Antes de tudo, queria falar que essa fic é uma "continuação" de uma outra fic minha, que no caso é "cinza é a cor mais fria" Assim, não é preciso ler a primeira parte para entender essa One, porém super aconselho, pois assim o entendimento em relação ao sentimentos expressos aqui será bem mais profundo.
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Ao anoitecer, eu fecho os olhos.
E é quando as lembranças de você renascem em mim, como pequenos brotos nascidos em meio ao solo seco do deserto. Na beira do oásis, elas transformam a sua presença na mais bela das miragens, onde eu, com meu coração doído pela culpa, me jogo na água ilusória e fria como a sua derme morta, e me afogo no líquido espinhento que ludibria minha mente e desce rasgando minha garganta.
Eu tento, juro que tento te libertar, Kageyama. Durante meus dias, te expulso da minha mente me ocupando com o trabalho, com a correria do dia a dia, com as futilidades de se estar vivo, mas eu não consigo mentir para mim mesmo por tanto tempo. Eu não quero isso, então, durante as noites, me vejo te convidando para os meus braços vazios e me embebedo com seu perfume fraco no silêncio do meu quarto. E eu sei que você volta, sinto a sua falsa presença e me agarro a ela. E, por consequência, continuo te impedindo de descansar em paz, mesmo depois de dezessete meses da sua morte.
Venho prometendo para mim mesmo que irei te deixar ir um dia, mas esse dia nunca chega. Fiquei adiando isso por incontáveis meses, não queria e ainda não quero admitir que você não está mais aqui — por culpa minha —, sabendo que prolongar o luto só vai me fazer permanecer ainda mais na escuridão. Também sei que você não iria querer isso, mas o que posso fazer se tudo ao meu redor lembra você? Não consigo me desprender, não consigo desistir da coisa que mais lutei para ter; só que você não está mais aqui, então por que ainda permaneço em pé? O que falta em mim para desistir de você? Talvez eu apenas precise de algo concreto que me faça curar essa dor que a sua falta me causa, para que eu possa te enxergar apenas como alguém que um dia amei no passado. Mas existem coisas que são simplesmente mais fáceis de falar do que de fazer, e parte de mim sente que, se eu não me torturar com a saudade, não estarei fazendo jus ao que você foi um dia.
Estou perdendo a racionalidade, Tobio. Estou cada vez mais perdido dentro de mim. Não sei quando comecei a ter alguma crença, mas meu desespero culminante me fez acreditar em coisas que, em sã consciência, eu jamais acreditaria. Cheguei ao ponto de pensar na possibilidade de reencarnação. Que patético! Você deve estar rindo de mim agora, e eu gostaria de me juntar ao seu riso, mas eu não escuto nada além do meu próprio choro. Por isso, hoje, em meio às águas do rio e ao calor das chamas da vela, me liberto de ti, para que você possa ir para onde quer que seja. Cuide de mim e olhe por mim, Kageyama, e eu estarei aqui, em meio aos vivos, olhando por você. E quem sabe um dia minha alma trilhe o mesmo caminho de encontro a sua.
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Quando o sol se põe
FanfictionPercebi que, ao manter sua presença tão viva, acabei por apagar o que restou de mim, por isso decidi te libertar para que eu possa renascer das suas cinzas.