— Você tem que levar em consideração que tudo não passou de uma manipulação de seu pai. Se vocês não sentarem e conversarem ele nunca vai entender o que aconteceu, ele merece uma justificativa, o pensamento dele mudaria com certeza.
— Com que coragem Fabiana? — pergunto desesperada — Ao invés de eu me explicar eu simplesmente fugi. Não me admira que o Gustavo tenha feito a menina me odiar. Eu me odeio por ter abandonado ela.
— Acorda Cecília — Disse balançando meus ombros de forma brusca — você viveu nas mãos de um manipulador. De uma pessoa que não aceitou sua felicidade!
- Como eu fui ingênua.- Sorri triste.- Eu deveria saber que meu pai iria armar alguma coisa, com o ciúme doentio que ele tinha por mim.
- Que queime no fogo do inferno.
- Não..- Fabiana me interrompeu.
- Não justifique e nem defenda aquele canalha, nem Deus quis ele nos céus, com certeza está no inferno pagando por tudo o que fez.
- Mesmo assim era meu pai.
- Como você é boa Cecília, queria ter ao menos metade dessa sua bondade, mas as vezes penso que o povo usa disso contra você tá na hora de saber até que ponto essa sua ingenuidade te ajuda ou atrapalha. O que pretende fazer agora?
- Eu não sei.- Suspirei.- Olhando para um quadro fixo na parede.
- Não vai fugir de novo.- A olhei baixando a cabeça.- Nem invente dona Cecília, vai ficar fugindo até quando?
— Sei que fugir não é a solução. Mas não consigo enfrentar a situação. Pelo visto, devido a máscara ele não me reconheceu e assim espero que não volte aqui.
Narrativa Gustavo
Nesse tempo que frequento casas noturnas nunca voltei para casa sem uma boa foda. Mas hoje foi diferente. Resolvi frequentar um novo lugar. Conheçi uma nova pessoa que me atraiu. Que mulher! Que sensualidade! Meu olhar se prendeu naquela visão. Foi tão arredia. Mas pretendo voltar. Quando eu quero alguma coisa eu sou bem insistente.
E ela está enganada ao achar que vou deixar barato essa pose de boa moça, confesso que fazia tempo que não tinha uma excitação desse modo, sem ao menos que ela me tocasse.
Já era madrugada, estava finalizando meu uísque. Por algum motivo não havia acendido a luz da sala. Mas a mesma se acendeu de repente logo vi o rosto de uma Dulce Maria assustada.— O que faz de pé a essa hora menina? — a mesma não me respondeu e correu para a cozinha.
Ela é uma criança e não poderia deixar sozinha. Poderia mexer com fogo ou algo cortante. Então resolvi segui-la.
Cheguei na cozinha a menina já estava com a geladeira aberta e um jarro de leite em suas mãos. Pegou um copo e se serviu assustada.
Ela olhava para mim com uma expressão de medo em seu rosto.— Está com fome? — afirmou com a cabeça, sem palavras como era de costume.
Fui até o armário e na parte de cima peguei o pão e a geleia. E assim fiz um sanduíche para ela. Peguei o leite que ela havia se servido e aqueci no microondas. Confesso foi a primeira vez em anos que preparo algo para a minha filha.
Dulce se sentou na mesa dá cozinha e ficou a me observar atenta, assustada talvez, seus olhos a me encarar.
— Você faz isso todas as noites? — perguntei e a menina deu de ombros.
— Fala comigo Dulce Maria. Eu não estou falando sozinho. — Digo de um modo bravo assustando a menina.— As vezes papai. — disse com a voz embargada e doce como eu não me lembrava mais. Ah pronto! Agora essa menina vai chorar.
— Não precisa chorar Dulce Maria.
A Dulce é uma menina de poucas palavras. Fala muito pouco. E por isso faz tratamento com fonoaudióloga. Tem dia que a mesma não fala nenhuma palavra sequer. Isso foi preocupante porque uma criança da sua idade fala pelos ventos.
— Sinto saudades. — disse em sussurro mas pude entender perfeitamente. A cabeça que estava baixa se levantou me olhando com aqueles olhos cheios de ternura. Olhos que são tão parecidos com aquela mulher. Um nó surgiu em minha garganta e eu já não poderia ficar mais ali.
— Você me lembra tanto ela. — me levantei e sai da cozinha. Precisava ir para o meu quarto.Precisava fugir como sempre fiz todos os dias.
~ Flashback On~
- Papai vai chegar titia? Tenho saudades da mamãe. - Dulce sorriu pra mim doce, como sempre foi, rezava aos céus para que hoje o pai dela a acolhesse nos braços, fazia um mês que tudo havia acontecido, Dulce com quase seus três aninhos de vida.
- Sua mamãe tá viajando.
- Demola pra chegar? Já faz um tempão.- Fez um gesto exagerado com as mãos.
- Eu não sei minha princesa, a mamãe trabalha muito, mas nunca esquece de você meu amor. Você não gosta de mim?- Perguntei abrindo os braços pra que ela corresse até mim.
- Gosto, mas é difelente titia, você não tem o cheiro da mamãe. - Sorriu.- Ela é minha princesa.- Engoli o nó que se formou na garganta ao ouvir aquelas palavras inocentes e tão cheias de sentimentos.
- Ela te a..- Fui interrompida pela batida da porta. Um Gustavo bêbado e indiferente chegou, não pude conter a alegria da minha menina ao correr até ele que fingiu não a ver.
Era assim todos os dias, desde que ela se foi, tinha que acalmar uma menina que não entendia o que aconteceu com sua vida que foi virada de cabeça para baixo.~ Flashback Off ~
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Segredos E Desejos
RomanceCecília carrega nas costas o trauma de ter sido enganada por quem mais amava, seu pai, tendo como consequência que perder a família que tanto desejou, o mundo cruel que a cerca a fizeram pensar que não existe amor e compaixão de ninguém. Mas talvez...