O primeiro sentimento que teve foi a sensação de acordar. Mas não aquele despertar imediato que muitas pessoas tem. Com Árthur foi diferente. Despertou com um grande pesar sobre o corpo.
Assim que se sentiu acordado, algo de estranho começou a acontecer. Sentiu uma mão tocar em suas costas e começar a puxar o edredom para baixo. A princípio imaginou que fosse sua esposa, Clara, que queria algo a mais naquela madrugada, entretanto a sensação de peso sobre seu corpo continuava e nenhum carinho veio de Clara naquela noite.
Tentou virar o corpo, porém seus membros não o obedeciam. Seus braços estavam imóveis, suas pernas, nem conseguia sentir. O pescoço não respondia ao comando de erguer-se.
Árthur então, tomou a pior decisão que alguém que estava vivendo aquilo poderia tomar: abrir os olhos.Ao abrir os olhos, começou a ver alguns vultos pelo quarto. As silhuetas corriam de um lado para o outro, escondiam-se atrás dos móveis e aproximavam-se dele vagarosamente.
Muitas delas tinham os olhos vermelhos cor de sangue o que deixava o ambiente ainda mais sinistro e aterrorizante.O coração de Árthur já palpitava muito forte.
— O que está acontecendo? — pensava ele.
Árthur nunca foi de acreditar que existissem essas coisas espirituais como as pessoas dizem ou como as religiões afirmam ser verdade. Entretanto, tudo aquilo que estava acontecendo ali, não parecia nem um pouco ser coisa do mundo físico.
Uma daquelas silhuetas de olhos púrpura se aproximou e subiu sobre a cama. Árthur conseguiu sentir o exato momento em que aquilo, seja lá que fosse, sentou sobre suas costas e começou a balbuciar palavras inteligíveis em seu ouvido.
As sensações pioraram ainda mais. Sentia o coração bem apertado e seus membros eram retorcidos, como alguém que pega um pano molhado e quer secá-lo.
Tentou gritar.
Sua boca escancarou-se o máximo que podia, contudo, a única coisa que conseguiu foi perder todo o ar que tinha nos pulmões, pois seu grito não passou de um fino e baixo gemido que, demonstrava medo e terror.
Até agora, tudo o que Árthur estava vivendo, era definido pelos médicos e especialistas da área, como Paralisia do Sono.
A paralisia do sono é um estado em que seu corpo não está completamente acordado, mas sua mente está e você também não está sonhando ou tendo um pesadelo. Então, todos os seus medos que estão em seu subconsciente vem à tona para lhe assombrar, porém, no máximo dois minutos depois que se inicia, encerra-se imediatamente, da mesma forma que iniciou.O problema é que a paralisia do sono de Árthur não cessou ali.
O vulto que estava cochichando em seu ouvido enfiou uma das mãos através da sua barriga e começou a abri-la. Sentiu a dor de ter as vísceras expostas. Tentou gritar, porém novamente, sua garganta não produziu nenhum decibéis de volume.Dois outros vultos se juntaram ao primeiro, sobre a cama, e torturaram Árthur por cerca de meia hora. Arrancavam tufos de cabelo, enfiavam suas garras pontiagudas por debaixo das unhas ou entre as costelas, perfurando-o e ferindo-lhe de várias outras formas que, vão minando as forças do torturado.
Arthur tentava se debater, se livrar a todo custo daqueles demônios sombrios, porém, seus movimentos se restringiram a manter os olhos abertos enquanto via-os divertirem-se ou, manter os olhos fechados para, somente, sentir a dor sem ver de onde vinha.
Depois de todo esse tempo, as duas silhuetas que chegaram por último, recolheram-se para as sombras, para trás do guarda-roupa da família, restando apenas aquele que tinha cochichado no ouvido de Árthur.
Este, enfiou novamente as garras para dentro do corpo de Árthur, porém dessa vez, a mão não arrancou nem feriu nenhuma parte de seu corpo, mas alcançou-lhe a alma.
A mão adentrou o peito de Árthur e foi direto para o coração, arrancou dali toda a vontade de viver, todos os planos, sonhos e projetos. Arrancou todo o passado, todas as lembranças boas permanecendo só as ruins. Os sentimentos de empatia, simpatia, humildade, sinceridade e tantos outros sentimentos, que nos fazem conviver amigavelmente em sociedade, foram arrancados de si.
Quando só lhe restavam coisas ruins, sentimentos maléficos, o vulto ficou em pé e terminou de puxar a alma, a essência da vida de Árthur, de dentro dele, pondo fim a vida daquele jovem.Na manhã do outro dia, Clara acorda desesperada ao ver toda a cena do suicídio do marido. O mesmo tinha escrito uma carta despedindo-se e logo depois escrevê-la, abriu as próprias vísceras, com uma faca de cozinha que jazia ao lado de sua mão esquerda, arrancando tudo o que tinha dentro e colocado sobre a cama.
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Paralisia do Sono [DEGUSTAÇÃO]
Korku3º Lugar no Concurso Estrelado - Categoria TERROR Menção Honrosa no Concurso da Editora Sapeca - - Alguma vez na vida você já teve a sensação de estar meio acordado, meio dormindo e começar a sentir várias coisas estranhas, ver coisas que não existe...