Começou a andar, enquanto fumava um dos seus Marlboro Lights - porque, para ela, a nova geração era a geração Marlboro Lights.
Seus 16 anos floresciam em sua pele. Conseguia sentir os hormônios femininos fluindo por suas veias, conseguia ouvir seus pensamentos como se alguém estivesse falando com ela, ouvia o barulho do salto do coturno batendo no concreto da calçada. Toc, toc, toc.
Enquanto ia para a escola, ouvia Little Trouble Girl, da banda Sonic Youth, sua banda favorita. Quando Nanna ouvia aquela música com o uniforme de sua escola –blusa social branca, saia e gravata azul-marinho, meias brancas que iam até o joelho, seu coturno preto favorito –, se sentia como se fosse a pequena garota problemática da música.
Os seus cabelos negros e longos voavam por causa da intensa ventania; seus olhos castanhos lacrimejavam, e ela limpava-os cuidadosamente, com medo de borrar o rímel em seus cílios.
Nanna chegou em seu colégio, jogou o cigarro no chão, o amassou com o pé, e entrou. Foi até seu armário, pegou os livros e cadernos do dia, e os colocou dentro de sua mochila. Enquanto o fazia, sentiu que alguém a observava. Analisou o corredor, tentando encontrar o olhar tão intenso que ela sentia seu corpo inteiro queimar, em meio de dezenas de adolescentes. Enfim, achou o olhar.
Era um garoto. Pelo que Nanna sabia, seu nome era Peter. Peter Demarco. Ele era um garoto atraente. Devia estar nos seus 16 também, alto e magro. Cabelos pretos e lisos, que iam até a linha de sua sobrancelha em uma franja; usava óculos pretos de armação quadrada, olhos azuis tão escuros quanto o oceano. Um rapaz tão atraente que chegava a ser lindo. Estava encostado no seu armário, com fones em seus ouvidos, fulminando a garota com seu olhar.
Peter percebeu que a garota notou que ele a olhava, e soltou um sorriso de lado. Nanna franziu a testa, e ele sorriu novamente, agora mostrando seus dentes. Ela revirou os olhos, terminou de arrumar sua mochila, e bateu com força a porta de seu armário.
Sua primeira aula era inglês. Sua matéria favorita. Nanna tinha que admitir que já teve uma quedinha pelo seu professor de inglês, um ano atrás. Eles quase transaram, uma vez. Mas isso era passado. Sr. Curtis era maravilhoso. Alto, esbelto, cabelos loiros e olhos castanhos. Ele se vestia como qualquer homem de 50 anos, mas parecia que suas roupas tinham uma áurea jovem. Sr. Curtis foi hippie nos anos 70. Talvez era por isso que Nanna se sentiu atraída por ele.
Quando chegou na classe, o professor já estava lá preparando sua aula.
-Bom dia, sr. Curtis – Nanna disse, em frente à mesa do professor.
-Bom dia, senhorita Mars. Como vai minha aluna preferida nessa manhã de terça?
-Melancólica como sempre, senhor.
Ela sorriu, virou os calcanhares e foi para seu lugar. Quinta fileira, quarta cadeira, ao lado da janela da sala. Enquanto sentava, outros alunos iam entrando tambén. Peter passou pela porta, e o seu olhar foi diretamente para a garota. Os olhos deles sorriam
Peter foi para seu lugar. Depois de alguns minutos, sr. Curtis iniciou a aula.
Durante aqueles 40 minutos, Nanna não conseguia tirar os olhos do quinto lugar na terceira fileira, onde via Peter olhando pelo canto do olho para ela.
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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
Teen FictionNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...