Caindo na Tempestade

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Christian

Eu queria protegê-la dos monstros que a rodeavam, mas eu também sou um monstro. Um monstro que esta caindo a cada respiração dela, e o pior é que estou trazendo ela comigo.

As atitudes inseguras que Heloise tomava quando estava por perto só me deixam mais confuso. Ela tem medo de algo, alguém a fez muito mal antes de vir para Helston.

Eu conseguia ver da capela, o céu se fechando para mais um temporal, e lá estava ela, sentada debaixo do carvalho.

Continuei fumando meu cigarro, enquanto observava ela escrever alguma coisa no seu caderno. Mas ela parou quando Jeremy sentou ao lado dela. Dei uma última tragada no cigarro e sai da capela.

- Heloise. - gritei me aproximando dos dois.

- O que é Christian? Tem medo de que? - gritou Jeremy.

A vontade de quebrar aquele nariz empinado que só se metia onde não devia estava aumentando. Fechei meus punhos para bater em Jeremy quando Heloise se levantou.

- Vocês não pretendem brigar aqui não é? - Heloise perguntou colocando-se entre nós dois.

Ela estava com medo. Provavelmente, nunca havia me visto em uma briga, mas não a deixaria me olhar em meio de uma confusão. Heloise ainda era pura, eu tinha outras coisas para mostrar a ela ainda.

- Vem. - eu disse puxando a mão dela.

Levei-a para fora da escola, para longe de conhecidos olhos curiosos que fariam de tudo para sobre as nossas vidas.

Entramos no carro, enquanto dirigia tentava não pensar em Jeremy, eu tinha que tirar Heloise de perto dele, eu faria isso. Parei o carro na mansão, peguei a mão de Heloise e conduzi ela até meu quarto.

- Christian. - ela disse enquanto me via trancar a porta do quarto. - Christian. - ela gritou.

Virei para olhar como ela estava assustada. Caminhei para a janela, acendi o cigarro e comecei a fumar.

Eu tinha que ficar calmo, havia coisas em minha mente, coisas perturbadoras que poderiam assustar Heloise mais ainda.

- Christian. - ela disse se aproximando.

Então, eu senti o toque dela na minha pele, era um tipo de frenesí, uma sensação única que me fazia meu cérebro sentir um pequeno choque. Ao olhar para ela, veio a sensação de posse, Heloise era minha?

Como eu poderia pensar nessas coisas? Ela era minha irmã, ela...

Cheguei perto de Heloise, e ainda com raiva me lembrando de Jeremy tentando se aproximar dela.

- Eu te disse para manter distância dele.

- Mas o que Jeremy fez para você ter tanta raiva dele?

- Você confia em mim? - perguntei segurando as mãos dela.

Heloise ficou em silêncio. Ela estava com medo de mim?

- Você não respondeu minha pergunta Christian.

- responde. - gritei.

Heloise respirou fundo e finalmente respondeu

- Confio.

Caminhei até a cama e sentei-me. Segundos depois Heloise senta ao meu lado. Coloquei minha mão na perna quase nua dela, e passei minha mão pelo corpo dela, até chegar no rosto dela.

Heloise estava corando, seus olhos azuis estavam se perdendo, sua respiração estava falhando. Cheguei mais perto do rosto dela e a beijei.

Eu precisava sentir o beijo dela, mas eu precisava de muito mais dela, mas eu não podia fazer aquilo, e não faria naquele momento.

- Heloise. - eu disse intercalando nossos beijos. - É melhor você ir para o seu quarto. - conclui enquanto me levantava da cama.

Caminhei até a porta e abri. Heloise caminhou, mas antes que passasse pela porta, agarrei seu braço e a beijei.

- Até daqui a pouco.

Ela não disse nada, apenas saiu.

Heloise ainda estava aprendendo a se controlar, ela deixava seus sentimentos expostos perto de mim e isso era mais uma prova de o quanto eu sou capaz de dominá-la, e eu iria fazer isso.

Eu sai do quarto e fui para o jardim de inverno, minha mãe gostava de me levar todas os finais de tarde para recolher flores para colocar em um vaso que Janet comprava para enfeitar um dos quartos.

Há tempos que bloqueava qualquer lembrança, qualquer coisa que me lembrasse dela, mas desta vez, foi inevitável. A risada dela ecoou em minha mente como uma oração à Deus.

Eu tinha que evitar tudo isso, cada vez que eu recordava do cheiro... da voz... dos olhos dela... eu amo os olhos dela, aquele lindo para de olhos castanhos escuros e misteriosos acendiam algo em mim... algo que eu sempre neguei a mim mesmo.

Desde a última vez que vi o rosto dela, toquei na mão dela, senti o perfume dela, ouvi a voz dela. Aquela última coisa que ela havia me dito antes de passar pela porta da frente com a mala em uma mão e uma rosa na outra, me assombrava todas as noites.

Heloise, os olhos dela me lembravam os olhos daquela mulher que um dia eu chamei de mãe, mas apesar de tudo, eu não poderia compará-las, nem me lembrar dela. Aquela mulher me abandonou quando eu mais precisei dela, e me deixou com um monstro.

O meu coração estava batendo acelerado, tão rápido que foi possível trazer à tona a lembrança de todas as cores, e todas promessas que ela fez, enquanto outra parte de mim só conseguia enxergar Heloise. Naquele momento o tempo parou, há beleza em tudo o que Heloise é, e cada suspiro, cada momento com ela me trouxe aqui em meio à um dilema.

Eu tento lavar os machucados e as cicatrizes que meu passado deixou dentro de mim, mas eu não era tão frágil, nem tampouco consumido, e agora estou coberto pelos destroços de uma infância conturbada.

Agora eu vejo que Heloise dá-me o suficiente para somente sobreviver, basta um sorriso dela para eu ter as forças que eu preciso para seguir em frente. A única pergunta que eu tenho é se o tempo trará o coração dela para mim.

Tenho tentado esconder meu coração na minha manga para não demonstrar a verdade, e farei isso até quando eu tiver uma saída para esse passado que só me quebra por dentro todas as vezes que eu ouso em me lembrar dela. Eu queria ter aprendido melhor sobre como não me entregar, acho que deveria ter aprendido a mentir um pouco melhor.

"Eu busco nela, por um escudo contra a tempestade."


1032 palavras

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