A Mansão de Churchill

Capítulo 9

Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão.

Provérbios 17:17

Ѽ

1896

Se acreditasse em sua figura teria a certeza que somente Deus saberia o que sentiu quando esteve em seu aposento, somente com ela junto de si, e ainda o que se passou em sua mente quando ela lhe rogou por piedade e sendo o homem frio que é não teve a capacidade de atender seu pedido.

Reprimindo todo o ódio que flui em seu corpo ele se serve de mais uma taça de vinho.

Com força deposita a garrafa sobre a mesa. Gostaria de urrar sua dor, mas sabe que seu "pai" logo apareceria para o chamar de animal.

Poderia não ter a certeza de coisa alguma, mas tem a de que nunca em toda sua existência poderá presenciá-lo se casando com ela.

—Estás satisfeito?

Ele ergue seus olhos para cima, como se assim pudesse conversar com a figura imponente que se encontra no céu.

—Toda a dor que sofri já não foi o suficiente!?— ele vira o líquido que desce queimando por sua garganta.— Teria o Senhor de trazê-la para mim sabendo que nunca a poderia ter!?

Nunca entenderá o que chamam de "desígnios de Deus", não quando a dor se faz presente neles.

— Porque sei que Vós sabes de todos os sonhos, e ousaria dizer que fui Tu quem os plantou em minha mente.

—Com quem estás a falar?

A doce voz adentra em seus ouvidos o fazendo se deliciar com seu som.

Não gostou da maneira que a tratou, mas quando Sofia soltou sem querer que a contou sobre a morte de sua mãe todos os seus músculos se contorceram, e juntando com a cena que presenciou no almoço, não precisou de mais para ser aquilo que realmente és, um monstro.

Mas aqui estás ela, indiferente a tudo aquilo que ele lhe fez. Como se a compaixão que sentisse pelo próximo fosse maior que a dor que ele havia lhe causado.

—A trazer até aqui és brincar com meus sentimentos.

Ele murmura ainda para Deus.

Não és um homem religioso, tampouco tem fé como ela, por isto não entende o porquê de estar recorrendo a Ele.

—Com Deus.

A resposta sincera a fez abrir sua boca em um perfeito O.

A atenção do rapaz logo é dirigida para seus lábios. Um formigamento estranho percorre seu corpo.

Não nasceu com a capacidade de sentir, não tem um coração como qualquer outra pessoa, então por qual motivo seu corpo responde tão bem a ela?

A emoção humana não deveria o comover, mas a de Eliza é capaz de o destruir.

Um pouco torpe pela bebida ele se vira para ter uma visão mais ampla dela e de seu corpo, que por Deus, tem somente o fino tecido de uma camisola o cobrindo.