Capítulo 02 - Além da Floresta

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   Uma grande floresta de árvores muito alta se estendia até onde se podia ver. Sem acreditar em seus olhos, Ananda estende sua mão para além da porta e não sente tocar em nada como esperava que acontecesse, então avança um pouco mais e fica no limiar da porta para olhar melhor para aquele lugar. Por um breve instante, achou que poderia estar sonhando, mas descartou esta ideia imediatamente pois tudo ali era muito real, o cheiro da natureza que a poucos minutos lhe agraciou, a brisa que balançava seus cabelos e o raio de luz que cruzava a copa das árvores e atingia seu rosto. Tudo ali lhe era muito real. Atraída pelo encanto daquele lugar, toma coragem e dá um passo em direção a floresta. O chão era bem macio pois era gramado, pelo menos no começo, já que depois de uma certa distância da porta, folhas secas cobriam o chão. Ananda caminha por aquele lugar totalmente atenta às coisas ao seu redor, embora não avistasse sequer um único animal. Após se distanciar um pouco, um pensamento amedrontador vem a sua mente, e se vira para ver se sua casa ainda estava ali. A porta da cozinha ainda estava aberta e podia-se ver tudo que havia lá dentro, mas ao invés de sua casa, a maior árvore que ela já vira em toda sua vida estava no lugar. Era tão alta quanto as outras, mas seu tronco devia ter um diâmetro do tamanho ou até mesmo maior que o da sua casa. A porta dos fundos estava perfeitamente fixada no tronco da árvore, e a visão de seu interior fazia ela parecer oca, porém entalhar um buraco tão grande em uma árvore deveria matá-la ou a deixar debilitada, só que bastava olhar para os galhos da árvore e suas folhas para ver que ela transbordava de vitalidade e era muito forte.

   – Como isto é possível? E por que algo tão fantástico me parece... familiar? – Ananda faz estas pergunta a si mesma, com sua inquietação, memórias do passado lhe vem à mente e ela se imagina pequenina ao lado de sua tia em um bosque com árvores de folhas alaranjadas, estas que ela via agora não tinham folhas laranja, entretanto Ananda sentia em seu coração que aquele era o mesmo local que uma vez Natalia a levou para um piquenique – Eu sempre achei que havia sonhado com este lugar – E então sorri maravilhada com aquilo tudo, de alguma forma tinha cruzado um portal para um lugar muito distante de seu lar. Ela só não tinha ideia do quanto.

   Apegada a um instinto que os humanos desenvolveram com a criação e a evolução das ciências, instinto este que visa encontrar e se agarrar ao máximo de lógica possível diante de uma situação surreal, sem ao menos pensar muito a respeito deduz que estava em algum bosque na Europa, afinal fazia muito sentido, em países onde neva durante o inverno as folhas das árvores ficam laranjas e caem durante o outono, a casa de sua tia lembrava muito a arquitetura de algumas casas Europeias que ela já havia visto em filmes e na internet, ao julgar por várias coisas que Natalia possuía como alguns enfeites da casa e a decoração, ela obviamente foi influenciada por alguma outra cultura que não era brasileira e com esta descoberta mágica, um outro fator vem a sua mente e Ananda sente que entende a situação. Sua tia devia ser uma bruxa, é claro! Por que não? Durante um bom tempo era assim que sua mãe a chamava e foi por isto que as duas brigaram.

   Foi durante o aniversário de 23 anos de sua tia. Cecília havia decidido fazer uma surpresa e sem avisar, junto a Ananda e seu marido, viajaram de carro para a casa de Natalia. Chegando lá, eles avistaram luzes acesas e deduziram que ela estava em casa. Cecília tinha uma cópia da chave da casa de sua irmã, assim não viu problema algum em destrancar a porta o mais silenciosamente possível, e junto aos outros dois abriram de uma vez gritando – SURPRESA! – O que Cecília não esperava é que Natalia estivesse com companhias tão peculiares em uma confraternização que para ela era muito macabra. Homens e mulheres de mãos dadas, formavam um círculo na sala enquanto de olhos fechados entoavam um cântico repetitivo em um idioma desconhecido, os homens vestiam túnicas cinzas e tinham barbas e cabelos que pareciam não ter sido feitas e cortadas há anos. Alguns até há décadas devido ao tamanho e a cor grisalha. Enquanto as mulheres usavam vestidos que também eram cinza, mas diferente dos homens, todas elas eram belas e joviais, apesar das feições e do corpo de mulher madura, no centro deste círculo estavam 3 pessoas, um homem e uma mulher que vestiam as mesmas roupas dos demais, com a exceção de que suas roupas eram brancas. Eles estavam com suas mãos apoiadas nos ombros de uma mulher totalmente desnuda, que tinha em sua pele vários símbolos pintados em cor vermelha, com terror, tristeza e um pouco de repulsa, Cecília viu que a mulher com pinturas em sua pele era sua própria irmã. Mesmo com o grito que tinha sido razoavelmente alto, a concentração daquele grupo no que estavam fazendo era tanta que levaram uns 3 segundos para notarem a família que os encarava da porta, ao abrirem seus olhos por uns instantes eles brilharam com uma luz branca azulada, o que causou ainda mais medo em Cecília, seu marido e até mesmo a Ananda que era nova demais para entender o que se passava, mas que sentiu medo ao ser olhada por tantos olhos brilhantes. Natalia levou dois segundos a mais para entender o que se passava, pois sua concentração era maior que a dos demais, e quando ela finalmente olhou para a porta à sua direita, ela viu os rostos apavorado de sua família. Ao ver que finalmente havia sido notada por sua irmã, Cecília pega Ananda e seu marido pelo braço e os leva de volta para o carro, Natalia se levanta para ir até sua irmã tentar se explicar, mas ela ouve seus colegas falarem enquanto se levantam rapidamente para ir atrás deles e imediatamente ela se põe na frente deles e começa a se explicar enquanto ouve o som do carro do seu cunhado ligar e se afastar de sua casa. Após este incidente, inúmeras vezes Natalia tentou se explicar para Cecília, mas sua irmã se recusava a aceitar qualquer explicação, nutrindo uma amargura que durou anos.

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⏰ Última atualização: Sep 04, 2019 ⏰

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