Na saúde, na tristeza, na alegria e na cama

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As ruas, geralmente movimentadas, da sinuosa cidade de Guri encontravam-se desertas. O silêncio, acolhedor para uns e tortuoso para outros, fazia-se presente naquele horário tão tardio. A passos vagarosos, a jovem moça vagava, perambulando pelas ruas e avenidas em busca de algum estabelecimento aberto.

  Queria embriagar-se. Encher a cara com o tão fraco álcool, que era vendido por ali, porém, às 3:48 da madrugada, não conseguiu achar nem uma lojinha de conveniência aberta. Resolveu sentar-se numa calçada qualquer quando suas pernas já reclamavam de dor pela extensa caminhada a qual se submetera.
 
  Olhou para seu relógio de pulso e reparou que já se passava das quatro. A insônia resolvera  assolá-la logo naquela noite, a qual desejara apenas dormir e não mais despertar. Havia trabalhado o triplo do de costume, apenas por puro ódio. Quando chegou a seu apartamento tratou de fazer seu costumeiro ritual do sono, que não funcionou, pois, virava-se inquieta na cama sem conseguir pregar os olhos.

  Levantou-se da cama frustrada, trocando de roupa e pôs-se a sair do prédio que morava. Durante sua longa caminhada, as lembranças resolveram atormentar-lhe o juízo. Sentia a falta dele.

  Haviam se conhecido através de amigos em comum, e logo desencadearam uma bela amizade. Kim Minseok era para si um dos melhores acontecimentos em sua pacata vidinha.

  Pouco depois de se tornarem amigos ela pegou-se totalmente encantada pelo rapaz de feições delicadas e tão belo a seus olhos apaixonados, e não hesitou em expor seus sentimentos para o outro. Não demorou muito, e eles já encontravam-se em um relacionamento, o qual foi altamente reprovado pelos pais do jovem Minseok.

  Na concepção dos mais velhos, aquela senhorita estrangeira não era bem vista, e não poderia ser o suficiente para o primogênito deles. Logo, trataram de perseguir e a bombardear de ofensas a pobre moça, que estava a vivenciar uma guerra com Minseok por causa dos pais do rapaz que, cego pelas mentiras da mãe, os defendia com unhas e dentes fazendo coração de sua amada despedaçar-se.

  Dois meses depois, já não aguentavam mais tantas discussões. O namoro tão bonito e afetuoso, tornou-se tóxico e insuportável para o jovem casal que acabou por romper seus laços.

  Os pais de Minseok logo trataram de arranjar um casamento para o filho, não queriam correr o risco de deixá-lo voltar para as "garras" da megera estrangeira a qual tanto repudiavam. Devastado com o fim que relacionamento levou, não se opôs a proposta de seus progenitores e, em menos de 3 meses, já encontrava-se noivo e de casamento marcado como uma jovem que mal vira durante o curto espaço de tempo entre o namoro e o noivado.

  Sentia seu peito doer a cada vez que a imagem de sua atual ex invadir seus pensamentos. Estava com saudades dela, e a cada lembrança de seus momentos juntos, desde o mais singelo até o mais íntimo, o vazio dentro de si crescia cada vez mais.

  A jovem moça não encontrava-se diferente de seu amado. Os dias pareciam passar mais lentamente, as noites eram mais frias, regadas pelo choro silencioso e pela solidão que se instalava em seu quarto, que antes era alegre e aconchegante e agora era vazio e melancólico.

  Seis meses já haviam se passado desde o término do casal, quando a moça recebeu um cartão no meio de seu expediente. Abriu o envelope branco e dourado deparando-se com o convite, as letras delicadas e cursivas anunciavam o casamento de Minseok, fazendo-a cair sentada em sua cadeira, estupefata demais para manter-se em pé, a sentir as grossas lágrimas rolarem por seu belo rosto.

  O "deveria ser eu" ecoava insistentemente em sua mente, fazendo-a soltar um grunhido irritadiço. Já se passava das 5 horas e, com muito custo, levantou-se da calçada a qual sentara e perambulou mais um pouco. O sol a nascer timidamente no horizonte. Deparou-se com um pequeno estabelecimento aberto, o adentrou e pediu um expresso ao senhorzinho do balcão. Ficou a bebericar o líquido negro e fumegante sentindo seu amargor o qual não se comparava ao sabor acre que se instalara dentro de si.

  Ficou ali por mais um tempo, até que mirou o relógio pendurado na parede do pequeno bar. Eram 7:45. Não queria ficar ali. O casamento iniciar às 8 horas, não poderia ficar ali parada a se martirizando enquanto seu amado estava prestes a casar-se com outra.

  Num súbito de coragem a moça levantou-se do banquinho e pagou a conta às pressas. Tomou um breve impulso e pôs-se a correr. A igreja onde ocorreria o matrimônio não era perto, mas também não era de todo longe. Os pés cansados doíam mais a cada pisada, mas não pararia, não enquanto não chegasse lá.

  Sua mente trabalhava loucamente enquanto o coração disparava, batendo ensandecido dentro de seu peito. Logo a fachada do prédio sagrado entrou em seu campo de visão, era agora ou nunca. Adentrou na igreja em um rompante, logo no momento em que o padre proferia a tão famosa frase:

  – E se há alguém que tiver algo contra esta união, que fale agora ou cale-se para sempre.

– Eu protesto! - gritou a jovem moça a plenos pulmões, totalmente esgotada e ofegante pela longa corrida que fizera, parando no meio do tapete escarlate estendido sobre o piso sagrado da igreja.

E lá estava ele, e estava mais deslumbrante do que nunca. Vestido num terno negro que lhe caía como uma luva, Minseok a olhava ainda perplexo demais para ter qualquer reação.

– E qual o motivo de vosso protesto, minha jovem? - perguntou-lhe o padre, que matinha em seu rosto uma expressão serena.

E quando iria abrir a boca para falar, a moça foi bruscamente interrompida pela genitora de seu amado.

– Não! - gritou ela – Tu não irás estragar tudo! Vá embora daqui. Continue a cerimônia, padre! - exclamou exasperada.

– Não! - finalmente Minseok voltou a si, recuperando-se do choque inicial – Eu quero ouví-la.

– Meu filho, já estás aqui. Para que dar ouvidos às asneiras que essa estrangeira tem a dizer? Sua noiva está aí, e é com ela que deves ficar! - desesperada a senhora interviu novamente tentando convencer o filho a acabar de vez com todo aquele show.

– Mamãe! - exclamou Minseok, indignado.

– Silêncio! - esbravejou o padre, que já havia perdido sua santa paciência – Deixem que a moça fale.

Todos se calaram e a igreja ficou silenciosa, até o silêncio finalmente ser quebrado pela voz embargada da jovem moça.

– Por todos esses meses eu refleti. - começou ainda um pouco embolada pelos soluços – Eu o deixei escapar, deixei que todas aquelas brigas acabassem com nosso relacionamento, mas, Minseok, em nenhum momento eu me esqueci de você. A falta que tu fazes em minha vida é imensa, e já não suporto mais ficar longe de ti. Percorri esta cidade toda apenas nessa madrugada, me martirizando por não ter tido coragem o suficiente para correr atrás de ti antes.

– Então... Por que estás aqui agora? - indagou Minseok, a tristeza em sua voz chegava a ser palpável.

– Porquê eu te amo, Minseok. - soltou um pouco mais baixo, mirando no olhos bonitos do rapaz e vendo as pequenas lágrimas tomando forma em seu belo rosto – E não importa o que eu faça, eu sei que não vou conseguir seguir sem você e tu também sabes, pois é a mim, Minseok, apenas a mim que tu amas.

Minseok soltou as mãos de sua noiva e desceu do altar, mas foi interrompido por sua mãe.

– Meu filho, não faças isso. Se o fizeres não o terei mais como meu filho. Eu não mandei enfeitar essa igreja e nem chamei todos esses convidados para que você me faça esta palhaçada! - raivosa, a senhora Kim segurava seu filho pelo colarinho, o empurrando e batendo em seu peito.

– Que se fodam os convidados! - Exclamou a jovem moça, logo arrependendo-se ao ver a careta estampada no rosto do padre – Desculpe, padre.

– Viu só? Ela ao menos tem respeito às coisas sagradas, meu filho. Não abandone o casamento por causa de uma desvalida feito ela!

– Me desculpe, mãe, mas eu não me importo. - Minseok soltou-se das mãos de sua mãe e caminhou até a moça ainda parada no meio da igreja.

  Ele segurou suas mãos e as beijou, sorrindo sincero pela primeira vez em meses, surpreendendo a todos, menos o padre.

– Minseok... Eu... - ela balbuciou, mas o rapaz lhe pôs o dedo indicador em frente aos lábios para que não falasse.

– Por todos esses meses, eu achei que tinhas desistido de mim. Dei ouvidos a minha mãe e aceitei esse casamento, mas... Em momento algum eu realmente o quis. - ele levou sua destra até o rosto da jovem, depositando ali um breve carinho. – Eu nunca a esqueceria, meu amor. E que, realmente, fodam-se esses convidados, essas flores, esses laços. É tudo uma mentira e que dane-se esse maldito teatro!

Minseok então virou e olhou mais uma vez para sua mãe.

– Mãe, eu não vou aceitar mais suas ofensas e mentiras contra ela, mesmo que não me consideres mais como seu filho. Eu a amo, e isso não vai mudar.

Minseok tirou a aliança dourada de seu anelar, a jogou para longe e olhou para sua - agora- ex-noiva.

– Me desculpe por isso, BaekHee. Apesar de tudo, você não tem culpa pelas burradas da minha mãe.

E então Minseok voltou-se para ela e, finalmente, selou os lábios de sua amada, numa promessa muda de que não iria mais embora. Segurou em sua mão e puxou correndo pelo extenso corredor daquela igreja e fugindo dos olhares julgadores de todos, exceto do padre. No final, era apenas ela que ele queria na saúde e na doença, na alegria, na tristeza e na cama, até que a morte os separasse. Ou talvez, nem ela.

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Nota da autora:
Foi isso galerinha sksksksk, espero que tenham gostado. :*

É a mim que você amaOnde histórias criam vida. Descubra agora