De Volta para Casa.

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    Os dias se passaram com tanta rapidez que as mudanças eram claras e nítidas em nossas vidas.
     A nossa escola era bem próxima  da nossa casa, as vezes mamãe lavava o uniforme da minha irmã  pra eu ir, até poder comprar um para mim.            Minha primeira professora foi tia Jaine, de unhas enormes e pintada de branco, baixinha e as vezes muito brava, certo dia a pedi pra ir ao banheiro umas cinco vezes, brigou e não  deixou, fiz xixi na roupa, virou só  risadas na sala, fui pra casa chorando...triste e envergonhada, pensei que quando me tornasse uma professora isso nunca  aconteceria.
     Não  guardei magoa da professora, afinal guardar sentimentos  ruim, mata a gente cada dia um pouquinho, melhor mesmo é  esquecer e ficar tudo bem.
     Nos desfiles de sete setembro as escolas desciam a avenida, a diretora era uma brava,  mas gostava de mim e sempre me colocava para desfilar, eu adorava! Apesar da timidez sempre fazia bonito, minha  escola sempre foi importante, onde passava momentos bons com os coleguinhas, tinha duas amigas inseparáveis,  a Sandra, filha da mulher que fazia o melhor bolinho...hum !!que delícia! Minha boca enche  de desejo, todas as vezes que  eu ia lá  me dava um,  agora a minha amiga  Eda ! Nosso Deus ! Muito inteligente! Filha dum Juiz muito bacana, sério  demais, tinha cisma dele,  quando eu batia na porta ,e ele  abria e me convidava a entrar, fazíamos as tarefas lá  e a mãe  dela fazia bauru  com suco para o lanche.Sinto muitas saudades deles, pois mudaram  de nossa cidade e nunca mais  os vi.. minha  amada amiga  Eda Amaral. Penso nela e oro pra ser feliz, gostávamos de ouvir músicas em inglês, não entendia  nadica de nada.
  Tem coisas que poderia ser congeladas né,  as amizades boas da vida da gente.
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       Lembrei algo e preciso contar rsrs...num sábado minha mana e eu brincávamos no quarto e minha irmã Adjani e o mano Luiz,  na janela enorme que tinha no quarto, morrendo de rir, é  que tinha mudado ao lado , um casal recém  casados, todos os dias se despediam com beijos, naquele  tempo era engraçado e curioso beijar na boca ! Papai mandou parar por várias vezes , pois iria acordar nossa irmãzinha Regilane,  mas eles continuaram dando  gargalhadas...de repente escutamos o choro dela,  até hoje penso se acordou foi com as risadas ou com grito do pai, de um coisa sei, ele entrou  no quarto  com um rabo de tatu e como meus irmãos espertos pularam a janela, ele bateu na minha mana e em  mim, de tanta raiva, deixou nós  duas na salmora que doia muito quando mamãe jogava em nós...mas não  lembro mais de outra sura dessa, penso que o coração dele ficou dolorido, pois apesar de nossa criação ser bem rígida, era de um coração generoso e não  era de bater, mas de conversar.
     Em um do meu aniversários, falou que queria me dar um belo presente,  mas não  tinha condições, eu imediatamente disse a ele, que não  me importava, que quando tivesse dinheiro  eu queria mesmo era um bolo mané pelado que tinha comprado, ai foi assim, sempre que ia à feira  aos domingos,  comprava e me chamava meio que escondido e me entregava, nossa! Que delicia! era tudo de bom .
      Na verdade pensava eu...que tinha
Carinho dobrado comigo por não  ser meu pai de verdade,  não sabendo  ele que para mim era mesmo de verdade.
      Aos domingos iamos a missa, mamãe  arrumava nossa melhor roupa, ja estamos mocinhas, fiz primeira comunhão,  morria de medo  das procissões , aquela Veronica cantava de roupa preta e o Jesus tinha cabelos enormes, eu não  o imaginava daquela forma...era diferente.
    Participava do coral dos jovens, iamos ensaiar no fundo do hospital
Matenidade, com a freira Magarida, era magrela e usava óculos.
      Gostava de ouvir ela cantar, e contar histórias  de Jesus Cristo.
        O tempo passando, as estações lindas! até  que certo dia fui chamada para ir num encontro em Anápolis,  nunca tinha viajado, Irmã  Margarida disse, que seria bom eu estudar e me formar, que no convento seria bom para meu futuro, mais se eu quisesse  disse ela.
        Lá  fomos nós,  cidade gelada! tinha levado uma blusinha fina que minha irmã Madalena, tinha me dado de presente, deixa eu explicar, ela é  filha do primeiro casamento de papai Antônio,  uma pessoa do coração de ouro, era muito  boa comigo...Deixa eu continuar  né! Vamos lá ! O  convento enorme, muitos jovens, tinha estudo biblico todos os dias, no meu quarto tinha oito camas de jovens lindas,  más mau podíamos conversar, as vezes  no refeitoria sorria um para o outro.
      Já se passaram uns dias ali, imagina! Eu ia para uma capela pequena que parecia uma caverna, dentro tinha uma Jesus Cristo de braços abertos, bonito e parecia sorrir para mim, gostava muito  de ficar ali falando com ele, tinha plena convicção que me ouvia,chorando, chorando...sem parar, sentia tantas saudades de casa, do meus irmãos, das brigas, do cheirinho da comida da mamãe... de tudo.
 Certa tarde estava ali como de costume quando entrou  na capela o Padre Catão,  era assim que o chamavamos, uma pessoa muito especial,  conversou muito comigo, eu queria mesmo era voltar pra casa, ele disse que ia resolver, que ali não era meu lugar, disse" Um passarinho de Jesus Cristo, não  pode jamais ficar numa gaiola seja ela qual for , você precisa voar e  cumprir os propósitos de Deus na sua vida ".
        Cantou um hino para mim, que eu chorei mais ainda, de gratidão a ele e a Deus.
E bem assim:
       " Olho em tudo e só  encontro a ti
          Estais no céu,  na terra onde for
          Em tudo que me acontece
          Encontro o seu amor
          Já  não  se pode mais
          Viver sem crer no meu Senhor
          É impossível não crer em ti
          É impossível não te encontrar
          É impossível não fazer de ti
          Meu ideal.'
     Até  hoje quando me sinto engaiolada, triste, que alguem quer cortar  minhas asas, canto esse hino e me lembro  do que  aquele amigo e homem de Deus me falou e o Espírito Santo restaura minhas forças  para dar novos vôos.
     No domingo na missa eu fiz a leitura,  quando olhei papai, de camisa branca e calça preta, seus cabelos  pareciam mais brancos e mais velho.  Estava sentado no banco,  minhas pernas tremendo, de alegria,  ao término da missa arrumei minha malinha e despedi de todos, meu ultimo abraço foi no Padre Catão,  último mesmo, pois nunca mais nos vimos. Voltamos para casa de ônibus. Que felicidade ir para casa,  abraçar meus irmãos,  comer mané,  pelado, ir pra roça do tio, tudo que amava, minha familia. Dentro do ônibus,  conversamos muito, mais papai falou e eu ouvia, lembro das palavras,  "filha seja qual fosse  o vento, você  precisa ser forte e corajosa e nunca
Deixar as pessoas  te humilhar, pois
Humildade é  uma coisa e ser humilhada era outra" Penso que se preocupava, pois me achava humilde
E temia que as pessoas me humilhacem e me fizessem  sofrer. A estrada foi longa, queria mesmo era chegar logo...
       Graças a Deus de volta pra casa.
                    Lucilene Pereira
                     COISAS DE LU.

     Saudades muitas saudades 😢😢
  
      

COISAS DE LU.( coletânea, momentos da minha vida.)Onde histórias criam vida. Descubra agora