Você é muito idiota

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 Gally lutava com o trolho novo de um jeito que eu não estava gostando. Mas antes que eu pudesse fazer algo, o garoto já estava no chão, me fazendo fechar os olhos com a cena.

-Thomas! - ele gritou se levantando - Meu nome é Thomas!

Ele parecia estar feliz e nem se preocupava com o fato de ter batido a cabeça no chão.

-Thomas! - Alby gritou e todos, inclusive eu, gritamos em conjunto.

 Depois disso a festa só aumentou. Todo mundo chegava em mim bêbado dizendo algo que provavelmente se arrependeria depois.

"Jane, você é perfeita"

"Jane, seja a mãe dos meus filhos"

"Jane, você é linda mesmo com esse barrigão" e por aí vai.

 Olhei de longe Newt conversando com o trolho novo, ou melhor, Thomas. Ele provavelmente estava explicando como as coisas funcionavam por trás das paredes enormes do labirinto. Os dois estavam com um copo na mão e foi possível ver Thomas cuspindo a bebida enquanto Newt ria da situação.

 Ele ficava tão fofo rindo daquele jeito.

-Encarando o que, Jane? - uma voz grossa me fez virar para trás. Era Gally. - Ou melhor, quem?

-O trolho novo que você fez questão de lutar, mesmo eu já tendo pedido para você não fazer isso.

Gally olhou para o lado, sorrindo.

-Não mude de assunto, dona Jane.

-Gally, não é legal assustar os clareanos novos logo no primeiro dia!

-O trolho lembrou o nome dele! E além disso, eu não gosto dele.

-E de quem você gosta, não é mesmo Gally?

 Apesar das provocações, eu sabia que aquilo não era uma briga. Gally ainda mantinha o sorriso no rosto e eu não estava diferente.

-A questão é: você estava olhando o Newt - Gally disse - Seu sorriso não engana ninguém!

-E? - eu perguntei sem entender bem onde ele queria chegar.

-Você é muito idiota!

 Abri a boca fingindo estar chocada com suas palavras. Porém, se tem alguém nessa clareira capaz de dizer esse tipo de coisa sem estar realmente querendo me ofender, essa pessoa era ele.

-Você que é idiota Gally! E se me der licença, eu vou dormir.

 Gally ia abrir a boca para falar algo, mas desistiu. Com isso, me virei e comecei a andar até meu quarto. Porém fui impedida no caminho.

-Jane - Clint disse esperando na frente da porta do meu quarto.

 Seu ar de misterioso estava bem intenso naquela noite. Ele tinha um sorriso cínico no rosto, como se soubesse de algo que ninguém mais soubesse e usava uma blusa preta de frio, mesmo estando uma noite quente.

-Eu juro que já estava indo dormir - eu disse rindo, afinal, ele sempre pegava no meu pé para dormir cedo, já que algumas horas de sono a mais faziam bem para o bebê.

-Eu sabia que você ia dizer isso - ele disse se aproximando - Mas eu não vim aqui para isso.

Fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse.

-Você estava meio distante essa noite. O que aconteceu? - ele perguntou.

Suspirei.

As vezes Clint me conhecia muito bem. Mais do que eu queria.

-O bebê chutou - eu disse de uma vez.

Clint sorriu na minha frente.

-Isso é bom, Jane!

-Isso só provou mais uma vez o quanto é real! E está cada vez mais perto do parto! Eu fico nervosa, assustada e incrivelmente feliz. É normal ter tudo isso ao mesmo tempo?

-É claro que é! E não só para você. Jane, estamos todos nessa loucura com você. Ao mesmo tempo que eu quero te abraçar e sentir esses chutes, algo dentro de mim me deixa com mais medo. Parece que cada vez fica mais...

-Real - eu completei, olhando para Clint em minha frente.

Era como se ele estivesse dizendo tudo o que passava em minha cabeça.

-E eu... - ele continuou, engolindo seco e olhando para baixo.

-O que? - eu perguntei, querendo ouvir mais dele.

Daí para frente foi tudo tão rápido que eu não consegui impedir. Clint olhou em meus olhos e selou nossos lábios. 

Me afastei na mesma hora, chocada com aquilo.

 Um pequeno selinho, mas que tinha significado muita coisa. Coloquei minha mão em seu peito, impedindo que ele se aproximasse mais uma vez. Clint olhou para o chão mais uma vez, nitidamente constrangido.

-Clint... - eu sussurrei, sem palavras.

-Jane, é só que... Eu... - ele tentava dizer algo, mas também não conseguia.

 Permaneci em silêncio por um tempo, envergonhada com a situação. Eu sabia que muitos garotos ali se interessavam por mim, mas não achava que depois desses meses um deles ia tentar algo como um beijo. Eu não achava que Clint seria essa pessoa. E eu não sabia o que fazer agora.

-Me desculpa - eu disse - Você é incrível, mas não desse jeito...

-Não custava tentar... - ele realmente parecia estar triste e aquilo estava me matando por dentro.

-Clint, eu disse isso uma vez e vou repetir: eu preciso de você mais do que você pensa. E não apenas como médico, mas principalmente como amigo. Como meu melhor amigo. Eu não quero estragar isso.

-Eu também não.

Pensei em segurar sua mão ou abraçá-lo, mas não parecia a melhor coisa a se fazer naquele momento.

-Eu só preciso de um tempo - ele disse - Para digerir e aceitar.

-Clint...

-Fica tranquila, Jane. Você não vai me perder tão fácil.



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Quem aí ficou com dó do Clint? Eu fiquei...


Pregnancy in the field - Maze RunnerOnde histórias criam vida. Descubra agora