O Escaravelho do Diabo - Lúcia Machado de Almeida

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O ESCARAVELHO DO DIABO

Lúcia Machado de Almeida

Postado por Rafa Bala (pedidos: @RafaaBala)

Capítulo I

O MENSAGEIRO DA MORTE

Hugo, um pacote para você! gritou Alberto, recebendo um pequeno embrulho das mãos do carteiro. Assinou o nome do irmão no papelzinho e foi levar-lhe a encomenda.

Hugo, que acabara de fazer a barba, mirava-se no espelho, ensaiando olhares longos e fatais para lançar às garotas na primeira oportunidade. O cristal refletia um rosto sardento de dezoito anos, extremamente simpático e sadio, aureolado por cabelos tão vermelhos que o moço era conhecido por "Foguinho".

— Deve ser presente de alguma admiradora, disse ele, alegremente, examinando o endereço escrito à máquina.

O barbante foi desatado, o embrulho desfeito e apareceu uma pequena caixa de forma retangular.

— Oba! Que é isso? Que coisa esquisita! Um bicho... gritou "Foguinho", tirando de dentro um grande besouro negro com uma espécie de chifre na testa.

A carapaça do inseto tinha reflexos azulados e seu corpo media cerca de quatro centímetros. Um comprido alfinete entomológico fixava-o a um pedaço de rolha, o que provava ter ele sido retirado de alguma coleção.

Os dois rapazes aproximaram-se da janela aberta a fim de melhor examinarem o estranho besouro.

— Veja se isto é cara que se apresente em público! disse Hugo, um tanto desapontado. Queria saber qual foi o camarada que me pregou essa peça...

— Jogue fora o estuporzinho logo, de uma vez! aconselhou Alberto.

Hugo examinou o inseto ainda por algum tempo e depois disse pensativamente:

— Nada disso. Estou desconfiado de que foi Carlos o autor da brincadeira. Ele gosta muito de pregar peças nos outros. Vou averiguar a coisa e, conforme for, mandarei o escaravelho de volta para ele, dentro da mesma caixa e embrulhado no mesmo papel.

Assim dizendo, "Foguinho" colocou o besouro em cima de uma estante de livros e procurou não pensar mais no caso.

— Como é, vamos ao baile hoje?

— Claro. Vai ser uma curtição.

— Quero ser o primeiro a chegar e o último a sair.

— Então você fica e eu volto. O exame é depois de amanhã e ainda quero repassar uns pontos. Essa tal de anatomopatologia é um caso sério!

— Ai, ai, disse Hugo, irônico. Eu só quero ver o doutorzinho de anel com pedra verde no dedo...

— Ainda faltam dois anos para isso, seu bobo!

— Dois anos! Que chateação! repetiu Alberto, aproximando-se da folhinha dependurada na parede e arrancando a folha que marcava o dia da véspera.

— Que bom! Só falta uma semana para os "velhos" chegarem da América! exclamou Hugo. Pedi a papai que desse uns beijinhos por mim na Brooke Shields. Puxa! Aquilo é que é mulher!

— Fan-tás-ti-ca! tornou Alberto pronunciando demorada-mente cada sílaba.

Os dois irmãos conversaram ainda algum tempo e depois cada qual tomou seu rumo

* * *

— Dez horas e Seu Hugo ainda não se levantou, disse a arrumadeira. A gente desde cedo no batente e o mocinho no bem-bom... Isso até é desaforo.

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⏰ Última atualização: Nov 26, 2010 ⏰

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