Dia louco

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   Aquele era o pior dia de sua vida!   
   Desde que o dia tinha começado pressentia que não seria bom, porém mesmo que quisesse continuar em sua cama até a próxima manhã, sabia que ainda precisava de dinheiro para sobreviver, ou seja, nada de faltar ao trabalho naquela quinta-feira.
   Resistindo a imensa vontade de voltar a dormir, Wendy se levantou como fazia todas as manhãs, e sem se preocupar demasiadamente com sua aparência, apenas vestiu um jeans surrado, uma camiseta braca com uma minúscula mancha de catchup, e seu velho e adorado par de All Star vermelho.
   Ignorando o mau pressentimento que sentia, pegou sua bolsa, e saiu de casa rumo ao ponto de ônibus mais próximo.
   Seu pequeno apartamento, ficava bem no centro de New York, por isso já estava acostumada às businas, gritos, e correria tão comuns daquele lugar.
   Assim que chegou no ponto, notou que provavelmente não teria lugar para se sentar, pois estava claro que o ônibos estaria pior do que uma lata de sardinha quando terminasse aquela parada.
   Foi a partir daquele momento, que o azar começou a atormenta-la.
   Já estava à quase uma hora esperando o maldito ônibus, e ainda assim, não havia um sinal sequer de sua chegada. Teve certeza que chegaria atrasada ao trabalho naquela manhã, faltava apenas 18 minuto para o início de seu expediente no restaurante, e nem mesmo tinha entrado no ônibus ainda.
   Dona Marcia, dona do Bistrô da Marcia, restaurante no qual trabalhava, não era uma chefe ruim, entretanto, entre as poucas coisas que não suportava, estava o atraso. E Wendy sabia que não escaparia da bronca quando chegasse, mesmo que tentasse se justificar um milhão de vezes.
   Quando finalmente o ônibus chegou, soltou um suspiro de frustração, ao perceber que estava certa sobre o transporte público, que agora mais parecia uma lata de sardinha.
   Olhou para seu relógio de pulso para confirmar quanto tempo ainda tinha, 8h54. Só lhe restavam 6 minutos até o início de seu expediente.
   Como se não fosse o suficiente, entre trombadas e empurrões, sentiu uma mão masculina lhe apertar a bunda. Seu dia já não estava bom, não toleraria mais essa. Olhou para a direção de onde havia sentido a mão que lhe tocou, no entanto, ao perceber que havia 2 homens lado a lado naquele lugar, não soube identificar qual deles era o pervertido.
   Analisou bem os dois, um deles era bem velho, devia ter quase 80 anos, supôs que aquele pobre senhor, que mau conseguia se manter de pé, não poderia ser o porco que lhe tocou. Então fixou seus olhos no homem ao seu lado, ele era alto, e tinha que confessar, quente como o inferno. Seu cabelo preto e liso caído perto dos olhos, o máxilar quadrado com a barda por fazer, e por fim, os olhos, eles eram simplesmente maravilhosos, não soube dizer se eram azuis ou verdes, mas tinha certeza que eram os olhos mais lindos que já tinha visto.
  Balançou a cabeça ao se lembrar, que aquele homem, era na verdade um porco nojento, que se achava no direito de tocar em uma mulher sem sua permissão.
   Se aproximou ligeiramente do pervertido, e com pouca delicadeza, lhe puxou o par de fones brancos encaixados em seus ouvidos.
  - Você é doida ?- Gritou o homem.
  - Não sou doida, apenas não permito que passem a mão em mim sem minha autorização !!- Wendy gritou de volta em plenos pulmões.
   As pessoas ao redor, ao notarem a pequena confusão, se viraram completamente concentrados na direção dos dois.
  - Do que você ta falando sua maluca ?? Eu nunca encostei em você !!
   - Ah claro, e eu sou o papai noel !!
   - Olha, eu não faço ideia do que você ta falando, e também não vou perder meu tempo discutindo com uma lunática, então com a sua licença...-  O homem se virou de costas para Wendy e desceu na parada. Ao olhar para a janela do ônibus, a garota percebeu que também deveria descer, e ignorando a raiva que sentia por aquele desconhecido, desceu do trasporte se dirigindo a entrado do Bistrô que ficava em frente ao ponto. No entanto, ao entrar no restaurante avistou as costas do pervertido do ônibus.
   - Ei seu pervertido, além de tudo também persegue mulheres por aí ?- Gritou cheia de raiva.
    - Era só o que me faltava, além de louca é stalker também. - O homem lhe respondeu revirando os olhos.
    - Stalker é a sua mãe seu cretino, esse aqui é o meu lugar de trabalho, se tem algúm stalker por aqui, esse alguém é você.- Parou de falar ao notar a nítida surpresa do rapaz com sua fala. Porém, antes que pudesse interroga-lo, dona Marcia surgio dos fundos do restaurante gritando na direção dos dois.
   - Meu filho, que saudades de você !! Achei que só estaria de volta semana que vem. - Dona Marcia dizia abraçamdo o deus grego pervertido.
   - Quis te fazer uma surpresa mamãe. - Ao ouvir a palavra mamãe, Wendy arregalou os olhos em choque.
   -Dona Marcia esse é seu filho ??
   -Wendy, não vi que estava aí. Respondendo a sua pergunta, sim esse é o meu filho, Noah.- Wendy que torcia para que fosse tudo um engano, agora tinha uma expressão assustada no rosto.
   - Achei que ele estivesse estudando em Washington.
   - Sim ele estava, mas se formou esse semestre, e está finalmente de volta para gerenciar o restaurante.- Dizia dona Marcia com nítida felicidade.
   -Gerenciar ??- Wendy se assustou ainda mais com a possibilidade daquele homem insuportável se tornar seu chefe.
   - Sim minha querida, gerenciar. Já estou velha, não sou mais a mesma de antes, preciso de ajuda com o restaurante. E agora que meu filho está de volta, posso finalmente descansar um pouco.- Não tinha como ficar pior, Wendy pensava.
   - Sem querer te interromper mãe, mas quem seria essa ??- Noah dizia olhando diretamente para seu rosto.
   -Ah que cabeça a minha. Noah, essa é Wendy, uma das melhores garçonetes desse restaurante.
   -Wendy não é ?? Um nome delicado para uma moça delicada.- Noah disse com um sorriso irônico.
   Estava claro que ele queria provoca-la, mas Wendy não daria esse gostinho a ele.
   - Muito obrigada por seu elogio Noah, é muito gentileza de sua parte.- Respondeu com um sorriso tão irônico quanto o dele.
   Dona Marcia, alheia as provacações, virou-se para Wendy e disse:
   - Terminadas as apresentações, me acompanhe até meu escritório Wendy.
   É claro, o atraso, por um instante teve a esperança de que dona Marcia não havia reparado em seu atraso, mas pelo visto, não seria hoje que escaparia.
   Seguindo a mulher até o escritório, preparou seus ouvidos para o sermão que levaria.
   Dito e feito, durante meia hora, dona Marcia discursou sobre a importância da pontualidade, e o quão irresponsável Wendy tinha sido aquele dia. Porém finalmente estava livre.
   O dia de Wendy seguio tão ruim quanto a manhã, Noah não a deixou em paz durante um segundo. A seguiu para todos os lados, estampando aquele sorriso irônico nos lábios e a provocando de todas as maneiras.
   Durante o dia todo se segurou para não socar-lhe a cara, mas com certeza estava sendo difícil.
   Perto da hora de ir embora, Wendy se dirigiu à cozinha para beber um copo de água. Estava cansada, com sede, fome, e sentia que seus pés pareciam dois pães de tão inchados que estavam.
   - Olha só o que temos aqui. Matando o trabalho Wendy ?? - A garota revirou os olhos castanhos cheios de raiva para o homem e lhe respondeu:
   - Não é da sua conta Noah!
   - Mas é claro que é. Eu como futuro gerente, devo inspecionar de perto os funcionarios, para saber se estão fazendo um bom trabalho. O que não parece ser o caso aqui não é ??- Wendy estava de saco cheio daquele idiota, seu dia já tinha sido ruim o suficiente, não precisava ouvir merdas daquela boca estupidamente linda.
   Irritada Wendy o ignorou e passou por ele em direção a saída da cozinha. Mas quem disse que ele permitio ?? Se colocando em sua frente, Noah pegou uma mexa de cabelo que caía em seu rosto, a colocando atrás de sua orelha enquanto sussurrava:
   - Irritada Wendy ?- Excitada com àquela aproximação, Wendy forçou uma voz irritada e repondeu:
   - Com certeza Noah, então se você tem amor a sua vida, sugiro que saia da minha frente.- Todavia, ao escutar o que a garota disse, Noah desatou a rir sem parar, em uma gargalhada tão alta, que por um momento Wendy achou que ele estava morrendo.
   - Do que você ta rindo idiota ??- Noah no entanto, não respondeu, e sim continou a rir sem parar.
   Já sem paciência, Wendy avançou sobre ele com o punho fechado, na inteção de lhe acertar o rosto, porém Noah foi mais rápido e segurou sua mão.
   - Calma gatinha, não vamos apelar pra violência. - Cansada daquela discussão, Wendy simplesmente desistiu de continuar, e desviando de Noah rumou até a saída do restaurante. Noah que a seguiu até ali, viu a garota suspirar ao avistar a forte chuva que caía do lado de fora do Bistrô.
   Sem ânimo para esperar até a chuva passar, Wendy que nem ao menos tinha um guarda-chuva, saiu do restaurante, ignorando a chuva que caía sobre sua cabeça.
   Com pena da garota Noah que observava tudo da porta, seguiu até o escritório de sua mãe, onde pediu emprestado um dos carros da mulher para voltar para casa. Ao receber a confirmação da mãe, correu na direção de Wendy, avistando-a ensopada enquanto corria para o ponto.
   Enquanto pensava no quão ruim seu dia estava sendo, Wendy escutou um carro businar ao seu lado. Ao olhar pela janela, avistou Noah no volante.
   -Entra, vou te levar em casa.
   - Não precisa obrigada.
   - Para de ser teimosa Wendy, ta caindo o maior temporal, você vai ficar doente.- Ao analisar melhor a oferta, Wendy decidiu que era preferível aguentar mais algúns minutos na presença de Noah, do que pegar uma gripe que sabia que demoraria a curar.
   Assentindo, a garota entrou dentro do carro se sentando no banco do passageiro. Virando-se para Noah, disse:
   - Desculpe por molhar o seu carro.
   - Sem problema, foi eu que ofereci a carona de qualquer jeito.
    O caminho até a casa de Wendy foi silêncioso desde que ela havia dito seu endereço, entretanto para sua surpresa, não era um silêncio constrangedor, era até bem confortável.
   Ao chegar em sua casa, retirou o sinto e se virou para agradece-lo.
   - Obrigada pela carona, vou ficar te devendo essa.
    Surpreso pelo tom suave na voz da garota, Noah a olhou enquanto reparava melhor em suas feições. Não negava que desde o momento que a viu naquele ônibus tinha ficado encantado com a beleza da morena, todavia, assim que ela abriu a boca pela primeira vez, para sua surpresa foi para insulta-lo, não lhe dar seu número como já estava acostumado.
   Tinha que admitir que isso o havia encantado ainda mais, ela era a primeira garota que o tratava assim, e isso era quente demais.
    Tomando coragem para o próximo passo, Noah se aproximou rapidamente de Wendy e com um rápido pressionar de lábios se afastou.
   Surpresa e excitada pelo ataque repentino de Noah, Wendy saiu do carro rapidamente e entrou em seu prédio, sem ao menos se despedir do homem no carro.
    Feliz pela clara fagulha de excitação que viu no rosto da garota, Noah seguiu para sua casa, ansioso pelo dia seguinte.
   Já em sua cama, Wendy lembrava do rápido selinho que Noah a havia dado, e enquanto sentia borboletas em sua estômago, sorriu e sussurrou para si mesma:
   - Até que esse dia não foi tão ruim.

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