20. Pai Emprestado

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14 de fevereiro de 2018

André

Depois de ter feito companhia à Raquel durante o seu almoço – um momento que foi bastante agradável e leve, sem chatices nem complicações, simplesmente a conversar como dois amigos -, regressei a casa dos meus pais enquanto ela foi às compras. Como prometido, ela mandou-me agora mensagem a dizer que ia buscar o Santiago à escola e que o deixava aqui dentro de breves minutos.

- Vais voltar a sair? – a minha mãe questiona ao ver-me pegar nas chaves de casa, do carro e na carteira.

- Sim. A Raquel vai trazer aqui o Santiago para irmos passear. – explico e ela assente, mas eu percebo que há algo que ela quer dizer mas não diz – Diz lá o que é que estás para aí a pensar, mãezinha.

- Nada, André. – ela tenta disfarçar, mas a forma como eu olho para ela fá-la perceber que não vale a pena mentir – Gosto de vos ver comportar-se como dois adultos que conseguem ser bons amigos, mas gostava ainda mais que vocês continuassem juntos... Nunca te vi tão feliz como quando estavas com a Raquel.

- Mãe, não vamos voltar a este assunto, pois não? Eu e a Raquel somos só amigos e é assim que vai continuar. Eu já me conformei com a ideia, por isso também te devias conformar. – afirmo. Olho através da janela, vendo o carro da Raquel parar – Bem, o Santiago chegou. Eu vou andando. Venho jantar. – aviso, deixando um beijo na sua bochecha antes de sair de casa.

Raquel está a tirar o Santiago do carro, com a sua cadeirinha, quando este me avista e corre na minha direção. Ao observar o bonito menino de sorriso matreiro e tão parecido com a mãe, eu constato que ele parece estar enorme desde a última vez que eu o vi. Claramente está mais alto e parece cada vez mais cheio de energia – já bem diferente do menino que visitei, pela primeira vez, naquele quarto do IPO.

- André! – ele exclama alto, acabando para saltar para o meu colo – Tive saudades tuas. – ele confessa e eu sorrio.

- Também tive saudades tuas, Santi. – declaro – Como correu a escola hoje?

- Correu bem. Estou a aprender o alfabeto. – ele diz-me e eu fico surpreendido. Não seria suposto ele só aprender isso no 1ºano? A Raquel parece ler os meus pensamentos, por isso apressa-se a explicar.

- Sabes como é o Santiago, sempre curioso sobre tudo e todos. Disse-lhes que queria conseguir ler os livros todos que elas tinham lá e queria sempre que elas lhe explicassem as palavras, então elas falaram comigo sobre começarem a ensiná-lo a ler e, obviamente, eu não me opus. – Raquel explica e eu assinto, sorrindo.

- Portanto, és o menino mais inteligente da tua sala. – observo e Santiago sorri, assentindo orgulhoso com o seu feito.

- Bem, acho que tens tudo o que é preciso. – Raquel diz, entregando-me a cadeirinha – Divirtam-se.

- Não queres vir connosco? – sugiro, completamente do nada. Nem eu tinha planeado esta pergunta.

- Desta vez eu passo. Preciso de ir arrumar aquela casa e sem essa criaturinha cheia de energia por perto é mais rápido. – ela brinca, sorrindo – Aproveitem a vossa tarde de rapazes. Até logo!

- Até logo, mamã! – Santiago despede-se.

- Mais logo entrego-o são e salvo. – garanto e Raquel assente, antes de entrar no carro e ir embora.

Nós vamos então até à garagem, onde está o meu carro, e eu logo coloco a cadeirinha do Santiago, sentando-o lá antes de entrar no meu lugar.

Segundas Oportunidades | André Silva ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora