únicos a não me encher de perguntas, junto de Arme, Lass e Zero.

Recebi um sorriso grande como resposta, além das suas mãos nas minhas, me ajudando a não derrubar a escultura de ouro.

- Tem um quadro bem grande da sala do trono de Calnat do Museu de Canaban, esse artefato é bem nítido nele. E eu conheço um comerciante que viaja entre dimensões, foi fácil pedir para ele encontrar.

- Quanto....?

Ele fez uma careta, e mesmo que eu não fosse uma especialista em expressões e sentimentos humanos, eu sabia que ele havia mentido para o tal comerciante.

- Eu disse para ele que era uma relíquia da família da minha esposa e que planejava dar de presente para a minha sogra como prova de boa vontade. Ele ficou com dó e não me cobrou. Ainda me desejou um relacionamento longo e cheio de amor.

Um sorriso brotou nos meus lábios. Sieghart era alguém bom, apesar de todos da Grand Chase implicarem com ele e terem uma visão distorcida de sua verdadeira personalidade. Geralmente eu me incomodaria com o fato dele mentir para qualquer um, já que não gostava muito de ver pessoas agindo e fazendo coisas comuns que me pareciam erradas e impossíveis. Mas o peso em minhas mãos me lembrava que ele não fizera para prejudicar alguém – embora o pobre comerciante merecesse algumas moedas de ouro por um item tão valioso e antigo.

- Obrigada.

- Não precisa agradecer, Mari – ele apertou minhas mãos, um gesto que eu sabia ser para me passar segurança.- Esse artefato pertenceu ao último rei de Calnat, seu tio. Não vejo nada mais justo do que ele pertencer à princesa sobrevivente.

Sieghart soltou minhas mãos e guiou as suas ao meu rosto, limpando o caminho que as lágrimas fizeram anteriormente. Em um impulso baseado nos filmes românticos que Amy me obrigava a assistir com ela, o abracei, sentindo como seu corpo ficou rígido pela surpresa antes de devolver o gesto, me apertando de leve contra si antes de me soltar e deixar um beijo em minha bochecha em um ato carinhoso que me fez senti-las quentes.

Ele riu, e mesmo que eu não fosse muito boa em identificar expressões, eu soube que não havia deboche.

- Guarde isso com cuidado, Mari. Seu tio não gostaria que esse item saísse da sua família.

Assenti quando ele me acenou e saiu do meu quarto, e deixei um sorriso pequeno nascer quando o ouvi gritar o nome de Elesis, com certeza para enchê-la a paciência. Sieghart era um pessoa boa.

Eu gostava dele.

Lágrimas DesconhecidasWhere stories live. Discover now