Storm

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Jennie sentia-se vazia.

O frio entranhava-se pelas suas vestes, gelando o seu corpo.
Jennie atravessava a tempestade, a de neve que já cobria os seus cabelos negros como carvão, e a de sentimentos que consumiam os seus pensamentos.

A menina queria voltar para casa,fugir da nevasca, rufugiar-se em sua casa quentinha, nos braços de sua amada Lisa.
Mas para a infelicidade de Jennie, ela não tinha mais o seu porto seguro. Não tinha para quem voltar.

Lisa era igual aos flocos de neve que descansavam sobre o seu corpo... desaparecem. O seu mais precioso floco de neve tinha derretido por entre seus dedos em um piscar de olhos. O seu floco de neve se foi junto com a tempestade impiadosa que cobria aquela pequena cidade.

Jennie ajeita o cachecol de lã vermelho que envolve o seu pescoço e continua o seu caminho sem destino.

Como era possível aquela cidade florida ter se tornado um mar de branco em tão pouco tempo? A essa pergunta a menina tinha resposta. Da mesma forma que o seu amor acolhedor com Lalisa se tornou tão assustadoramente gélido em apenas alguns dias.

Lisa era uma mulher extremamente decidida e madura para os seus ,apenas, 20 anos. Afirmava que se tornaria uma escritora renomada mesmo que tivesse que esperar até ao final de sua vida. Tornaria os seus romances reconhecidos e jurava de pés juntos que a sua amada ainda ouviria o nome de uma das suas obras na televisão. Jennie nunca duvidou de sua amada, afinal, ela tinha talento e ambição suficiente para tal.

Era óbvio que uma moça como Lisa não suportaria ficar presa na monotonia que era a vida da mais velha. A ruiva tinha um espírito livre, ambiciava por um futuro coincidente ao das histórias que escrevia. Jennie apenas gostava de ler um bom livro, beber o seu café enquanto repousava a sua cabeça no ombro da sua namorada.

Neste momento, a mais velha se culpava por ter notado tardiamente o descontentamento da outra mas já não podia fazer nada. Apenas tinha que aceitar que o seu floquinho partiu em busca de um novo lugar para explorar.

Não, Jennie não podia procurá-la porque quando, depois de um longo dia de trabalho no seu consultório de psicologia, chegou ao seu refúgio, preparada para encontrar a ruiva no seu pijama rosa de corações, sentada no sofá com o seu computador no colo, não a encontrou em lugar algum.

A casa parecia congelada, mais ainda que o exterior. Queria chorar, ligar e pedir perdão e talvez prometer suprir a carência da amada, mas ela sabia que já era tarde demais. Não era tão egoísta a esse ponto. Lalisa merecia ser feliz, sentir a adrenalina que tanto ansiava.

Jennie sabia que o seu trabalho como psicóloga a deixava extremamente esgotada ultimamente e quando chegava a casa mal tinha tempo para trocar algumas palavras com a outra, mas nunca reparou que a última vez que tinha declarado o seu amor a Lisa tinha sido provavelmente a mais de uma semana. Como ela tinha sido tão descuidada? Ela sabia que Lalisa era uma pessoa carente e que provavelmente tenha se sentido abandonada durante todo aquele tempo e mesmo assim não lhe deu a devida atenção.
A mais velha não suportava mais permanecer naquele lugar, então apenas calçou as botas que tinha acabado de descalçar, colocou o casaco que nem tinha sequer pendurado, enrolou o cachecol, que era um dos presentes de natal oferecidos por Lisa, pegou a sua bolsa e saiu pela porta fora destinando-se a lugar nenhum.

Já eram eram duas horas da madrugada e ela ainda seguia o caminho coberto de neve enquanto sentia-se a congelar até aos ossos. Talvez era assim que a sua Lili se sentia quando ficava solitária.

Quando já não tinha mais forças para lutar contra a ventania, sentou-se num dos bancos que, por sorte, não tinha sido revestido pela massa branca fofinha. Onde o seu amor estará agora? Será que ela chorou muito enquanto fazia as malas e abandonava a casa onde compartilhavam memórias doces? Será que ela também está perdida na nevasca?

Jennie, desta vez não tinha uma resposta. Talvez nunca tivesse.

Mesmo não podendo decifrar este enigma, queria acreditar que o seu docinho estaria bem, talvez até acolhida perto de uma lareira quentinha.

Nem uma lágrima descia pelo seu rosto pálido. Parecia até que os flocos limpavam a sua face e levavam um pouco da dor consigo. Queria acreditar que era obra de Lili, que ela ainda cuidava de si mesmo estando longe.

Depois de alguns minutos apanhou-se a pensar se teria notícias de mais nova, se ela lhe ligaria no dia seguinte. A probabilidade de tal situação acontecer era mínima,afinal, como citei anteriormente, Lisa era uma mulher decidida. Se ela tomou a decisão de a deixar naquela noite fria, ela nunca voltaria, afinal quando um floco de neve derrete ele não  volta.

Talvez ainda tivesse a oportunidade de ouvir o nome "Lalisa Manobam" em alguma premiação famosa, daqui a algum tempo. Nunca desejou tanto que algum dos romances de Lisa se torna-se reconhecido como naquele instante.

Quando deu por si, já eram quatro da manhã. Não podia permanecer a eternidade naquele banco, então calmamente, levantou-se e seguiu a sua jornada pelas ruas já conhecidas por si.
Lutaria contra a tempestade e pediria aos céus que o caminho que seguia cegamente, a levassem até a sua amada Lili.

Mas será que o floco de neve voltaria para a visitar na próxima noite de nevasca?

Snowflakes | JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora